COPA DO MUNDO – 1938

3.3 III (3ª) COPA DO MUNDO (1938)

FRANÇA

 

3.3.1 – POR QUE NA FRANÇA?

Período de realização: 04 a 19 de junho de 1938

Dos países que integram a Europa, a França é um dos mais fascinantes por quaisquer aspectos que se queira estudá-lo políticos, econômicos, sociais. Falar da França lembra o auge do absolutismo expresso na figura do Rei Luiz XIV, que questionado sobre o controle do poder respondeu: “L’Etat c’est moi” (O Estado sou eu), expressão essa que simboliza a plenitude da concentração do poder nas mãos de uma só pessoa (rei, soberano), não se sujeitando a qualquer controle e/ou responsabilidade, uma vez que a fonte ou legitimidade do poder seria dada por inspiração divina.

Por outro lado, a França lembra, também, os filósofos iluministas (Rosseau, Montesquieu), e John Locke (inglês) cujas ideias serviram para deflagrar a Revolução Francesa de 1789, sob o lema: Liberdade, Igualdade e Fraternidade, que aliada à concepção de que o poder deveria ser exercido de forma racional por órgãos e/ou funções próprias (Executivo, Legislativo e Judiciário), contribuiu juntamente com os postulados da Revolução Americana, para moldar o Estado Moderno e exercer influência em todo o mundo ocidental.

Esses e outros eventos, por si sós, já justificariam levar para a França qualquer evento, cultural ou esportivo, particularmente a Copa do Mundo, pois ir à França era, ante de tudo, estar no centro cultural do mundo. Paris, à época, tinha 2,8 milhões de habitantes, era a capital mundial da moda, das artes e da intelectualidade. Falar francês era chic, o idioma do mundo culto e da diplomacia.

  A história da França remonta a 2.000 aos atrás, quando um povo de origem celta se estabeleceu no centro da Europa numa colônia chamada Gaul, daí porque os franceses são também conhecidos por gauleses. Os romanos, porém, latinizaram o nome da região para Gália, dando origem por derivação a outras palavras, como galo, galinha. O galo, ave da região, provavelmente por cantar alto, acordar cedo, mandar no terreiro, ser altivo, etc. se tornou um dos símbolos nacionais da França, daí porque a Seleção Francesa tem como distintivo um galo desenhado em sua camisa.

Passando ao futebol, questiona-se: dentre os motivos (futebolísticos, econômicos, políticos), quais seriam determinantes para que a França fosse escolhida para sediar o III torneio, não existiriam outros interessados?

Na verdade, os maiores interessados em sediar a 3ª Copa do mundo eram os argentinos, embora estes tivessem como fortes concorrentes a Alemanha, que sediara os Jogos Olímpicos em 1936 e queria, também, sediar o próximo torneio. A Argentina na disputa para sediar a Copa de 1930, tinha perdido para o Uruguai. Logo, para os argentinos, em função de a 2ª Copa ter sido na Europa (Itália), e, presumindo que a FIFA adotaria o rodizio América do Sul – Europa – América do Sul, tinham eles quase certeza que seriam os escolhidos para sediar a III Copa do Mundo.

Por outro lado, a FIFA não se ateve a esse critério, pois sob a influência do próprio Jules Rimet que, já em 1934, via como promissora a ideia de realizar a Copa na França (Paris) simultaneamente à Exposição Mundial (Exposição Internacional de Arte & Técnica da Vida Moderna), garantiria um grande afluxo de turistas e certamente estádios cheios na competição, o que, certamente, garantiria também recursos do governo francês para realizar a competição. Só havia um porém, qual seja, a exposição em apreço seria realizada um ano antes (1937), o que demandaria antecipar a Copa em um ano. Embora rechaçada tal ideia pelos países-membros da FIFA, ficou subentendido que o que se queria mesmo era homenagear Jules Rimet, que à época, tinha 64 anos.

A questão foi decidida durante as Olímpiadas de Berlim, em 13 de agosto de 1936, no 23º Congresso da FIFA, no prédio da Ópera Kroll a fim de escolher a próxima sede da Copa. Na reunião, o chefe da Delegação Francesa René Chevalier solicitou a palavra e lembrou aos presentes os grandes esforços do 1º presidente da entidade (Henri Delaunay) e do 3º (Jules Rimet), ambos franceses para que a Copa do Mundo se tornasse realidade. Assim, nada mais justo do que homenagear a ambos e, sobretudo Jules Rimet, dando a seu país de origem (França) o direito de sediar a III Copa do Mundo. Como Delaunay e Jules Rimet estavam presentes à reunião, os delegados se sentiram constrangidos em votar contra a referida proposta.

Contagem dos votos: França – 19; Argentina – 03 ; e Alemanha – 01 (dela própria, posteriormente repassado à França). Indignados, os delegados argentinos abandonaram o congresso e, um ano depois (1937) tomaram a decisão de não participar do torneio. Entre outras deserções, conforme se verá adiante, a III Copa do Mundo estava confirmada para a França (1938).

 

 

3.3.2 O PÔSTER DA COPA DE 1938

Um pé e uma bola, ambos em cima do globo terrestre, em tons avermelhados. Autor: Jean Desmé.

3.3.3 AS ELIMINATÓRIAS PARA A COPA DE 1938

Na Copa de 1938, de forma semelhante a anterior e, considerando o número de vagas (16) para disputar o mundial, houve o interesse de muitos países, sobretudo dos europeus, daí porque houve a necessidade da fase classificatória com a realização das Eliminatórias.

Na verdade, houve o interesse de muitos países europeus, todavia, por várias circunstâncias, a maioria dos países sul-americanos desistiu de ir à competição, forçando à FIFA a criar mais vagas para a Europa e a aceitar países sem expressão no futebol (Cuba e Índias Ocidentais Holandesas) para participar do torneio.

Para as 16 vagas oferecidas houve, a princípio, 33 países (América, Ásia e Europa) inscritos para disputar as Eliminatórias para a Copa do Mundo de 1938, porém, conforme ocorrera nas Copas anteriores (1930 e 1934) houve várias desistências antes mesmo do início do sorteio dos grupos.

Finalmente 24 países se declararam aptas a disputarem as 14 vagas disponíveis. 14 vagas? Não seriam 16? Sim, seriam 16, porém, considerando que o país-sede ou anfitrião (França) e o campeão anterior (Itália) já estariam previamente classificados, sobrariam somente 14 vagas a serem disputadas.

Seriam, como visto, 16 vagas, no entanto, na prática se tornaram apenas 15 vagas, uma vez que a Áustria, embora tenha obtido sua classificação legitimamente, por questões histórico-bélicas foi (antes da Copa) anexada pela Alemanha nazista e, assim, não pôde, de fato, participar do torneio, já que seus jogadores foram obrigados a defender a Seleção alemã.

Mesmo assim, outras quatro seleções se classificariam sem precisar entrar em campo, conforme se verá na análise dos grupos adiante.

Durante o período das Eliminatórias foram realizados 22 partidas e marcados 96 gols, média superior a 4,3 gols por jogo..

Semelhante ao Regulamento da Copa anterior (1934), os países inscritos foram divididos em 12 grupos conforme a região geográfica. Os grupos europeus com quatro seleções classificavam duas para a competição, enquanto os demais grupos com até três seleções classificavam apenas uma, com a exceção do Grupo 9: (Bélgica, Holanda e Luxemburgo), fazendo com que que a FIFA, devido a desistência da maioria dos países sul-americanos, criasse mais uma vaga para a Europa, classificando-se duas seleções no citado grupo: Bélgica e Holanda. Os demais grupos classificavam apenas uma seleção.

Assim, as Eliminatórias para a Copa de 1938, foram disputadas por meio de grupos. Houve a formação de 12 grupos, assim distribuídos:

Grupo  1: Alemanha, Suécia, Finlândia e Estônia

LOCAL

DATA

JOGOS/PLACAR

Estocolmo

16/06/1937

Suécia 4 x 0 Finlândia

Estocolmo

20/06/1937

Suécia 7 x 2 Estônia

Helsinque

29/07/1937

Finlândia 0 x 2 Alemanha

Turku

19/08/1937

Finlândia 0 x 1 Estônia

Koningsberg

29/08/1937

Alemanha 4 x 1 Estônia

Hamburgo

21/11/1937

Alemanha 5 x 0 Suécia

Classificadas: Alemanha e Suécia

Grupo  2: Noruega e República da Irlanda

LOCAL

DATA

JOGOS/PLACAR

Oslo

10/10/1937

Noruega 3 x 2 Rep. da Irlanda

Dublin

07/11/1937

Rep. da Irlanda 3 x 3 Noruega

Classificada: Noruega

 

Grupo 3: Polônia e Iugoslávia

LOCAL

DATA

JOGOS/PLACAR

Varsóvia

10/10/1937

Polônia 4 x 0 Iugoslávia

Belgrado

03/04/1938

Iugoslávia 1 x 0 Polônia

Classificada: Polônia(1)

Nota: (1) Tendo cada Seleção venceu uma partida a vencedora saiu pelo saldo de gols.

Grupo  4: Romênia e Egito

LOCAL

DATA

JOGOS/PLACAR

Fevereiro/1938

Egito (1) x Romênia

Classificada: Romênia

Nota: (1) Bem antes da realização da partida, em novembro de 1937, o Egito comunicou sua desistência à FIFA em participar das Eliminatórias.

Grupo  5: Suíça e Portugal

LOCAL

DATA

JOGOS/PLACAR

Milão

01/05/1038

Suíça 2 x 1 Portugal

Classificada: Suíça (1)

Nota: (1) Decisão feita em jogo único e campo neutro.

Grupo  6: Grécia, Palestina e Hungria

LOCAL

DATA

JOGOS/PLACAR

Tel-Aviv

22/01/1938

Palestina 1 x 3 Grécia

Atenas

20/02/1938

Grécia 1x 0 Palestina

Budapeste

25/03/1938

Hungria 11 x 1 Grécia

Classificada: Hungria (1)

Nota: (1) Pelo regulamento do grupo e de existir uma única vaga, a Grécia teve que enfrentar a Hungria que venceu de goleada.

Grupo  7: Tchecoslováquia e Bulgária

LOCAL

DATA

JOGOS/PLACAR

Praga

24/04/1938

Tchecoslováquia 6 x 0 Bulgária

Classificada: Tchecoslováquia (1)

Nota: (1) Houve um primeiro jogo, em Sófia, em que as duas seleções empataram pelo placar de 1 x 1.

Grupo  8: Letônia, Lituânia e Áustria

LOCAL

DATA

JOGOS/PLACAR

Riga 20/07/1937 Letônia 4 x 2 Lituânia
Kaunas 03/09/1937 Lituânia 1 x 5 Letônia
Viena 05/10/1937 (1) Áustria 2 x 1 Letônia
Classificada: Áustria (1)

Nota: (1) Apesar de a Áustria ser a vencedora do grupo não pôde participar da Copa de 1938. Motivo: em 11/03/1938, Adolf Hitler (austríaco de nascimento) invadiu a Áustria, que até o final de 2ª Guerra Mundial deixaria de existir como país/nação. Os principais jogadores da Áustria seriam incorporados à Seleção Alemã.

Grupo  9: Bélgica, Holanda e Luxemburgo

LOCAL

DATA

JOGOS/PLACAR

Roterdã

28/11/1937

Holanda 4 x 0 Luxemburgo

Luxemburgo

13/03/1938

Luxemburgo 2 x 3 Bélgica

Antuérpia

03/04/1938

Bélgica 1 x 1 Holanda

Classificada: Bélgica e Holanda (1)

Nota: (1) Em face da desistência de boa parte dos países do continente americano, a FIFA abril mais uma vaga para a Europa.

Grupo 10: América do Sul

Classificada: Brasil

Houve desistências, boicote e confusão da FIFA. O Uruguai não foi à França, em represália a ausência dos europeus na Copa de 1930. A Argentina, a princípio, teria que disputar um jogo de pré-qualificação contra Cuba, porém, a mesma foi solidária ao Uruguai e também desistiu. A Bolívia fez desistência expressa, enquanto a Colômbia foi colocada indevidamente pela FIFA para disputar as Eliminatórias no Grupo 11, junto com os países das Américas do Norte e Central. Sobrou o Brasil como classificado já que não aderiu o boicote.

Grupo 11: Américas do Norte e Central

Classificada: Cuba

Pelas regras da FIFA, da América do Norte, dois países (EUA e México) deveriam disputar entre si, tendo o vencedor que enfrentar o campeão asiático no jogo de pré-qualificação. A Colômbia mais quatro países da América Central (Cuba, Costa Rica, El Salvador e Suriname) jogariam um minitorneio para decidir quem enfrentaria a Argentina. Porém, os países, em cadeia, foram desistindo, inclusive o México, um dos favoritos. Na verdade, os jogos eliminatórios programados pela FIFA foram disputados em fevereiro de 1938, por meio de um torneio denominado Copa América y Caribe. Os EUA, sem confiança de que conseguiriam a classificação, não participaram. O México, apesar de ter vencido o torneio, não se animou para ir à Copa da França. No final, em face de a Argentina já ter desistido da competição, aliado ao fato de apenas Cuba ter enviado regularmente sua ficha de inscrição, a FIFA se resignou a aceitá-la como a única participante do continente centro-americano. Os EUA ainda receberiam o convite para disputar a vaga do Grupo 12 contra as Índias Ocidentais Holandesas.

Grupo 12: Japão e Índias Ocidentais Holandesas

Classificada: Índias Ocidentais Holandesas

Na disputa entre Japão e Índias Ocidentais Holandesas, certamente o Japão seria o classificado, porém fatos histórico-bélicos fizeram com que o país do sol nascente ficasse impedido de participar do torneio, em primeiro lugar, porque no ano anterior (fev./1937) se envolvera em guerra contra a China e, depois, estaria metido também na 2ª Guerra Mundial, juntamente com a Alemanha e a Itália (países do Eixo). Na tentativa de levar um país mais afeito ao futebol, a FIFA convidou os EUA para disputar a vaga com as Índias Ocidentais Holandesas. Os EUA chegaram a aceitar o desafio, inclusive com a data do jogo marcado entre as duas equipes (31 de maio de 1937), todavia, antes disso, os dirigentes americanos desistiram, tendo a FIFA que aceitar as Índias Ocidentais Holandesas como país classificado para participar do torneio sem precisar entrar em campo.

3.3.3.1 – As Seleções Ausentes: Uruguai, Inglaterra, Argentina e Espanha

O Uruguai, campeão da Copa de 1930, ainda não perdoara os europeus por boicotarem a 1ª edição da Copa do Mundo. Assim, repetiram a dose: não participaram das Eliminatórias para a Copa de 1938 (França). O fez, ressalte-se, em represália aos países europeus que não foram a I Copa do Mundo, tendo, portanto, boicotado o torneio pela segunda vez.

A Inglaterra, por sua vez, também não participou da fase classificatória para ir à III Copa do Mundo porque continuava a considerar a Copa do Mundo um torneio sem expressão. Além disso, o motivo principal era outro: desde 1928 a Inglaterra e os demais países que formam a Grã-Bretanha (Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales) se desfiliaram da FIFA em 1928 e só voltariam a ser reintegrados à entidade em 1946 e a participarem do Mundial, em 1950 (Brasil).

A Argentina, em função de ter sido preterida em favor da França como país-sede da competição, em protesto, os delegados argentinos presentes ao  Congresso da FIFA onde se deu tal escolha o abandonaram e, posteriormente, tomaram a decisão de não participar o torneio

A Espanha, por questão político-bélica interna, se viu envolta a partir de 1936, numa guerra civil sangrenta, que a impediu de participar da competição.

Houve, portanto, além da desistência da maioria dos países sul-americanos, a deserção de quatro seleções tradicionais do futebol que, assim procedendo, deixaram o caminho menos difícil para que a Itália, com uma boa Seleção (renovada) se tornasse bicampeã mundial de futebol.

3.3.4 OS ESTÁDIOS PARA A COPA DE 1938

Na Copa de 1938, foram utilizados os seguintes estádios:

ESTÁDIO

CIDADE

INAUG. (1)

CAPAC. (2)

JOGOS

Olympique Colombes

Paris

1924

42.000

3

Vélodrome

Marselha

1937

36.740

2

Parc des Princes

Paris

1897

34.000

3

Parc Lescure

Bordeaux

1938

26.000

3

Cavee Verde

Le Havre

1924

24.900

1

Meinau

Estrasburgo

1914

23.000

1

Chapou

Toulouse

1928

22.000

2

Victor Boucquey

Lille

1914

15.000

1

Auguste Delaune

Reims

1931

  9.500

1

Fort Carré

Antibes

1920

  8.000

1

Total

10

241.140

18

 

3.3.5 AS SELEÇÕES  CLASSIFICADAS PARA A COPA DE 1938

Para a Copa de 1938 foram classificadas 16 seleções, dos seguintes países: Alemanha, Áustria, Bélgica, Brasil, Cuba, França, Holanda, Hungria, Índias Ocidentais Holandesas, Itália, Noruega, Polônia, Romênia, Suécia, Suíça e Tchecoslováquia.

As seleções, por continente, estão representadas da seguinte maneira:

Continentes

Europa

América do  Norte e Central

América do Sul

Ásia

P

 

A

 

Í

 

S

 

E

 

S

Alemanha

Cuba

Brasil

Índias Ocid. Holandesas

Áustria (2)

 

Bélgica

França (1)

Holanda

Hungria

Itália

Noruega

Polônia

Romênia

Suécia

Suíça

Tchecoslováquia

Total = 16

13

01

01

01

Total = 16

13

03

Percentual

81,25%

6,25%

6,25%

6,25%

Relação (%)

Europa/Demais

Continentes

 

81,25%

 

18,75%

Notas: (1) França – país-sede. (2) Áustria – figurou apenas formalmente. Na prática, não participou, pois em face de ter sido anexada pela Alemanha nazista, deixando de existir temporariamente como país, seus melhores jogadores foram obrigados a defender a Seleção alemã.

Como se vê, diferentemente do 1º mundial (1930), e semelhante à 2ª competição (1934) a Copa de 1938 foi a Copa dos europeus, com 13 países, representando mais de três quartos dos países participantes (81,25%).

3.3.6 OS GRUPOS DA COPA DE 1938

Não houve a formação de grupos. De forma semelhante ao que ocorrera na Copa de 1934 (Itália) adotou-se, na verdade, uma fórmula esdrúxula na 1ª fase (oitavas-de-final), de modo que as 16 seleções fizeram apenas um jogo decisivo tipo mata-mata, ou seja, quem ganha fica, quem perde, volta para casa.

Na referida fórmula, foram escolhidas oito seleções (supostamente as mais fortes) como cabeça-de-chave a disputarem os jogos com as oito seleções restantes (supostamente mais fracas).

Entre o grupo das Seleções “fortes” estavam: Itália, Brasil, Áustria, Alemanha, Hungria, Tchecoslováquia e Argentina. As demais, entre as quais estava Cuba, foram consideradas integrantes das seleções “fracas”. Para a composição das partidas entre “fortes” e “fracas”, realizou-se um sorteio entre estas últimas.

Para adotar tal procedimento o Comitê Organizador Local da Copa de 1938 reuniu-se em janeiro daquele ano, quando húngaros, tchecos e argentinos ainda não haviam garantido suas classificações, razão pela qual Cuba acabou por herdar a posição de “forte” em face de a Argentina ter desistido de participar da competição.

3.3.7 OS JOGOS DA COPA DE 1938

Como não houve a formação de grupos, os jogos da 1ª fase serão discriminados apenas por cada etapa, data e placar, conforme segue baixo:

3.3.7.1 – Jogos das Oitavas-de-Final

JOGO

DATA

JOGOS/PLACAR

01

04/06/1938

Suíça 1 x 1 Alemanha

02

09/06/1938

Suíça 4 x 2 Alemanha (1)

03

05/06/1938

Brasil 6 x 5 Polônia (2)

04

05/06/1938

Itália 2 x 1 Noruega (3)

05

05/06/1938

França 3 x 1 Bélgica

06

05/06/1938

Tchecoslováquia 3 x 0 Holanda (4)

07

05/06/1938

Hungria 6 x 0 Índ. Oc. Holandesas

08

05/06/1938

Cuba 3 x 3 Romênia

09

05/06/1938

Cuba 2 x 1 Romênia (5)

Nota: (1) Como o 1º jogo foi empate no tempo normal e na prorrogação, o Regulamento mandava que fosse realizada uma nova partida. (2) Este jogo foi 4 x 4 no tempo normal. Na prorrogação o Brasil fez 2 x 1. (3) Este jogo foi 1 x 1 no tempo normal. Na prorrogação a Itália fez 1 x 0. (4) Este jogo foi 0 x 0 no tempo normal. Na prorrogação a Tchecoslováquia fez 3 x 0. (5) Como o 1º jogo foi empate no tempo normal (2 x 2) e na prorrogação (1 x 1), o Regulamento mandava que fosse realizada uma nova partida.

3.3.7.2 – Jogos das Quartas-de-Final

JOGO

DATA

JOGOS/PLACAR

01

12/06/1938

Suécia(1) 8 x 0 Cuba

02

12/06/1938

Hungria 2 x 0 Suíça

03

12/06/1938

Itália 3 x 1 França

04

12/06/1938

Brasil 1 x 1 Tchecoslováquia (2)

05

14/06/1938

Brasil 2 x 1 Tchecoslováquia (3)

Nota: (1) Pelo Visto, a Suécia arranjou um atalho, pois não há registro de que a referida Seleção tenha feito jogo nas oitavas-de-final, passando diretamente para as quartas-de-final. (2) Devido à pancadaria que houve nessa partida, a mesma ficou conhecida como A Batalha de Bordeaux; (3) Como o 1º jogo foi empate no tempo normal (1 x 1) e na prorrogação (0 x 0), o Regulamento mandava que uma nova partida fosse realizada.

3.3.7.3 – Jogos das Semifinais

JOGO

DATA

JOGOS/PLACAR

01

16/06/1938

Itália 2 x 1 Brasil

02

16/06/1938

Hungria 5 x 1 Suécia

 

3.3.7.4 Disputa do 3º Lugar

JOGO

DATA

JOGOS/PLACAR

01

19/06/1938

Brasil 4 x 2 Suécia

 

3.3.7.5 Final Da Copa de 1938

JOGO

DATA

JOGOS/PLACAR

01

19/06/1938

Itália 4 x 2 Hungria

 

3.3.8 A PARTICIPAÇÃO DO BRASIL

Antes de se discorrer sobre a participação do Brasil na Copa de 1938, necessário de faz, de antemão, falar sobre as condições socioeconômicas, políticas e culturais do país à época.

3.3.8.1 O Brasil em 1938

A não ser no aspecto demográfico, onde o país de 39,9 milhões em 1934 passou para 44,1 milhões de habitantes em 1938, o Brasil pouco mudou nesse período, uma vez que continuava um país eminentemente agrário com 71% da população vivendo no campo e, sob o aspecto econômico ainda bastante dependente da exportação de um único produto – o café, que embora em proporção menor, ainda representava 45% da receita da pauta de exportação.

Apesar disso, Brasil dava os primeiros passos no sentido de se industrializar, começando, sobretudo, pelo Estado de São Paulo, que à época tinha 16% da população e concentrava 29% da indústria nacional.

No aspecto político houve um fato relevante ocorrido no ano anterior,  pois em 10 de novembro de 1937, Getúlio Vargas, contrariando o que estabelecia a Constituição de 1934, segundo a qual as eleições para Presidente da República deveriam ser realizadas diretamente e, sob a alegação da existência de  um plano comunista para derrubar o governo, com o apoio do Congresso Nacional instalou o Estado Novo, regime político sob o qual foram suprimidas as garantias constitucionais e instalou-se um regime ditatorial, exercendo doravante o papel de chefe de Estado vitalício.

Getúlio Vargas

(Chefe do Estado Novo)

No Nordeste brasileiro, uma região marcada pela seca, pelas injustiças sociais, pelo descaso dos políticos e/ou administradores públicos, um fato chamou a atenção do país e do mundo  –  a morte de Virgulino Ferreira da Silva mais conhecido como Lampião – o “Rei do Cangaço”. Lampião como chefe do cangaço na região, ludibriou a polícia de seis estados (Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Rio Grande do Norte, Paraíba e Bahia), durante 16 (dezesseis) anos, de 1922 a 1938.

Em 28 de julho de 1938, porém, na fazenda de Angico, em Sergipe, Lampião, Maria Bonita e mais nove cangaceiros foram emboscados e assassinados pela Volante do Tenente João Bezerra.

Lampião e Maria Bonita

Se para uns, Lampião foi herói (Hobin Hood da Caatinga) ou, para outros, foi vilão, bandido, não se entra no mérito dessa análise, pois cada um, diante dos fatos históricos relatados e, diante do que se tem hoje publicado sobre o assunto (via Internet, inclusive), pode tirar suas próprias conclusões .

As cabeças de Lampião, Maria Bonita e dos demais cangaceiros foram expostas em praça pública na cidade de Piranhas/AL para demonstrar o grande feito da polícia alagoana.

Lampião e bando mortos (degolados)

Uma coisa, porém, é certa: este e outros fatos correlatos, a exemplo da Guerra de Canudos (1897) retratada em Os Sertões por Euclides da Cunha, fizeram com que o Estado brasileiro (incluindo a elite intelectual, a burguesia, os donos dos meios de produção, etc.) chegasse à conclusão de que o Brasil não se resumia apenas ao eixo Rio-São Paulo ou às regiões Sul e Sudeste do país. Existia, também, outra Região, a Nordeste, castigada pela seca, pelo descaso, pela falta de assistência e presença das autoridades públicas, enfim pela falta e presença do Estado brasileiro.

As adversidades da Região já haviam sido retratadas no Romance O Quinze de nossa conterrânea, filha de Quixadá, Raquel de Queiroz.

E que, na época, em 1938, ganhou o reforço da obra Vidas Secas de Graciliano Ramos, mostrando para o Sul e o Sudeste do País a dura e cruel realidade da vida do povo sertanejo. Faz-se também alusão ao Livro Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda, publicado em 1936, que faz uma análise critica da formação do povo brasileiro.

No contexto do Estado Novo, portanto, a Seleção Brasileira que iria à França recebeu o apoio do Estado, até porque Getúlio Vargas soube tirar proveito do futebol em favor do novo regime, até porque sabia ele que uma boa participação do Brasil na Copa deixaria o povo feliz, contente, certamente, com o regime de governo.

Tanto é verdade, que foram tomadas pelo governo de Getúlio Vargas, por meio da CBD, iniciativas no sentido e ajudar o escrete nacional financeiramente, a exemplo da criação da Campanha do Selo, por meio da qual foram emitidos 100.000 selos com a frase “Ajudar o Scratch é dever de todo brasileiro”. A 500 réis cada unidade, vendeu-se uma quantidade de selos que importaram em 45 contos de réis, destinados a cobrir as despesas da Seleção na França.

Além disso, por força do engajamento do poder público nos preparativos para a Copa de 1938, a CBD, numa jogada política, nomeou Alzira Vargas, filha de Getúlio Vargas como madrinha da Seleção. Tudo isso, aliado a outros fatores, como a disposição do embaixador do Brasil na França, Souza Dantas ao se intitular o torcedor nº 1 assim que o Brasil desembarcasse na França (Marselha) e a disposição do jurista e diplomata Ruy Barbosa, que à época, prestava serviços à Embaixada brasileira na França, em colocar à disposição da Seleção, se requisitado fosse, sua oratória a serviço da Equipe, contribuíram, certamente, para que o Brasil tivesse um bom desempenho nos gramados franceses e, por pouco, conquistasse a Taça Jules Rimet., conforme se verá adiante nos demais tópicos.

3.3.8.2 Os prepaparativos do Brasil para a Copa de 1938

Os preparativos do Brasil para a Copa de 1938, de forma semelhante a das Copas anteriores foi recheada de problemas a serem resolvidos, entre os quais destaca-se a briga entre as entidades que defendiam o amadorismo e outras que defendiam o profissionalismo. Além disso, houve discussões acerca das regras condutas a que os jogadores deveriam se sujeitar durante a competição e sobre a premiação a ser paga aos jogadores. Enfim, problemas não faltaram, mas, desta feita, aparando as arestas, o Brasil conseguiria viajar com sua melhor formação e com a perspectiva de obter um melhor desempenho na competição, como de fato, posteriormente se verificou.

3.3.8.2.1 – O embate entre amadorismo e profissionalismo diminui

Diferentemente, pois, das Copas anteriores, onde em 1930 devido ao bairrismo entre cariocas e paulistas e na Copa de 1934, em face do confronto entre amadorismo e profissionalismo prejudicaram o desempenho da Seleção Brasileira no Uruguai (1930), na qual ficou em 6º lugar, e, na Itália (1934), pior ainda, quando fez um único jogo e perdeu, ficando em 14º lugar, separadas todas essas arestas, chegara a hora de o Brasil fazer um bom papel na competição.

Isso porque, o Brasil seguiria para a França com sua melhor formação. Não que não tivesse havido problemas a resolver. Problemas houve e não foram poucos, senão vejamos:

Em primeiro lugar, a questão da preparação para o mundial e a convocação dos jogadores. Na verdade, após a Copa de 1934, a Seleção Brasileira ficou praticamente dois anos sem atuar ou participar de algum torneio ou competição relevante.

O Brasil somente voltou a jogar oficialmente entre dezembro/1936 a fevereiro/1937, quando a Seleção Brasileira na Argentina (Buenos Aires), participou do Campeonato Sul-Americano (atual Copa América) e foi vice-campeã, enquanto a Argentina sagrou-se campeã, porém, num jogo tumultuado, realizado em 1º de fevereiro de 1937, no qual os jogadores brasileiros, ameaçados pela torcida, retiraram-se de campo, porém, obrigados a voltar por encontrar o vestiário fechado, não ofereceram resistência e a Argentina faturou o título.

Para participar do referido torneio, porém, o técnico brasileiro, Ademar Pimenta (do Madureira), em face de divergências entre a CBD e a LCF (Liga Carioca de Futebol), os melhores times do Rio de Janeiro (Fluminense, Flamengo, Vasco), não cederam seus jogadores para servir à Seleção.

No referido torneio, portanto, Ademar Pimenta contou apenas com jogadores de alguns times do Rio de Janeiro (Botafogo e São Cristóvão) e de  São Paulo, do Corinthians e do Palestra Itália (atual Palmeiras). Após a referida decisão, a Seleção somente voltaria a atuar oficialmente na Copa de 1938.

Registre-se, porém, que, em 1937, a CBD, sob a presidência de Luiz Aranha, voltou a assumir o comando do futebol brasileiro, ao reconhecer o profissionalismo e absorver, também, a dissidente FBF (Federação Brasileira de Futebol), presidida por José Maria Castello Branco, que, nomeado dirigente da CBD, foi o responsável pela Seleção que disputaria a III Copa do Mundo.

 

3.3.8.2.2 – O Brasil segue para a França com sua melhor formação

Resolvidos os conflitos entre tais entidades, passou-se a ter a expectativa de que o Brasil, podendo contar com seus melhores jogadores, pudesse fazer uma boa apresentação na III Copa do Mundo, até porque, devido ao bom resultado obtido pelo Brasil no Campeonato Sul-Americano na Argentina (1937), a CBD manteve Ademar Pimenta no comando técnico da Seleção Brasileira para disputar o torneio na França (1938).

Naturalmente que Ademar Pimenta, na árdua missão de convocar os melhores jogadores, esteve suscetível às influências extracampos no sentido de que convocasse esse ou aquele jogador, pois certos mesmo para integrar a Seleção na Copa de 1938 existiam apenas dois jogadores: Leônidas da SilvaDomingos da Guia, ambos atuando, à época, pelo Flamengo.

Em março de 1938, o técnico brasileiro fez uma relação de 34 jogadores para dar início aos treinamentos, dos quais seis foram reprovados após a avaliação médica. Entre esses jogadores estava Fausto, do Flamengo, que se destacou na Copa de 1930 (Uruguai), disputou ainda o Campeonato Carioca de 1938, porém, por questão de saúde (tuberculose) faleceu em 1939.

Ademar Pimenta foi pressionado, mas não cedeu, para convocar jogadores como Waldemar de Britto, do Flamengo, que se destacara na última Copa (Itália) e o atacante Carvalho Leite, do Botafogo, de 26 anos, que estiveras nas duas Copas anteriores (1930 e 1934). O Fluminense, por sua vez, exigia a convocação do zagueiro Santa Maria, enquanto o São Cristóvão reclamava a não convocação do goleiro Oswaldo.

Esperava-se, também, que os times de São Paulo reclamassem, porém, os principais jogadores paulistas, entre eles, Batatais, Jaú, Machado, Britto, Tim, Romeu e Hércules, todos convocados por Ademar Pimenta, tinham se transferido no ano anterior para o Rio de Janeiro, onde recebiam bons salários, tirando inclusive o interesse do Campeonato Paulista naquele ano.

Enfim, os 28 jogadores restantes foram deslocados para a estação de Águas em Caxambu (MG), onde, longe da cidade teriam tempo e paz para trabalhar. Tempo, sim; paz, nem tanto, pois os jogadores se hospedaram nos Hotéis Glória e Lopes, que funcionavam também como Cassino, que á época era atividade lícita, mas hoje é crime ou contravenção. A paz, portanto, reinou apenas em parte, pois, na maior parte do tempo, dirigentes de clubes iam para dar palpites nos treinos e na escalação.

Registre-se ainda que nos treinamentos, Ademar Pimenta pôs em campo para treinar dois times: um com a defesa “leve” e outro com a defesa “pesada”, fazendo o mesmo com o ataque, mesclando ataque e defesa, deixando, assim, jornalistas e dirigentes confusos sobre qual a forma de jogo que o técnico adotaria nos jogos da Copa.

A propósito, a Revista carioca Sport Ilustrado fez ao técnico Ademar Pimenta, antes dele partir para a França, a seguinte pergunta:

Revista: — O ataque que atuará na França será o leve ou o pesado?

Ademar Pimenta: — Ou um ou outro, ou a mescla dos dois.

Apesar da resposta, dada de pronto, a prática mostraria, nos jogos das quartas-de-final, que o técnico brasileiro estava correto, pois para prosseguir na competição teve, de fato, que utilizar dois times, conforme se verá adiante.

3.3.8.2.3 – O Brasil adota regras de conduta e premiação

Como em 1938, já se estava em “plena era profissional”, digamos assim, o que dava aos jogadores o direito de reivindicar salários (prêmios, bicho, etc.), a CBD, por meio do dirigente Castello Branco, publicou um conjunto de regras denominado de “Dez Mandamentos dos Jogadores do Selecionado Brasileiro”, sob o qual os atletas, a fim de poderem representar o Brasil  na competição, teriam que obedecer.

Entre as regras impostas, assim dizia o décimo mandamento:

“Nenhum elemento poderá discutir o ordenado padrão estabelecido pela CBD”.

Enquanto isso, o nono mandamento dizia a mesma coisa relativamente às gratificações por vitória na Copa.

Porém, o problema se resumia ao fato de que para a CBD, o ordenado-padrão, diga-se hoje, salário-padrão, era 1(um) conto de réis, valor este menor do que os jogadores recebiam em seus clubes de origem.

Os jogadores então rechaçaram a proposta e, em carta à CBD, solicitaram que, a fim de que pudessem competir com dignidade, teriam que ser atendidos nas seguintes reivindicações:

1ª) Diárias de 25.000 réis, que deveriam ser pagas do dia de embarque até o dia de retorno;

2ª) Ajuda de custo de 1,5 conto de réis por jogador;

3ª) Ordenado mensal mínimo de 1,5 conto de réis; e

4ª) Gratificação de 500.000 réis por vitória e 250.000 réis por empate. Essa gratificação já tinha, na época, o apelido que conserva até hoje: bicho.

Houve reação da CBD em não aceitar as propostas elencadas acima, todavia, ao final, prevaleceu o bom senso e, finalmente, a CBD estabeleceu que, pagaria aos jogadores a título de gratificação 800 francos franceses por vitória e 400 por empate, o que equivaleria ao que os atletas haviam solicitado nas reivindicações acima.

A nova proposta foi aceita pelos atletas, inclusive pelos dois jogadores mais importantes da Seleção (Leônidas da Silva e Domingos da Guia), de sorte que em 10 de abril de 1938 a Seleção pôde treinar completa em Caxambu/MG e, em 30 de abril do mesmo ano a Seleção embarcou no navio britânico Arlanza com destino à França, desta feita somente com os 22 jogadores que integrariam a Seleção.

No trajeto, o navio fez escalas em Salvador/BA, Recife/PE, em Dacar, na África, até ancorar em Marselha (França), em 15 de maio, vinte dias antes da estreia na Copa. Comparado às duas Copas anteriores, onde na 1ª – Uruguai (1930), a Seleção desembarcou nove dias antes do início da competição, e, na 2ª – Itália (1934), desembarcou quatro dias antes da única partida que fez contra a Espanha, o Scretch (escrete nacional) de 1938 teve bem mais tempo para se preparar.

Apesar do deslumbre com a cidade-luz (Paris) e de ter melhores condições para atuar comparativamente às Copas anteriores, os jogadores brasileiros tiveram que enfrentar várias adversidades, como, por exemplo, se deslocarem em grandes distâncias de uma cidade a outra a fim de realizarem as partidas das diversas fases da competição.

3.3.8.2.4 A Seleção Brasileira em 1938

Comissão Técnica:

Chefe da delegação: José Maria Castello Branco

Superintendente: Irineu Chaves

Jornalista: Afrânio Vieira

Representante no Congresso da FIFA: Célio de Barros

Locutor (speaker): Leonardo Gagliano Neto

 

Seleção Brasileira de 1938

Patesco, Perácio, Procópio, Affonsinho, Domingos, Jaú, roberto, Bandão, Walter, o técnico Ademar Pimenta (de jaqueta), Batatais, Britto, Argemiro, Tim, Romeu, Martim e Everaldo: pela primeira vez na história a Seleção Brasileira teve condições de se preparar adequadamente para uma Copa do Mundo (Placar Especial…, Fascículo 3/1938 (França), p. 16-17)

Técnico: Ademar Pimenta (do Madureira)

Jogadores: o Brasil levou 22 jogadores, assim distribuídos por equipe: 05 do Botafogo, 05 do fluminense, 03 do Flamengo, 02 do Corinthians; 02 do São Cristóvão, 02 do Vasco, 01 do América, 01 do Palestra Itália, e 01 da Portuguesa Santista.

Abaixo, a relação de jogadores por nome, posição e time que jogava:

Goleiros: Walter (Flamengo), Batatais (Fluminense)

Zagueiros: Nariz (Botafogo), Domingos da Guia (Flamengo), (Botafogo), Machado (Fluminense), e Jaú (Vasco)

Médios: Brito (América), Martim (Botafogo), Zezé Procópio (Botafogo), Brandão (Corinthians), Argemiro Waldir (Portuguesa Santista), e Affonsinho (São Cristóvão)

Atacantes: Patesko (Botafogo), Perácio (Botafogo), Lopes (Corinthians), Leônidas da Silva (Flamengo), Hércules (Fluminense), Romeu (Fluminense), Tim (Fluminense), Luizinho (Palestra Itália), Roberto (São Cristóvão), e Niginho (Vasco).

Abaixo, retrata-se o número de jogadores por posição e clube:

 

TIMES

POSIÇÕES

TOTAL

GoleirosZagueirosMédiosAtacantes

Botafogo

01

02

02

05

Fluminense

01

01

03

05

Flamengo

01

01

01

03

Corinthians

01

01

02

São Cristóvão

01

01

02

Vasco

01

01

02

América

01

01

Palestra Itália

01

01

Port. Santista

01

01

Total

02

04

06

10

22

 

 

A tabela acima mostra que, mesmo resolvidas as divergências entre São Paulo e Rio de Janeiro, a maior parte dos atletas era de times do Rio de Janeiro com 18 jogadores cariocas e apenas 04 paulistas. A Seleção seguiria com sua melhor formação significando, portanto, estar integrada ainda pela maioria de jogadores do Rio de Janeiro. Vê-se ainda que a Comissão Técnica convocou 10 atacantes (quase a metade da Seleção), dado que o sistema tático utilizado na época era o 2-3-5, também conhecido por Pirâmide ou Cone, o que representava o futebol ofensivo então praticado. Observa-se, inclusive, no tópico seguinte, que o Brasil foi escalado nesse sistema tático.

3.3.8.3 Jogadores que se destacaram na Copa de 1938

3.3.8.3.1 – Leônidas da Silva (O Diamante Negro): Posição: Centroavante. Times em que jogou: Bonsucesso/RJ (1931/1932), Peñarol, do Uruguai (1933), Vasco/RJ (1934), Botafogo (1935/1936), Flamengo (1936/1942) e São Paulo (1942/1950).

Leônidas da Silva

(Artilheiro da Copa de 1938, com 08 gols)

Títulos: Campeão carioca pelo Vasco (1934), pelo Botafogo (1935) e pelo Flamengo (1939). Campeão paulista pelo São Paulo (1943, 1945/46, e 1948/49). Em 1942 foi contratado pelo São Paulo Futebol Clube, numa das maiores transações do futebol brasileiro à época, por 200 contos de réis. A despeito disso, justificou o investimento nele efetuado, pois se sagrou campeão pelo time paulista nos seguintes anos: 1943, 1945, 1946, 1948 e 1949. Em seu jogo de estreia, realizado contra o Corinthians (empate de 3 x 3), detém até hoje o recorde de público do Pacaembu, com 70.281 pagantes. Leônidas da Silva pendurou as chuteiras em 1951, aos 37 anos. É considerado o inventor da bicicleta e, por efetuar este tipo de jogada na Copa da França, recebeu o título de Homem Borracha, em francês “I’hômme gomme”. Atuou na Copa de 1934 (fez o gol contra Espanha) e, na Copa de 1938, foi o artilheiro com 08 gols (1). Além de ter sido o artilheiro da Copa de 1938, Leônidas foi o jogador que mais se beneficiou com ela, pois foi ídolo do futebol por um período de 15 anos. Aproveitando-se dessa idolatria a empresa Lacta lançou o chocolate Diamante Negro, apelido esse que ganhou dos uruguaios do Peñarol em 1932. Apesar disso, Leônidas não tinha a propriedade legal do produto. Chegou a receber 20 contos de réis para ser o garoto-propaganda da marca à época do lançamento, porém ele não teve participação nos lucros que a Lacta obteve nas décadas seguintes, fato este que chamou a atenção de Edson Arantes do Nascimento, que sabiamente transformou seu apelido (Pelé) em marca registrada quando tinha apenas 20 anos de idade. Leônidas da Silva atuou pela Seleção Brasileira por 37 vezes e marcou 37 gols, com uma média de 1 gol/partida, uma marca espetacular. Após aposentar-se, trabalhou como funcionário público da Secretaria do Trabalho paulistana e atuou também como comentarista esportivo da Rádio Jovem Pan. Leônidas da Silva nasceu no Rio de Janeiro, em 06 de setembro de 1913 e faleceu em São Paulo, em 24 de janeiro de 2004, aos 90 anos.

Nota: (1) Há fontes de consulta que dão Leônidas da Silva como artilheiro da Copa, porém, com 07 gols, somente. Assim, Leônidas, contra a Polônia teria feito apenas três gols e não quatro, como muitas fontes apontam.

Leônidas da Silva

(Leônidas e sua jogada característica – a bicicleta)

Da mesma forma como deu-se destaque aos quatro jogadores da Celeste Olímpica de 1930 (Nasazzi, Andrade, Scarone e Cea), bem como o primeiro ídolo brasileiro do início do século XX que não foi à Copa de 1930 no Uruguai (Arthur Friedenreich), não poderíamos deixar de registrar também sobre Leônidas da Silva (O Diamante Negro). Nas palavras do escritor uruguaio Eduardo Galeano, conforme transcrição infra:

Leônidas

Tinha o tamanho,  velocidade e a malícia de um mosquito. No Mundial de 1938, um jornalista francês, da revista Match, contou-lhe seis pernas e opinou que ter tantas pernas era coisa de magia negra. Não sei se o jornalista francês terá percebido que, para cúmulo, as muitas pernas de Leônidas podiam esticar-se por vários metros e se dobravam ou encolhiam de maneira diabólica.

Leônidas da Silva entrou em campo no dia em que Artur Friedenreich, já querentão, se afastou. Em pouco tempo, seu nome já era marca de cigarros e de chocolates. Recebia mais cartas que artista de cinema: as cartas lhe pediam uma foto, um autógrafo ou um emprego público.

Leônidas fez muitos gols, que nuca contou. Alguns foram feitos no ar, os pés girando, a cabeça para baixo, de costas para o arco: foi muito hábil nas acrobacias da chilena, que os brasileiros chamam de bicicleta.

Os gols de Leônidas eram tão lindos que até o goleiro vencido se levantava para felicitá-lo. (Futebol ao sol e à sombra, p. 77-78)

3.3.8.3.2 – Domingos da Guia (Domingos Antônio da Guia). Posição: zagueiro. Times em que jogou: Bangu/RJ (1929 a 1932), Vasco/RJ (1932 a 1934), Nacional, do Uruguai (1933), Boca Juniors, da Argentina (1935/36), Flamengo/RJ (1936 a 1943), Corinthians/SP (1944 a 1947), e Bangu/RJ (1948/49).

Domingos da Guia

Títulos: Campeão uruguaio pelo Nacional (1933), Campeão carioca pelo Vasco/RJ (1944) e Campeão argentino pelo Boca Juniors (1935). Domingos da Guia, portanto, num caso raro, foi campeão por três países diferentes. É considerado por muitos como o maior zagueiro-central do futebol brasileiro. Era extremamente técnico e, quando atuava pelo Nacional (URU), recebeu o apelido de “Divino Mestre”, bom marcador, não precisava usar da violência, pois se colocava bem na defesa para fazer antecipações e evitar o ataque adversário. Brilhou mesmo no Flamengo (1936/1943) onde jogou com outros craques como Leônidas da Silva e, juntamente com ele foi convocado para defender o Brasil, na Copa de 1938 (França). Pelo Flamengo, ganhou os títulos cariocas de 1939, 1942 e 1943. Apesar de sua qualidade técnica, Domingos da Guia chegou a cometer algumas falhas (faltas) que comprometeram o time que defendia. Na França, por ocasião da semifinal entre Itália 2 x 1 Brasil, quando o jogo ainda estava 1 x 0 a favor dos italianos, o referido jogador cometeu um pênalti infantil no início do 2º tempo, convertido pelo atacante Meazza. Doravante, os locutores esportivos, comentaristas e até mesmo o dicionário passaram a denominar de “domingada” qualquer jogada infeliz que lembrasse a falha cometida pelo jogador em apreço. A propósito, Domingos da Guia fez pênalti também no 1º jogo entre Brasil x Tchecoslováquia, cujo resultado foi 1 x 1. O pênalti deu ensejo ao empate dos tchecos e a realização da partida extra entre as duas Seleções (1). A despeito da qualificação técnica do jogador em questão, presume-se que o esmo foi obrigado a fazer este tipo de falta, dado o sistema tático ainda utilizado pelo Brasil na época, o 2-3-5 (pirâmide). Como se vê, o sistema 2-3-5, com apenas 2 defensores (zagueiros) deixava a defesa muito vulnerável, o que obrigou a Domingos da Guia, certamente, a cometer tais infrações. Dá-se essa justificativa porque à época, a maioria dos países europeus utilizava o sistema tático W-M, com três zagueiros, dois volantes, dois meias e três atacantes. Depois do Flamengo, Domingos da Guia transferiu-se para o Corinthians e, em 1947 voltou a seu time de origem (Bangu), onde encerrou a carreira. Não se pode esquecer que Domingos da Guia é/foi o pai de outro “Divino”, Ademir da Guia, meia do Palmeiras que brilhou nas décadas de 1960 e 1970.. Domingos da Guia nasceu em 19 de novembro de 1912, no bairro Bangu/RJ e faleceu em 18 de maio de 2000, aos 87 anos.

Nota: (1) Na verdade, Domingos da Guia cometeu faltas interpretadas como penalidade máxima em três das quatro partidas em que foi escalado na defesa brasileira na Copa de 1938. Ele só não participou do jogo extra entre Brasil 2 x 1 Tchecoslováquia.

3.3.8.3.3 – Romeu (Romeu Pelliciari). Posição: Centroavante e ponta-de-lança. Times em que jogou: Palestra Itália/SP, atual Palmeiras/SP (1930 a 1935), Fluminense/RJ (1935 a 1942), Palmeiras (1947) e Comercial/SP (1948). Títulos: campeão paulista (1932/33/34 e 1947) pelo Palmeiras; e campeão carioca (1936/37/38 e 1940/41), pelo Fluminense. Só não ganhou em 1939.

Romeu Pelliciari

(Romeu substituiu Leônidas na semifinal contra a Itália)

É considerado um dos melhores jogadores brasileiros da década de 1930. Jogava com inteligência, era versátil, além de criativo e hábil. Tinha precisão milimétrica num dos fundamentos do futebol – o passe. Tanto é verdade, que o próprio Tim chegou a afirmar sobre ele: “Romeu passava meses sem errar um passe”. Na Copa de 1938, Romeu substituiu Leônidas da Silva na semifinal contra a Itália. Foi ídolo do Palmeiras e mais ainda ídolo do Fluminense, onde marcou 86 gols em 201 partidas. Romeu nasceu em Jundiaí/SP, em 26 de março de 1911 e faleceu em São Paulo, em 17 de julho de 1971, aos 60 anos.

3.3.8.3.4 – Tim (Elba de Pádua Lima). Posição: meio-campista (meia). Times em que jogou: Botafogo/SP (1930 a 1933), Comercial/SP (1933), Palestra Itália de Ribeirão Preto/SP (1933), Portuguesa Santista (1934 a 1936), Fluminense (1937 a 1943), São Paulo/SP (1944), Olaria/RJ (1945 a 1947), Botafogo/SP (1948/49), Milionários, da Colômbia (1950). Títulos: Campeão carioca, pelo Fluminense (1937/38 e 1940/41), daí porque é considerado um dos maiores jogadores do clube tricolor das Laranjeiras. No Campeonato Sul-Americano (Copa de América) de 1936, em Buenos Aires no qual o Brasil perdeu para a Argentina num clima de guerra, notabilizou-se por conduzir o meio de campo do Brasil “como um peão conduz a manada”, recebendo o apelido de “El Peon”, por sua fantástica visão de jogo. Driblador nato, Tim jogava com inteligência, posicionava-se bem no campo e marcava muitos gols.

Elba de Pádua Lima (Tim)

Como técnico de futebol Tim atuou por cerca de 25 anos, sendo reconhecido também como estrategista fora de campo. Foi o técnico do Bangu do Rio de Janeiro, campeão carioca de 1966. No Bangu, Tim lançou mão da estratégia de utilizar de forma diferenciada os ponteiros, fazendo com que eles entrassem pelas costas das zagas adversárias, tornavam-se os grandes artilheiros da equipe, privilegiando, nesse sentido, o ponta-direita Paulo Borges, que foi o artilheiro do Campeonato Carioca de 1966 e 1967. Em Copas do Mundo, Tim esteve como jogador, defendendo o Brasil, em 1938 (França) e, como técnico do Peru, em 1982, na Espanha. Tim nasceu em 20 de fevereiro de 1915, no então distrito de Rifaina, perto de Ribeirão Preto/SP e faleceu, no Rio de Janeiro, em 07 de Julho de 1984, aos 69 anos.

3.3.9 OS JOGOS DA COPA DE 1938

Há jogos que merecem ser destacados independentemente da fase em que ocorreram, seja nas oitavas-de-final, nas semifinais, na disputa do 3º lugar ou na final. As circunstâncias em que o jogo ocorreu é que vão determinar sua importância a merecer o destaque. Os jogos da Seleção Brasileira, independentemente da fase serão registrados, conforme se verá nos tópicos adiante.

3.3.9.1 Jogo do Brasil nas oitavas-de-final

Dos nove jogos realizados nas oitavas-de-final, o destaque dessa fase vai para a partida entre Brasil  6 x 5 Polônia.

Brasil 6 x 5 Polônia (1)

(4 x 4 no tempo normal; 2 x 1 na prorrogação)

Data: 05 de junho de 1938, domingo

Horário: 17h30

Estádio: Meinau, em Estrasburgo

Público estimado: 13.452 pessoas

Gols: Leônidas (18), Scherfke (pênalti, 23), Romeu (25) e Perácio (44 do 1º); Wilimowski (8 e 14), Perácio (26) e Wilimowski (44 do 2º);  Leônidas (3 e 14 do 1º da prorrogação) e Wilimowski (13 do 2º da prorrogação).

Brasil: Batatais, Domingos e Machado; Zezé Procópio, Martim e Affonsinho; Lopes, Romeu, Leônidas, Perácio e Hércules.

Técnico: Ademar Pimenta

Polônia: Modejski, Szczepaniac e Galecki; Góra, Nyk e Dytko; Piec, Piatek, Scherfke, Wilimowski e Wodarz.

Técnico: Josef Kaluska

Juiz: Ivan Eklind (Suécia) (2)

Auxiliares: Poissant  (França) e Kissenberg (França)

Notas: (1) Este jogo foi o primeiro de Copa do Mundo a ser transmitido via Rádio para o Brasil. (2) O Juiz Ivan Eklind é o mesmo que dirigiu a partida entre Espanha 3 x 1 Brasil, única que o Brasil participou (e perdeu) na Copa de 1934.

Resumo do Jogo: Emoção do começo ao fim – Uma partida espetacular, que merece constar no topo da relação dos grandes jogos das Copas, não só pelo placar, mas também pelas circunstâncias em que ocorreu. Foi o embate entre o time organizado da Polônia que utilizava como a maioria dos times europeus o sistema W-M (criado pelo técnico inglês Herbert Chapman, do Arsenal da Inglaterra) e a técnica individual dos brasileiros, especialmente Leônidas da Silva, Domingos da Guia, Romeu, etc. que utilizava ainda o sistema tático 2-3-5 (Pirâmide), que não se preocupava tanto com a defesa, eis que mantinha apenas dois defensores (zagueiros) na defesa. A chuva de gols, 6 levados pela Polônia e 5 levados pelo Brasil deu-se justamente por isso: o ataque brasileiro, comandado por Leônidas (fez 3 gols), se sobrepôs a defesa polonesa, enquanto o ataque da Polônia, comandado por  Wilimowski (fez 4 gols) não encontrou tanta dificuldade em vulnerar a defesa brasileira. Enfim, no confronto entre ataque e defesa, o Brasil se saiu melhor. Assim, aos 18 min. do 1º T, Leônidas abriu o placar. Porém, aos 23 min., o zagueiro Domingos da Guia, sem proteção na área brasileira foi obrigado a derrubar o jogador Wodarz. Marcada a penalidade máxima, foi convertida pelo jogador Scherfke, que empatou a partida. Perácio e Romeu marcaram ainda no 1º tempo, desempatando aos 25 min. e 44min do 1º tempo. Na 2ª etapa, a Polônia veio com tudo e, em menos de 15 minutos empatou a partida com dois gols do atacante Wilimowski, feitos aos 8 min. e 14 min., respetivamente. Placar parcial: 3 x 3. Logo em seguida, aos 26 min., Perácio desempata (Brasil 4 x 3 Polônia). Parecia que o Brasil seguiria sem problemas para as quartas-de-final, porém, um descuido da defesa brasileira, com um passe errado de Affonsinho na entrada da área brasileira permitiu que o atacante polonês  Wilimowski, ao apagar das luzes, aos 44 min. da etapa complementar empatasse novamente a partida (Brasil 4 x 4 Polônia), fazendo com que o jogo fosse para a prorrogação. Na prorrogação: Leônidas da Silva mostrou toda a sua categoria e porque seria o artilheiro da competição, fazendo dois gols na 1ª etapa da prorrogação: aos 3 min e 14 min, respectivamente (Brasil 6 x 4 Polônia). Na 2ª etapa da prorrogação, aos 13 min., o artilheiro polonês Wilimowski descontou novamente. Placar final: Brasil 6 x 5 Polônia. Brasil nas quartas-de-final.

3.3.9.1.1 – O Brasil e Leônidas da Silva aparecem para o Mundo

O registro do jogo acima se faz não só pelo placar mas porque a partir dele mostrou-se para o mundo um novo estilo de jogar futebol e um novo craque – Leônidas da Silva, que saía da competição como o novo ídolo do futebol brasileiro. Houve surpresa geral dos europeus com um novo estilo de jogar futebol da Seleção Brasileira e, sobretudo com um jogador diferenciado, um artista da bola, como bem salienta o biógrafo do referido jogador, André Ribeiro, nos seguintes termos:

Quando o placar final do jogo indicava 6 x 5 para o Brasil, o mundo começou a reverenciar o futebol brasileiro, e o que era melhor, a Copa da França consagrava o primeiro rei o futebol: Leônidas da Silva.

Parece exagero, mas a atuação de Leônidas foi semelhante á de Romário na Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos, quando o baixinho ganhou praticamente todos os jogos. Em 1938, foi um negro, de nariz arrebitado, quem encantou o mundo com seus gols e suas jogadas espetaculares.

As previsões dos torcedores brasileiros antes do jogo contra a Polônia pareciam corretas. Os primeiros 45 minutos mostraram ao público europeu um futebol jamais visto. Os torcedores estavam embasbacados com as jogadas da seleção. No final do primeiro tempo, a equipe brasileira vencia por 3 x 1, mas poderia te feito 4, 5 ou até mesmo 6, como previam os mais otimistas, não fosse o preciosismo dos atacantes.

Leônidas parecia estar com o diabo no corpo. Brincava com a bola em frente aos adversários. Fazia o público delirar. Com certeza nunca tinham visto jogador com tamanha habilidade e agilidade. Foi de Leônidas o primeiro gol do jogo.

No segundo tempo, a seleção da Polônia voltou “mordida”, não era possível estar perdendo de 3 x 1 para um time de desconhecidos omo o brasileiro.

[…]

O Brasil foi para o a prorrogação num jogo que estava praticamente ganho, mas de novo Leônidas ia fazer a diferença. Os jogadores estavam exaustos ou melhor ‘pregados’ como Leônidas confessou tempos depois. A descrição da importância desse jogador nos minutos finais feita pelo jornalista Thomas Mazzoni, que cobria a Copa pelo jornal A Gazeta, é memorável.

Simplesmente assombroso. Foi a ponta de dinamite do nosso quadro. Em improvisação, Leônidas fez o  impossível. Cada lance do avante flamenguista era uma corrente elétrica de entusiasmo na multidão! Arte de bruxaria (…) E Leônidas – vejam mais esta – era guardado por três policiais poloneses, que o travavam sem cerimônia, recebendo, porém sempre com o troco (…) Sim: Leônidas desafiava os antagonistas no jogo agressivo! O ‘neguinho’ sem poupar coragem, andou ‘pisando’, para impor respeito (…) Tantas vezes o enterraram, tantas vezes se levantou.

O Brasil terminava o jogo com a vitória de 6 x 5. Era o fim da primeira batalha. Onze gols em um jogo desgastante, nervoso e eletrizante do começo ao fim. O último gol brasileiro feito por Leônidas consagrou o craque: de pé esquerdo e sem chuteiras. Isso mesmo, até gol descalço ele fez. O árbitro sueco não percebeu que, após um chute, Leõnidas tinha perdido a chuteira. No rebote, mesmo descalço, foi na bola para marcar o sexto gol na partida. O gol foi confirmado garantindo a vitória brasileira (Diamante Negro, … p. 120-122).

Transcreveu-se, pois, a descrição do próprio biógrafo de Leônidas para não deixar dúvidas quanto à dimensão do feito do Diamante Negro  nesse e nos demais jogos do Brasil na competição, especialmente contra a Tchecoslováquia (houve dois jogos) e da impossibilidade de Leônidas, devido à contusão sofrida, de participar da semifinal contra a Itália.

3.3.9.1.2 – A fama de Leônidas da Silva após o Munial de 1938

Em tópico adequado adiante (tópico 3.3.10), deixamos evidenciado que, em face da Guerra Mundial e, por consequência, a não realização dos Mundiais de 1942 e 1946, aqui no Brasil, um dos mais prejudicados do ponto de vista individual e futebolístico seria Leônidas da Silva e Heleno de Freitas, do Botafogo. Leônidas em 1938 estava com 24 anos e em 1942 com 28. Ora,  28 a 30 anos é a idade em que jogador chega ao auge de sua forma física e técnica. Logo, se houvesse a Copa de 1942, Leônidas teria a chance de se consagrar mais uma vez e, desta feita, com mais experiência, poderia, certamente, despontar, novamante, como artilheiro da competição e com grande perspectiva de trazer a Taça Jules Rimet debaixo do braço. Já Heleno de Freitas, pela difernaça de idade entre ambos, seria o substituto natural de Leônidas na Seleção, especialmente se tivesse havido a Copa de 1946.

Mesmo sem os Mundias de 1942 e 1946, Leônidas usufruiu da melhor maneira possível da fama que o consagrou nos gramados da França. Sua fama fez com que o referido jogador fosse referenciado como ídolo em quequer ocasião, seja diante de autoridades públicas e, sobretudo, junto ao povo, já que Leônidas, tendo origem humilde, nunca esqueceu suas origens. Leônidas não foi santo nem anjo, chegou até mesmo a ser preso por falsificar sua certidão de nascimento para não servir ás Forças Armadas (Exército). Se atualmente, os jogadores brasileiros estão reivindicando melhores condições de trabalho por meio do movimento intitulado Bom Senso Futebol Clube, encabeçado, entre outros, pelo zagueiro Paulo André do Corinthians, naquela época, Leônidas já se insurgira contra os cartolas o futebol para ter melhores condições de jogar futebol.

Pois bem, Leônidas, com sua fama chegou a ser, digamos assim, o primeiro garoto-propaganda do futebol brasileiro, pois sua imagem passou a fazer parte de produtos como chocolate (Diamante Negro, da Lacta), até hoje vendido pelo Brasil afora. Leônidas fez também propaganda de cigarros e de relógios.

O mais impressionante de tudo isso é que a fama de Leônidas da Silva, ultrapassou o limite do inimaginável, a ponto de confundir em determinadas situações ou matérias a cabeça de alguns estudantes nas escolas do Distrito Federal. Neste particular, traz-se à colação, uma pequena história constante da biografia do jogador, contada pelo saudoso Luiz Mendes, á época, locutor (narrador, comentarista esportivo) da Rádio Globo do Rio de Janeiro. Eis a transcrição literal da aludida história.

O nome de Leônidas era mais falado que o de qualquer outra pessoa em todos os cantos da cidade. Onde houvesse uma roda de papo, Leônidas tinha que estar presente.

Uma das histórias mais divertidas, segundo depoimento de Luiz Mendes, teria acontecido numa escola do Rio de Janeiro, quando a professora pediu aos alunos que desenvolvessem um ponto sobre Leônidas, o personagem da história grega. A professora queria que os garotos escrevessem sobre o Leônidas guerreiro, rei de Esparta, cidade da antiga Grécia. Um menino da turma fez seu trabalho escrevendo maravilhas de outro Leônidas, o Leônidas da Silva, o Diamante Negro. Ao ler o que seu aluno tinha escrito, a professora ficou indignada:

– Eu não queria que você falasse do Leônidas do Flamengo. Eu queria que você falasse do Leônidas guerreiro, o espartano que com pequeno exército ganhou a batalha de Termópilas.

O garoto não pensou duas vezes.

– Ah, professora, só se ele joga no segundo time, porque esse eu não conheço. (Diamante Negro,…p. 133-134).

3.3.9.2 Jogos do Brasil nas quartas-de-final

Em face das regras vigentes à época, como o primeiro jogo entre Brasil e Tchecoslováquia terminou empatado (1 x 1 no tempo normal e 0 x 0 na prorrogação), houve necessariamente a realização de um jogo extra (1).

3.3.9.2.1 – 1º Jogo: Brasil 1 x 1 Tchecoslováquia

(1 x 1 no tempo normal, 0 x 0 na prorrogação)

Data: 12 de junho de 1938, domingo

Horário: 17horas

Estádio: Parc Lescure, em Bordeaux

Público estimado: 22.021 pessoas

Gols: Leônidas (30 do 1º), e Nejedly (pênalti, 20 do 2º).

Brasil (2): Walter, Domingos e Machado; Zezé Procópio, Martim e Affonsinho; Lopes, Romeu, Leônidas, Perácio e Hércules.

Técnico: Ademar Pimenta

Tchecoslováquia: Planicka, Burgr e Daucik; Kostalek, Boucek e Kopecky; Riha, Simunek, Ludl, Nejedly e Puc.

Técnico: Josef Meissner

Juiz: Paul von Hertzka (Hungria)

Auxiliares: Poissant  (França) e Kissenberg (França)

Notas: (1) Atualmente a situação seria diferente, pois terminado o jogo empatado, haveria a decisão na cobrança de pênaltis. (2) O Brasil atuou praticamente com a mesma escalação do jogo contra a Polônia. Mudou apenas o goleiro.

Resumo do Jogo: A Batalha de Bordeaux  – esta partida ficou conhecida como A Batalha de Bordeaux, pois a pancadaria foi generalizada de ambos os lados. Brasil e Tchecoslováquia esqueceram suas características de jogo e partiram para a briga, enfim como se diz no popular “abriram a caixa de ferramentas”, situação esta que foi, a rigor, facilitada pela arbitragem que não foi enérgica o suficiente para conter os ânimos dos mais exaltados. Mesmo assim, o juiz da partida chegou a expulsar três jogadores, dois do Brasil (Zezé Procópio e Machado) e o tcheco Riha. Num dos poucos momentos em que foi possível praticar o futebol, Leônidas fez o gol do Brasil, aos 30 min. da 1ª etapa. No segundo tempo, aos 20 min., numa jogada em que Domingos da Guia tentou neutralizar uma jogada do ataque tcheco, conduziu a bola com o braço, que o juiz deu pênalti, convertido pelo atacante Nejerdly. Na Prorrogação, não houve mudança do placar, fazendo com que de acordo com o Regulamento fosse realizada uma partida extra. Assim, pelo saldo de jogadores machucados e/ou contundidos: pela Tchecoslováquia, o goleiro Planicka chegou a jogar por mais de 30 minutos com a clavícula deslocada e o artilheiro Nejerdly havia fraturado o pé direito, ambos ficando fora da partida seguinte; e pelo Brasil, Perácio saiu arrebentado, enquanto Leônidas de tanto tomar pontapés seria dúvida para a partida seguinte. Assim, nada mais pertinente, que atribuir a tal partida o nome de A Batalha de Bordeaux. 

3.3.9.2.2 – Jogo Extra: Brasil 2 x 1 Ttchecoslováquia

Data: 14 de junho de 1938, terça-feira

Horário: 18horas

Estádio: Parc Lescure, em Bordeaux

Público estimado: 18.141 pessoas

Gols: Kopecky (25 do 1º); Leônidas (12), e Roberto (17 do 2º).

Brasil: Walter, Jaú e Nariz; Britto, Brandão e Argemiro; Roberto, Luizinho, Leônidas, Tim e Patesco. (1)

Técnico: Ademar Pimenta

Tchecoslováquia: Burket, Burgr e Daucik; Kostalek, Boucek e Kreuz; Horak, Senecky, Ludl, Kopecky e Rulc.

Técnico: Josef Meissner

Juiz: Georges Capdeville (França)

Auxiliares: Kissenberg (França) e Marenco (França)

Nota: (1) O Brasil com a maioria dos titulares quebrados praticamente fez com que o treinador Adhemar Pimenta mudassse todo o time, exceção feita ao goleiro Walter e ao atacante Leônidas da Silva. Mas o pior aconteceu, Leônidas agravou sua contusão e não pôde ser escalado para jogar a semifinal contra a Itália.

Resumo do Jogo extra: Renovação total – O técnico da Tchecoslováquia (Meissner) tinha pretensão de surpreender o Brasil e, para tanto, fez cinco alterações no time. Todavia, para surpresa sua, ao ver a Seleção Brasileira entrar em campo pensou que enfrentaria outro time, dadas as mudanças que Ademar Pimenta realizara, mantendo da equipe que fez o primeiro confronto, apenas o goleiro Walter e o atacante Leônidas da Silva. Por outro lado, diferentemente da partida anterior, o jogo se desenvolveu num clima mais ameno, sem a pancadaria do jogo anterior. Porém, o técnico brasileiro, ao mudar quase todo o time, estava, na verdade, pondo em prática uma de suas estratégias de jogo, pois nos treinamentos em Caxambu/MG, dividira os jogadores em dois times: “os leves” e “os pesados”. Estava, pois, na presente partida, pondo em campo o “time pesado” para jogar e, assim, tentar a vitória. Pelo Brasil, sobressaiu-se o jogo do meia Tim (Elba de Pádua Lima), do Fluminense, que fez sua estreia em Copa e que, na presente partida, se destacou pela visão de jogo. Apesar disso, foi a Tchecoslováquia quem primeiro abriu o marcador com o atacante Kopecky, aos 25 min. do 1º tempo. O Brasil somente conseguiu o empate na etapa complementar, com Leônidas da Silva, aos 12 min., e Roberto desempatando a nosso favor, aos 17 min. Antes do gol de empate, porém, o Brasil tomou um susto, pois num chute rasteiro do atacante Senecky, Walter fez a defesa, no entanto, a bola escapou de suas mãos, pareceu ter ultrapassado a linha de gol, antes que o goleiro brasileiro a puxasse de volta. Porém, o juiz francês, para sorte nossa, não viu e o jogo prosseguiu. A importância desse jogo se dá, também, pelo fato de o Brasil ter tirado da competição a Tchecoslováquia, a Seleção vice-campeã do torneio anterior (1934). Placar final: Brasil 2 x 1 Tchecoslováquia. Nas semifinais, o Brasil enfrentaria a última campeã  – a forte Itália.

3.3.9.3 Jogo(s) das semifinais

3.3.9.3.1 – 1ª semifinal: Itália 2 x 1  Brasil

Data: 16 de junho de 1938, quinta-feira

Horário: 18horas

Estádio: Vélodrome, em Marselha

Público estimado: 33.000 pessoas

Gols: Colaussi (6); Meazza (pênalti, 15), e Romeu (42 do 2º).

Itália: Olivieri, Foni e Rava; Serantoni, Andreolo e Locatelli; Biavati, Meazza, Piola, Ferrari e Colaussi.

Técnico: Vittorio Pozzo

Brasil: Walter, Domingos e Machado; Zezé Procópio, Martim e Affonsinho; Lopes, Luizinho, Romeu, Perácio e Patesco. (1)

Técnico: Ademar Pimenta

Juiz: Hans Wuthrich (Suíça)

Auxiliares: Beranek (Alemanha) e Marenco (França)

Resumo do Jogo: Derrota Amarga – A torcida no Brasil estava eufórica. Mensagens (telegramas) foram enviadas aos jogadores desejando-lhes boa sorte. Auto-falantes foram instalados nas praças e repartições públicas nas principais cidades brasileiras a fim de que o povo acompanhasse o jogo.

Seleção Brasileira de 1938

[Foto: Leônidas da Silva, o primeiro da esquerda para a direta, depois do técnico Adhemar Pimenta (de uniforme)]

A Seleção Brasileira, porém, entrou diferente no ataque, sem Leônidas da Silva e sem Tim (o melhor do Brasil na partida extra contra os tchecos). Leônidas não foi escalado porque não tinha condições de jogo. Além disso, Romeu, que atuava como meia foi deslocado para o comando do ataque (centroavante). Assim, o Brasil entrava com um ataque que nunca jogara junto. Apesar disso, o Brasil jogou bem na primeira etapa. Na verdade, no primeiro tempo, com exceção de um ou outro lance, as defesas foram mais eficientes que os ataques, resultando no placar parcial de 0 x 0. No segundo tempo, porém, a coisa mudou, pois logo aos 6 min. de partida Piola conseguiu se antecipar a Domingos da Guia e lançar a bola na esquerda para Colaussi chutar forte e rasteiro sem defesa para o goleiro Walter, abrindo, assim o marcador. Perdendo por 1 x 0 não restava ao Brasil outra atitude senão ir ao ataque. Ocorre, porém, que, numa das investidas do ataque italiano, o juiz marcou pênalti a favor da Itália numa jogada em que o zagueiro Domingos da Guia cometera falta contra Piola (teria chutado o joelho do atacante italiano). Meazza cobrou e ampliou o placar a favor da Squadra Azurra. Itália 2 x 0 Brasil. Conta-se que a defesa brasileira após um ataque dos italianos, rechaçou a bola para o meio de campo, porém, no mesmo instante, Domingos da Guia, que já vinha sendo importunado pelo jogador Piola, desde o começo da partida, desferiu um chute no atacante da Itália, fora do lance, mas dentro da área brasileira. Interpretação do árbitro – falta dentro da área é pênalti e marcou a penalidade máxima, convertida por Meazza. A explicação dada posteriormente por Domingos da Guia é que de fato cometera a falta contra Piola, porém, quando a bola já tinha saído de campo, de modo que o juiz fora muito rígido ao marcar o pênalti. O certo é que aquele já seria o 3º pênalti cometido por Domingos da Guia em quatro jogos daquela Copa. Doravante a Itália se retrairia na defesa e o Brasil no esforço que fez para empatar o jogo conseguiu apenas diminuir o placar ao fazer seu único gol na partida, através de Romeu, em jogada individual, aos 42 min. do segundo tempo. Depois do jogo, a imprensa brasileira chegou a especular que devido ao erro do juiz a partida seria anulada, até porque o Brasil fizera uma reclamação formal junto à FIFA nesse sentido, porém, a entidade manteve o resultado do jogo. Posteriormente, quando uma cópia do jogo chegou ao Brasil, a própria imprensa brasileira, através da revista Sport Ilustrado que antes criticara a FIFA, reconheceu o erro e admitiu, depois de ver o jogo, que a Itália fora melhor que o Brasil em todos os sentidos, merecendo ser a campeã. Placar final: Itália 2 x 1 Brasil. Itália na final. Ao Brasil restaria disputar o 3º lugar contra a Suécia.

A despeito da conclusão acima, uma questão precisa ser esclarecida: por que Leônidas da Silva não foi escalado para esse jogo?

Ora, como encontrar explicação para que o melhor jogador da Seleção Brasileira não entrasse num jogo tão importante. A torcida aqui no Brasil estava eufórica e não admitia sob qualquer hipótese que Leônidas não participasse do jogo contra os italianos. Não podíamos perder aquela chance, pois pela trajetória vitoriosa até então do escrete nacional, a conquista do título mundial de futebol era iminente, mas sem o Diamante Negro em campo, dificilmente o Brasil chegaria a disputar e ganhar o título.

Para responder a essa questão, lançamos mão da Biografia de Leônidas da Silva,  de autoria de André Ribeiro, que em capítulo próprio da referida obra (VI – O Diamante francês), traz as seguintes explicações:

Pimenta tinha dois problemas: Leônidas estava sem condições  e seu substituto, Niginho, proibido pela Fifa de entrar em campo. Agora era oficial. Espertamente os italianos esperaram o momento certo para impedir que Niginho jogasse. A alegação dos italianos era que Niginho tinha fugido de seu clube, a Lázio, de Roma, pouco antes da Copa, por não ter confiado na palavra dos dirigentes italianos, que garantiam que ele não seria recrutado para o serviço militar. Pegou o primeiro navio com destino ao Rio de Janeiro. A CBD sabia de toda a história e, mesmo assim, inscrevera o jogador para o Mundial. Era o momento de os italianos darem o troco. Niginho não poderia jogar contra a Itália. Adhemar Pimenta teve que optar por Romeu Pelliciari para o lugar de Leônidas. Romeu não era um atacante e a decisão repercutiu mal em toda crônica brasileira.

Quando as notícias da contusão de Leônidas chegaram no Brasil, o povo preferiu não acreditar. As rádios ajudaram a aumentar a confusão. Sem informações corretas, anunciavam num momento que Leônidas jogaria para em seguida desmentir a informação. Foi uma comoção nacional. Os torcedores brasileiros estavam enlouquecidos com a possibilidade da conquista do título mundial. […] O clima era de tensão absoluta. Quem não viveu aqueles momentos não faz ideia de como o brasileiro estava possuído pela mais intensa paixão. A idolatria por Leônidas era geral. O povo não admitia a sua ausência num jogo tão importante como aquele. Sem Leõnidas a derrota era certa.

A torcida brasileira tinha razão. O Brasil perdeu por 2 x 1. […] (Diamante Negro, …p. 127-128).

3.3.9.3.2 – 2ª semifinal: Hungria 5 x 1 Suécia

Data: 16 de junho de 1938, quinta-feira

Horário: 18 horas

Estádio: Parc des Princes, em Paris

Público estimado: 20.155 pessoas

Gols: Nyberg (35 segundos), Jacobsson (contra, 19), Titkos (37) e Zsengellér (39 do 1º); Sárosi (20) e Zsengellér (40 do 2º).

Hungria: Szabó, Korányi e Biró; Lázár, Turay e Szalay; Sas, Zsengellér, Sárosi, Toldi e Titkos.

Técnicos: Károly Dietz e Alfred Schäffer

Suécia: Abrahamsson, Eriksson e Källgren; Almgren, Jacobsson e Swantroem; Jonasson, Nyberg, Harry Andersson, Keller e Wetterstroem.

Técnico: Josef Nagy

Juiz: Lucien Leclercq (França)

Auxiliares: Scarpi (Itália) e Van Moorsel (Holanda)

Resumo do jogo: O atalho da Suécia – Nas Quartas-de-final a Suécia pegou a fraca Seleção de Cuba, aplicando-lhe uma goleada, de 8 x 0. Classificada para a semifinal, a Suécia enfrentaria a Hungria e, mesmo que perdesse já seria uma das quatro seleções finalistas. Todavia, ao enfrentar a Hungria, a Suécia deu a entender que poderia chegar a disputar o título, pois iniciou a partida com tudo, abrindo o placar num gol relâmpago, aos 35 segundos de partida, através do atacante Nyberg. Fogo de palha, na medida em que doravante a Hungria tomaria conta do jogo, fazendo 3 gols ainda na primeira etapa e, na segunda, fazendo mais dois gols, sem que a Suécia esboçasse qualquer reação. Placar final: Hungria 5 x 1 Suécia. A Hungria enfrentaria a Itália, na Final, enquanto a Suécia disputaria o 3º lugar contra o Brasil.

3.3.9.4 Disputa do 3º lugar

Brasil 4 x 2 Suécia 

(1 x 1 no tempo normal)

Data: 19 de junho de 1938, domingo

Horário: 17horas

Estádio: Parc Lescure, em Bordeaux

Público estimado: 12.500 pessoas

Gols: Jonasson (28), Nyberg (38) e Romeu (44 do 1º); Leônidas (18 e 29), e Perácio (35 do 2º).

Brasil: Walter, Domingos e Machado; Zezé Procópio, Brandão e Affonsinho; Roberto, Romeu, Leônidas, Perácio e Patesko.

Técnico: Ademar Pimenta

Suécia: Abrahamsson, Eriksson e Nilsson; Almgren, Linderholm e Swantroem; Ake Andersson,  Jonasson, Nyberg, Harry Andersson e Persson.

Técnico: Josef Nagy

Juiz: Jean Langenus (Bélgica)

Auxiliares: Valprede  (França) e Olive (França)

Resumo do jogo: Virada histórica – A decisão pelo 3º lugar foi emocionante, sobretudo para os brasileiros, pois o Brasil começou perdendo pelo placar de 2 x 0, marcados pelos atacantes suecos Jonasson e Nyberg, aos 28 min. e 38 min., respectivamente, do 1º tempo, demonstrando, assim, que a Suécia, apesar de não contar com grandes estrelas, era um time mais bem postado em campo. Felizmente, o atacante brasileiro Romeu descontou aos 44 min. do 1º tempo, o que deu certo alívio aos jogadores e ao técnico Ademar Pimenta para reorganizar o time na 2ª etapa. Na etapa complementar a qualidade individual, a técnica e a raça dos jogadores brasileiros sobrepujaram a organização tática da Suécia, tanto que o 2º tempo foi do Brasil, sendo marcados três gols, dois deles por meio de Leônidas da Silva, aos 18 min. e 29 min., respectivamente, enquanto o terceiro gol coube ao atacante Perácio, aos 35 min. do 2º tempo.  Foi, portanto, uma partida espetacular, um virada histórica do Brasil que deu aos nossos jogadores a condição de serem reconhecidos como craques, enfim, serem tratados como verdadeiros heróis ao desembarcarem no Brasil, especialmente Leônidas da Silva, que voltou como artilheiro da competição. É de se louvar, portanto, que os brasileiros tenham conquistado o 3º lugar na competição, pois as adversidades foram muitas, dentro e fora do campo. Dentro de campo pelas partidas difíceis que tiveram que enfrentar, parte delas com prorrogação e jogo extra, aliada a arbitragens duvidosas, etc. Fora de campo, o Brasil teve que viajar bastante de trem de uma cidade a outra a fim de realizar as partidas que lhe competia. Basta dizer que, o Brasil logo após a abertura da competição, em Paris, viajou 487 km até Estrasburgo (NE da França), onde enfrentou a Polônia. De lá seguiu até Bordeaux viajou mais 758 km para enfrentar a Tchecoslováquia. De Bordeaux, deslocou-se mais 503 km, até Marselha, a fim de enfrentar a Itália e, finalmente, voltou a Bordeaux, percorrendo mais 503 km para enfrentar a Suécia, percorrendo, no total, mais de 3.000 km, portanto, uma verdadeira maratona. O Brasil foi, certamente, o país mais prejudicado em face do Regulamento da competição, o que faz crer que o jogo é ganho dentro e fora de campo. As dificuldades extracampo certamente contribuíram para que o Brasil não pudesse ir mais adiante e, quem sabe, até mesmo ter conquistado o título.

3.3.9.5  A Final da Copa de 1938: Itália 4 x 2 Hungria

Itália 4 x 2  Hungria

Data: 19 de junho de 1938, domingo

Horário: 17 horas

Estádio: Olympique Colombes, em Paris

Público estimado: 45.124 pessoas

Gols: Colaussi (6), Titkos (8), Piola (16) e Colaussi (35 do 1º); Sárosi (15), e  Piola (37 do 2º).

Itália: Olivieri, Foni e Rava; Serantoni, Andreolo e Locatelli; Biavati, Meazza, Piola, Ferrari e Colaussi.

Técnico: Vittorio Pozzo

Hungria: Szabó, Polgar e Biró; Lázar, Szucs e Szalay; Sas, Zsengellér, Sárosi, Vince e Titkos.

Técnicos: Károly Dietz e Alfred Schäffer

Juiz: Georges Capdeville (França)

Auxiliares: Krist (Tchecoslováquia) e Wuthrich (Suíça).

Resumo do jogo: A Squadra Azurra com méritos é bicampeã – Depois de terem ganhado o 1º título em casa (1934), os italianos chegavam para disputar o 2º torneio com bastante confiança, até porque a Squadra Azurra chegava mais forte e renovada.

Seleção da Itália – Bicampeã Mundial (1938)

(Ao centro, com a Taça Jules Rimet, o técnico bicampeão,Vittorio Pozzo)

Basta dizer, que a Itália fora também campeã na disputa do futebol nos Jogos Olímpicos de 1936, disputado em Berlim (Alemanha). Além disso, manteve apenas dois jogadores da Seleção de 1934 (Meazza e Ferrari), vindo bastante renovada, com a dupla de zaga tirada da Seleção Olímpica de 1936 (Foni e Rava), além do médio central Andreolo, mais técnico e criativo que o argentino Monti e, na frente trouxe o atacante Piola para definir as partidas. No confronto com os húngaros, a Itália já os enfrentara 4 vezes antes da Copa, os italianos venceram 3 e empataram 1, tendo, portanto, saldo positivo a seu favor. Ademais, da mesma forma que na Copa anterior, estavam recebendo apoio do seu grande incentivador: Benito Mussoluni, pois, um dia antes da decisão, o Secretário- Geral do Partido Fascista, Achille Starace, enfatizando o pedido do Duce, enviou um telegrama aos jogadores com o seguinte teor: “ Vencer ou morrer”. Com efeito, os jogadores italianos não tinham outra opção, a não ser obter a vitória. Tanto assim, que os italianos aos 6 min. de partida abriram o placar por meio do atacante Colaussi. Logo em seguida, aos 8 min. os húngaros empataram através de Titkos, porém a Itália ficou na frente novamente aos 16 min. e 35 min. ainda da 1ª etapa, com gols de Piola e Colaussi; Placar: Itália 3 x 1 Hungria. Na segunda etapa, aos 15 min. Sárosi descontou a favor dos húngaros, entretanto, nos minutos finais, Piola ampliou  para 4 x 2, aos 37 min. Doravante, a Hungria não esboçou mais nenhuma reação, apenas esperando o tempo passar e o juiz apitar o final do jogo e da decisão da Copa. Como se vê, a Seleção da Itália era de bom nível, não sendo preciso que os jogadores se desdobrassem a ponto de colocar suas cabeças a prêmio. Não foi necessário chegar a esse ponto. Em suma, a Squadra Azurra ganhou o título por merecimento. Na verdade, a década de 1930 começou sendo dominada pelo futebol dos uruguaios. Ao saírem de campo, ou melhor, ao boicotarem as Copas de 1934 e 1938, o Uruguai deixou o caminho aberto para a Itália. Não deu outra: os italianos venceram a Copa de 1934, em casa; venceram ainda, no futebol, os Jogos Olímpicos de 1936 em Berlim (Alemanha) e venceram, também, a Copa de 1938 (França), sendo bicampeões. Enfim, se a década de 1920 a 1930, no futebol mundial, foi da Seleção Uruguaia (Celeste Olímpica), a década de 1930 a 1940 foi, sem dúvida, a década da Seleção Italiana (Squadra Azurra).

3.3.10 A 2ª GUERRA SUSPENDE A REALIZAÇÃO DE DOIS MUNDIAIS

A 2ª Guerra Mundial deflagrada em 1º de setembro de 1939 quando a Alemanha invadiu a Polônia foi nefasta também para o esporte e sobretudo para o futebol, pois como consequência interrompeu duas Copas: 1942 e 1946. Depois de 1938, vários países se interessaram em sediar o próximo torneio, entre eles, Alemanha, Argentina e Brasil. A competição, porém, somente seria restabelecida em 1950, no Brasil, em sua IV edição.

3.3.10.1 Os mais prejudicados: Leônidas da Silva e Heleno de Freitas

O maior prejuízo sob o ponto de vista esportivo e individual foi para muitos jogadores jovens europeus e sul-americanos que apareceram na Copa da França e que poderiam se notabilizar ainda mais nas Copas seguintes. O que se poderia esperar de Leônidas da Silva, que fora o artilheiro da Copa de 1938 e que estaria em 1942 com 29 anos de idade, a mesma idade de Pelé na Copa de 1970 (México), considerando ainda que Leônidas, em 1942 foi contratado pelo São Paulo Futebol Clube numa das maiores transações do futebol brasileiro. Outro prejudicado seria o atacante do Botafogo, Heleno de Freitas, que apesar do temperamento e do triste fim que o levou à morte com apenas 39 anos de idade, teve a década de 1940 como o auge de sua carreira e poderia também ter dado sua contribuição à Seleção Brasileira. Enfim, os prejuízos foram muitos, sobretudo para esses jogadores que ficaram impedidos, por questões político-bélicas, de desenvolverem o que melhor sabiam fazer – jogar futebol, para si, para o público e para os torcedores de seus países.

A despeito de a década de 1940 ter sido a década sem Copas, ambos os jogadores puderam brilhar em seus respectivos times: Leônidas, no São Paulo e Heleno, no Botafogo de Futebol e Regatas, do Rio de Janeiro. Além disso, mesmo sem Copas, eles puderam fazer parte da Seleção Brasileira nos campeonatos regionais no âmbito da América do Sul, como o sul-americano (atual Copa América) e outros torneios específicos entre o Brasil e países da região, tais como:  Copa Rio Branco (Brasil x Uruguai), Taça Oswaldo Cruz (Brasil x Paraguai) e Copa Roca (Brasil x Argentina).

 

 

Heleno de Freitas

(O Diamante Branco)

(Até hoje há quem afirme que Tesourinha, Zizinho, Heleno, Jair e Ademir formaram o maior ataque da história do futebol nacional. (Marcos Eduardo Neves, biógrafo de Heleno de Freitas). (grifou-se)

Para homenagear os dois jogadores, nada mais pertinente do que trazer à colação um jogo da Seleção Brasileira em que ambos participaram. O jogo escolhido foi o segundo jogo pela Copa Roca de 1945 em que o Brasil venceu a Argentina de goleada, por 6 x 2 e, tanto Leônidas como Heleno (que o substituiu) fizeram gols. A partida em referênciaa foi realizada no estádio de São Januário, no Rio de Janeiro, em 20/12/1945. O público presente foi de 50.000 pessoas.

Abaixo a escalação das duas equipes:

Brasil: Ari (g.), Domingos da Guia (cap.), Norival, Zezé Procópio, Rui, Jaime, Lima, Zizinho, Leônidas (Heleno, 62’), Ademir e Chico.

Técnico: Flávio Costa

Argentina: Vacca (g.), Marante, Sobrero, Sosa (Fonda, 65’), Perucca, Ramos (Battagliero, 65’), Boyé, Perdenera, Pontoni, Martino (Labruma, 65’) e Sued.

Técnico: Guillermo Stábile (1)

Nota: (1) Guillermo Stábile foi o artilheiro da Copa de 1930, no Uruguai, com 08 gols.

Juiz: Mário Vianna

Resumo do jogo: – O fim do complexo – esta vitória ou goleada estava sendo esperada pelos brasileiros desde o ano de 1939. Na verdade, o Brasil vencera a Argentina, também, na Copa Roca de 1940. Todavia, essa vitória do Brasil seria tão despropositada levando-se em conta  que ela estava sendo entremeada por duas derrotas para a Argentina no mesmo torneio (a primeira de 3 x 1 em 05/03/1940 no primeiro jogo e a segunda no terceiro jogo da Copa Roca, por 5 x 1, em 17/03/1940). Para muitos torcedores tratava-se de uma “marmelada” para ensejar um terceiro jogo. Aliás, no último jogo, houve até um pênalti que Arico Suárez, adredemente, chutou para fora. O Estádio de São Januário estava superlotado (50.000 torcedores) e havia um movimento de desagravo às vaias dadas à Seleção Brasileira no Pacaembu/SPPerrucca derrubou Leônidas na grande área. Zizinho cobrou e o goleiro Vacca defendeu. Outro pênalti, só que, desta feita, em favor dos “hermanos”, num lance em que Zezé Procópio derrubou Sued dentro da área. Perdenera (2) cobrou e converteu. O estádio gelou, parecia até que não seria desta vez, entretanto, o gol de Perdenera não abalou o escrete nacional que foi à frente. Leônidas lançou Ademir, que em velocidade se infiltrou na defesa adversária, alcançou a pelota e, de dentro da área, arrematou forte, empatando a partida. Nova penalidade máxima a favor do Brasil. No lance, Ademir cerrou em velocidade, progrediu e ia ficar cara-a-cara com Vacca, mas antes disso levou uma rasteira de Marante. Leônidas se apresentou para cobrar e converteu, o que seria seu último gol pelo escrete nacional. Brasil 2 x 1. Dada a saída para a fase final, a defesa brasileira ficou dormindo, os argentinos trocaram passes rápidos e curtos, permitindo que Martino, cara-a-cara com Rui, empatasse o jogo (2  x 2). Em seguida, Zizinho trabalhou a bola próximo á intermediária adversária e notou Chico fechando pelo miolo e tocou para ele. O ponta-esquerda (que foi o titular na decisão da Copa de 1950), emendou de primeira para o barbante angentino. Brasil 3 x 2. O quanto gol não tardou. Desta feita, já com Heleno de Freitas em campo (substituiu Leônidas). No lance, Zizinho e Heleno tabelaram. Heleno recebeu os zagueiros. Brasil 4 x 2. O time brasileiro tranquilizou-se. Chico avançou pela esquerda, driblou um adversário e cruzou para Heleno assinalar o quinto gol brasileiro. A cinco minutos do final do jogo, Ademir mandou um petardo de fora da área e assinalou o sexto gol brasileiro. Placar final: Brasil 6 x 2  Argentina. A torcida deixou o Estádio de São Januário eufórica e de alma lavada. Gols: Perdernera (30’, pênalti), Ademir (35’), Leônidas (38’, pênalti), Martino (46’), Chico (60’), Zizinho (65’), Heleno (84’), e Ademir (85’).

Notas: (2) O resumo dos jogos da Seleção Brasileira foi feito com base no Livro Todos os jogos do Brasil/Ivan Soter…[et al.]- São Paulo: Ed. Abril, 2006. Apesar do bom conteúdo da referida fonte de consulta, nem sempre as informações batem. Por exemplo, à pág. 85, onde se encontra tal resumo, no primeiro gol argentino (30’ do 1º tempo) consta que o gol (de pênalti) fora assinalado por Labruna. Ora, analisando-se a escalação da Argentina, vê-se que o atacante Labruma entrou na segunda etapa (aos 20’ do segunto tempo ou aos 65’ de jogo). Mais adiante, na descrição do 4º gol do Brasil, consta que Zizinho e Heleno tabelaram, mas não fica claro que fez o gol. Apesar disso, concluí que o gol foi de Zizinho, pelo resumo que fica acima do quadro que mostra as duas escalações, mas não pela descrição. 

O tempo é implacável. Leônidas despontou na Copa de 1938 como o Homem Borracha ou o Diamante Negro foi o artilheiro da competição com 08 gols e, doravante o ídolo nacional, mas em 1945/46, já era veterano e, no esporte como o futebol, que depende fundamentalmente do aspecto físico, a idade começava a chegar e naturalmente, mesmo que contra sua vontade, seria, em questão de tempo substituído no ataque da seleção brasileira. No jogo acima escolhido, o técnico Flávio Costa não colocou os dois em campo ao mesmo tempo. Reparem que Heleno de Freitas  substituiu Leônidas da Silva, aos 62 minutos de jogo, aos 17 minutos da segunda etapa, portanto.

Seleção Brasileira – Sul-Americano de 1946

Escalação: Da esquerda para a direita (comissão técnica e jogadores):

Johnson (massagista), em pé.

1ª fila (alto): Domingos, Aleixo, Rui, Leônidas, Zezé Procópio e Chico.

2ª fila: Ademir, Tesourinha, Texeirinha, Danilo, Jaime e Hermógenes (auxiliar-técnico);

3ª fila: Nilton, Ivan, o dirigente Abelard Noronha, Flávio Costa (técnico), Dr. Giffoni, AugustoNorival;

4ª fila: Lima, Zizinho , Luís Borracha, Lelé, Ari e Heleno.

Nesse particular, traz-se à colação outro jogo (ocorrido antes, em fevereiro), pelo sul-americano de 1945, em que Heleno de Freitas já despontava como um dos grantes atacantes do selecionado nacional. Desta feita, recorre-se ao jornalista Marcos Eduardo Neves, que escreveu a biografia de Heleno, sob o título: Nunca houve um homem como HELENO, da editora Zahar. No Capítulo 11 (O Diamante Branco, p. 107-108), consta o seguinte:

Em 28 de fevereiro, mais de 80 mil pessos superlotavam o Estádio Nacional de Santiago. O Brasil, de camisas e calções brancos, enfrentava o Chile no que deveria ser a decisão do sul-americano. Não foi porque, na preliminar, os argentinos venceram o Uruguai, tornando-se campeões. Contudo, a massa encarou a decisão do vice como se fosse a grande final. Pela falta de alambrados no estádio, constanes invasões atrasaram a entrada em campo dos escretes. Na hora em que surgiram, o interminável foguetório serviu de estímulo para o centroavante brasileiro, àquela altura o grande nome do torneio.

O Brasil entrou com Oberdan, Domingos e Nilton Canegal; Biguá, Rui e Alfredo dos Santos; Tesourinha, Zizinho, Heleno, Jair e Ademir. Aos 18 minutos, Heleno tocou na esquerda pra jair, que preparou para Ademir. O atacante pernambucano do Vasco centrou da canhota para o meio da área, e Heleno testou firme para as redes. Estava selada a vitória brasileira. Era a consagração de Heleno de Freitas, artilheiro do campeonato. O goleador atingira seu ápice durante a competição; foram suas mais destacadas apresentações em toda a sua carreira. A torcida da casa o aplaudiu de pé quando ele deixou o campo, acenando lenços brnacos. Uma cena de arrepiar qualquer mortal. Menos Heleno: (grifou-se).

– A falta do título constitui decepção para mim. Nós merecíamos – resmungou, ao sair o estádio.

Analisando a competição para um jonal carioca, Heleno economizou. René Pontoni, prestigiado atacante do San Lorenzo, foi o centroavante que mais o impressionou. Sobre Norberto “Tucho” Méndez, o carrasco brasileiro na competição:

– É igual a tantos outros.

“Os que esperavam ver em Santiago Leônidas viram um jogador impressionante, que chegou a ofuscar o prestígio de um Pontoni, da equipe argentina, terminando por merecer a classificação de centroavante número 1 do campeonato”, estampava o Sport Ilustrado, refereindo-se a Heleno.

Diria Ademir Menezes:

– Heleno jogou no Chile como poucas vezes vi alguém jogar.

Terror das defesas, valente e audacioso, entregava-se às disputas, invadia áreas sem temer chuteiras desleais, vibrava com o jogo. Críticos de toda a América o elegeram o mais completo centroavante do continente. Ao desembarcar no Brasil, uma banda militar tocava suas músicas prediletas. Em meio a abraços e gritos de torcedores, um repórter do Jornal dos Sports o indagou:

– Houve exageros na concentração, Heleno?

–  Estou com medo desta pergunta! – sorriu.

Mas respondeu:

– A concentraçãoem Macul, tão severa, tão claustral, prejudicou-se um pouco. Fora isso saiu tudo perfeito, ou quase. Vivemos em família, comandados por duas figuras extraordinárias: o doutor Lyra Filho e o Flávio Costa.

Ary Barroso, o “locutor da gaitinha”, aproveitou a data para batizá-lo como o “Diamante Branco”. Nas ruas, um cordel tomou a boca do povo:

Nascido em São João Nepomuceno

Lá viveu com seus pais

Esse Heleno de Freitas

Que deixou Leônidas para trás

Os elogios não pararam por aí. Até hoje há quem afirme que Tesourinha, Zizinho, Heleno, Jair e Ademir formaram o maior ataque da história do futebol nacional. (Nunca houve um homem como Heleno, … p. 107-108).

3.3.10.2 – Heleno seria o substituto natural de Leônidas

Traz-se a conhecimento, também, a parte conclusiva do Capítulo 12. O “Clube dos Cafajestes” 1945 do citado livro (p. 125-126),  na qual o o biógrafo de Heleno de Freitas resume a participação de referido jogador na Copa Roca de 1945, nos seguintes termos:

[…] como o Brasil perdeu o primeiro dos três duelos para a Argentina, comprovando as teses do “platinismo, seu retorno ao escrete foi antecipado. E o Brasil, com ele, deu de seis nos rivais. Seis  dois, em 20 de dezembro, com Heleno brilhante desde o momento em que entrou na segunda etapa, para tomar de vez a posição de Leônidas. Acabava um complexo. Estavam devolvidos, com juro e correção monetária, aquels 5 x 1 sofridos em 1939, que baixaram por meia década nossa estima perante os platinos.

Três dias depois, antevéspera de Natal, brasileiros e argentinos tornavam a s encarar. O vencedor herdaria a Copa Roca. Heleno abriu o placar de São Januário após o 0 x 0 do primeiro tempo. No passeio dado pela seleção, de ruim mesmo só o incidente com Ademir – pacato toda a vida, num choque casual o vascaíno fraturou a tíbia do beque Battagliero.

A decisão terminou 3 x 1. Com o Brasil campeão, festa para Heleno de Freitas, o craque do jogo. Estava eleito aos olhos do povo o sucessor legítimo e Leõnidas da Silva.

Reparem que na referida passagem, o jornalista faz referência ao jogo por nós escolhido, cujo resumo se encontra acima, quando o Brasil venceu a Argentina por 6 x 2 e discorre também sobre a decisão da Copa Roca de 1945, quando o Brasil  venceu novamente os hermanos por 3 x 1 e sagrou-se campeão do torneio e, desta feita quem começou jogando foi Heleno, sendo substituído pelo Diamante Negro (Leônidas da Silva), aos 77’ (32 minutos da segunda etapa). Registre-se que a decisão da Copa Roca em referência ocorreu em 23/12/1945, no mesmo local e estádio. Registre-se que os gols do Brasil na decisão foram assinalados por Heleno (59’), Lima (84’) e Fonda (87’, contra). O gol da Argentina foi anotado por Martino (64’).

Enfim, a vida de jogador de futebol é assim mesmo: entra Friedenreich, sai Friedenriech, entra Leônidas; sai Leônidas, entra Heleno ou Ademir; sai  Ademir entra Pelé; sai Pelé entra Amarildo; sai Amarildo, entra Pelé; sai Pelé entra Romário; sai Romário, entra Ronaldo; sai Ronaldo entra Neymar; sai …., entra … e, assim por diante.

3.3.10.3 – Heleno é campeão carioca pelo Vasco da Gama

Registre-se, por último, que Heleno de Freitas, apesar de ter sido um dos maiores ídolos do Botafogo (era pré-Nilton Santos e Garrincha), nunca foi campeão pelo alvinegro da estrela solitária. Só conseguiu esse feito quando transferiu-se para o Vasco da Gama, em 1949 e, juntamente com Ademir e Cia, aquele timaço (Expresso da Vitória), chegou ao título de campeão carioca, conforme se vê na foto abaixo:

 

Vaso da Gama: Campeão Carioca de 1949

Em pé: Eli, Barbosa, Laerte, Augusto, Danilo, Alfredo e Mário Américo (massagista).

Agachados: Nestor, Ademir, Heleno (1), Maneca e Chico. 

Nota: (1) Na temporada Heleno fez 10 gols. Ficou atrás de Ipojucan (12), Maneca (12) e do artilheiro da competição, Ademir, que assinalou 31 gols. (História dos Campeonatos Cariocas de Futebol, 1906/2010, …, p . 267)

3.3.10.4 – Heleno poderia ter sido convocado para o Mundial de 1950

Para alguns, dado o temperamento explosivo de Heleno de Freitas, pode parecer um absurdo se afirmar que o referido jogador poderia ter integrado o elenco da Seleção Brasileira que disputou o Mundial de 1950. Não é uma hipótese absurda e explico à luz da seguinte linha de argumentação:

É certo que Heleno carregou consigo todo o arsenal de problemas que criou no Botafogo durante todo o período em que jogou (praticamente uma década:1939-1948) pelo Alvinegro de General Severiano. Em 1948 transferiu-se para o Boca Juniors da Argentina e para lá levou também os problemas. Tanto assim, que logo no ano seguinte estava de volta pedindo para jogar no seu time de coração – o Botafogo, mas devido aos problemas que já houvera criado no clube e que provocaram sua saída conturbada, os dirigentes do clube não o aceitaram. Foi então que ele tentou ser contratado pelo Flamengo, onde também não deu certo e acabou mesmo indo buscar ajuda  no Vasco da Gama, do técnico Flávio Costa, que resolveu dar-lhe nova chance.

No Vasco, em 1949, como o Expresso da Vitória, formado, entre outros, por Barbosa, Augusto, Danilo, Ademir e Chico, chegou enfim a ser campeão carioca naquele ano. Heleno se recuperou, voltou a jogar bem, mas, ao mesmo tempo continuou a dar problemas, se desentendendo com os próprios jogadores dentro e fora de campo, implicando ora com a torcida ora com o próprio técnico Flávio Costa que lhe dera a nova chance, enfim, sendo a ovelha negra do time a ponto de não mais poder fazer parte do elenco, mesmo o time tendo conseguido o título do estadual.

Ora, ás vésperas do Mundial de 1950 aqui no Brasil e com o Maracanã sendo construído para a Copa do Mundo e, levando-se em conta que ele – Heleno estava integrando o Vasco da Gama, o “Expresso da Vitória”, base da Seleção Brasileira que disputaria a Copa do Mundo naquele ano e seria dirigida pelo técnico de seu time – Flávio Costa, era natural nas CNTP (Condições Normais de Temperatura e Pressão), que Heleno se comportasse de modo que pudesse ser convocado para o Mundial. Estava, á época, com cerca de 30 anos e poderia sim, ser convocado, mesmo que ficasse na reserva, seria um orgulho integrar o elenco do Brasil em 1950. Mas Heleno, ao contrário, provavelmente já sendo afetado por problemas de saúde, preferiu ir jogar, sob a promessa de ganhar dinheiro fácil, numa Liga Pirata na Colômbia e deixar o Brasil, a Seleção e a família de lado. Uma decisão que só uma pessoa que não estivesse em pleno domínio de suas faculdades mentais tomaria.

Em reforço ao acima aduzido, traz-se à colação, a seguinte passagem da biografia de Heleno (Capítulo 20. Enfim, campeão carioca -1949, p. 206), que mostra justamente a decisão de Flávio Costa de não mais convocá-lo:

Com o Maracanã sendo levantado, tudo girava em torno da 4ª Copa do Mundo. Quando, em 22 de dezembro de 1949, Flávio Costa enumerou os trinta pré-selecionados para o mundial, convocou para o comando do ataque Ademir, Gringo e Geada. A ausência de Heleno de Freitas surpreendeu a mídia: “É de estranhar, a despeito do maior centroavante do futebol brasileiro, a sua não inclusão no scratch”, externou o Jornal dos Sports.

Todo-poderoso, Flávio Costa tinha carta branca da CBD para escolher o time. Personalidade forte, nunca aceitou intromissão em seu trabalho. Se o público queria Heleno, que o levasse para casa, embrulhado para presente. Em equipe sua, jamais. Assim, mesmo com o passe preso ao Vasco, Heleno não pestanejou diante de um convite de um Eldorado qu se fromava na Colômbia: (grifou-se)

– Sou um aventureiro. Gosto de bater pernas, e a situação “pirata” da liga me agrada. Estou exausto de paredros e cartolas.

E, no Capítulo seguinte (21. À beira de um ataque de nervos, 1950, p. 209), complementa o citado autor:

Em 25 de fevereiro de 1950, após dois meses de chá de cadeira da diretoria cruz-maltina, a capital da República era informada de que Heleno se encontrava de partida para o Eldorado. Por 15 mil dólares de luvas, mais 2 mil dólares de salários – sem contar as gordas gratificações por vitória -, o artilheiro já havia marcado a data do voo: 9 de março.

A menos de cem dias do início da Copa, Heleno de Freitas dava as costas para o Brasil. (grifou-se)

Heleno de Freitas não chegou a passar um ano na Colômbia. Não supotou ficar longe do Rio de Janeiro e do Botafogo, apesar de seu passe estar vinculado ao Vasco. No final do ano estava de volta e encontraria todas as portas fechadas. Começaria o seu martírio que só terminaria com sua morte precoce, aos 39 anos de idade. Só mesmo lendo toda a biografia de Heleno de Freitas escrita pelo jornalista Marcos Eduardo Neves e também assistir ao filme de José Henrique Fonseca estrelado por Rodrigo Santoro e Aline Moraes sob o título HELENO para compreender a vida desse grande jogador que em 304 jogos como profissional, assinalou 249 gols. Nas palavras de Ruy Castro foram 249 gols que valeram por mil. Pelo Botafogp de Futebol e Regatas Heleno assinalou 204 gols em 234 jogos (média de 0,87 gols/partida).

3.3.11 – A COPA DE 1938 E A ERA DO RÁDIO

A Copa da França se notabilizou, também, por ter sido a primeira em que uma partida de futebol foi transmitida, via Rádio, diretamente da Europa para o Brasil – o jogo Brasil 6 x 5 Polônia. Na verdade, desde a década de 1920 que, aqui no Brasil, algumas emissoras de rádio já apresentavam reportagens curtas dos jogos de futebol. A primeira partida com transmissão integral teria ocorrido em 19 de julho de 1931, quando, do campo do São Paulo da Floresta, o locutor Nicolau Tuma transmitiu pela Rádio Educadora Paulista a vitória por 6 x 4 da Seleção Paulista frente a Seleção Paranaense pelo 8º Campeonato Brasileiro da época.

Porém, somente com a profissionalização do futebol, em 1933, é que a transmissão via rádio das partidas de futebol tornou-se comum. Para se ter ideia do crescimento do rádio como um dos instrumentos de transmissão dos jogos de futebol dado à popularidade que o esporte já alcançava àquela época, só na capital do Estado de São Paulo, em 1937, existiam dez emissoras transmitindo partidas completas do Campeonato Paulista.

Nesses primeiros tempos, uma curiosidade merece destaque – os jogadores não tinham suas camisas numeradas, logo, era necessário que os locutores, antes das partidas, fossem apresentados aos jogadores a fim de que pudessem memorizar as características físicas dos atletas e, assim poderem melhor narrar os jogos.

A primeira transmissão internacional ocorreu em 27 de dezembro de 1936, quando, diretamente de Buenos Aires (Argentina), o locutor Gagliano Neto, por meio das ondas curtas da Rádio Cruzeiro do Sul, de São Paulo, a partida Brasil 3 x 2 Peru pelo Campeonato Sul-Americano (atual Copa América) daquele ano. Além disso, Gagliano Neto introduziu uma novidade, o comentarista, que faria, doravante, no intervalo, a análise dos jogos, atribuição essa que coube ao gaúcho Ary Lund. Porém, a novidade não pegou na Copa de 1938, pois somente a partir de 1940 é que foram estabelecidos dois comentaristas fixos – Blota Júnior e Geraldo Bretas, pela Rádio Cruzeiro do Sul.

No ano seguinte, em 1º de fevereiro de 1937, desta feita no Rio de Janeiro, Ary Barroso, torcedor fanático do Flamengo e, também famoso compositor da MPB (Música Popular Brasileira), autor, entre outras músicas, de Aquarela do Brasil, composta em 1939 e, como locutor, narrou pela Rádio Cruzeiro do Sul, a final do sul-americano de 1937, vencido pela Argentina.

O jogo Brasil 6 x 5 Polônia foi o primeiro a ser transmitido diretamente via rádio para o Brasil, também pelo narrador Gagliano Neto, permitindo, assim, que os brasileiros pudessem acompanhar ao vivo um jogo da Copa do Mundo. O speaker Gagliano Neto, da rede Byington, transmitiu o jogo por um “pool” de emissoras, formado pelas rádios Clube do Brasil PRA-3 e Cruzeiro do Sul PRD-2 (ambas do Rio de Janeiro), incluindo as filiais Cosmos PRE-7 e Cruzeiro do Sul PRB-6 (ambas de São Paulo). Outras emissoras entraram como associadas, como a rádio Clube de Santos PRB-4 e, à medida que o Brasil ia avançando no torneio, outras emissoras foram se integrando ao grupo.

Como o rádio, à época, era um artigo de luxo, digamos assim, nas principais cidades brasileiras e, posteriormente, também, nas médias e pequenas cidades, foram instalados alto-falantes em locais próprios, ao ar livre, para que os torcedores pudessem acompanhar os jogos da Seleção Brasileira.

O sucesso da transmissão dos jogos via rádio foi tanto que doravante praticamente todas as emissoras passaram a dedicar espaço ao futebol em sua programação regular.

Assim como os craques em campo, havia craques também com o microfone na mão, narradores de futebol que faziam o torcedor praticamente ver a partida na imaginação, dada a facilidade e a velocidade com que os speakers usavam as palavras na narração e  faziam a descrição dos lances, sobretudo quando as jogadas resultavam em gol. O único problema era que comumente o rádio chiava, a voz desaparecia temporariamente e, nesse ínterim, o gol saía. Quando a voz do narrador era restabelecida, o placar às vezes tinha mudado. Essa pequena dificuldade tecnológica, todavia, não tirava o brilho da transmissão. Ouvir, por exemplo, o locutor Pedro Luiz irradiando, por exemplo, um dos jogos do Brasil nas Copas de 1958 ou 1962, era como se estivesse vendo o jogo ao vivo.

3.3.12 – CURIOSIDADES SOBRE A COPA DE 1938

3.3.12.1 – Leônidas da Silva – Na Copa de 1934 (Itália), o Diamante Negro deu apenas um chute no único jogo da Seleção Brasileira (Espanha 3 x 1 Brasil) e fez o gol do Brasil. Na Copa de 1938, foi o artilheiro da competição com 08 (oito) gols.

3.3.12.2 – 1º W.O. das Copas – na Copa de 1938 aconteceu o primeiro e único W.O. das Copas. A Áustria fora anexada pela Alemanha de Hitler, em março de 1938. A Seleção da Áustria deveria jogar contra a Suécia, mas não apareceu para o jogo. Cinco atletas defenderam a Alemanha, que acabou sendo eliminada pela Suíça.

3.3.12.3 – Gol descalço – diz a lenda que Leônidas da Silva teria marcado um de seus três gols na vitória do Brasil contra a Polônia com um dos pés descalço. Sua chuteira teria voado em um lance anterior e o árbitro (Ivam Eklind) não teria visto o lance, talvez porque o campo estava um lamaçal em virtude da chuva que caíra recentemente e durante a partida.

3.3.12.4 – Artilheiro contra o Brasil – o atacante polonês Ernest Otton Wilimowski fez 04 (quatro) gols na partida Brasil 6 x 5 Polônia. Wilimowski entrou para a história como o jogador que fez mais gols na Seleção Brasileira em um único jogo.

 

3.3.13 – A SELEÇÃO MUNDIAL DA COPA DE 1938

Baseado em estudo de grupo técnico da FIFA, a Seleção Mundial da Copa de 1938 é escalada da seguinte maneira:

Goleiro: Planicka (TCH)

Defensores: Rava (ITA) e Domingos da Guia (BRA)

Linha Média: Locatelli (ITA), Foni (ITA) e Andreolo (ITA)

Atacantes: Colaussi (ITA), Zsengeller (HUN), Leônidas da Silva (BRA), Piola (ITA), e Sarosi (HUN).

O Melhor da Copa: Sílvio Piola (atacante da Itália)

Sílvio Piola

3.3.14 RESUMO DA COPA DE 1938

Campeão: Itália

Vice: Hungria

3º lugar: Brasil

4º lugar: Suécia

Seleções: 15

Jogos: 18

Gols: 84

Média de Gols: Gols/(nº Jogos) = (84/18) = 4,70

Público: 376.000

Média de público por jogo: 20.888

Melhor ataque: Hungria (15 gols)

Pior ataque: Holanda e Índias Orientais Holandesas (0 gol)

Melhor defesa: Noruega (2 gols)

Pior defesa: Cuba (12 gols)

Artilheiro da Copa: Leônidas da Silva (Brasil), com 08 gols

Leônidas da Silva (O Diamante Negro)

(Artilheiro da Copa de 1938, com 08 gols)

 

3.3.15 COLOCAÇÃO FINAL  DAS SELEÇÕES NA COPA DE 1938

CLASSIFICAÇÃO

SELEÇÃO/PAÍS/NOME

01

Campeão/ã

Itália

02

Vice-campeã

Hungria

03

3º Lugar

Brasil

04

4º Lugar

Suécia

05

5º Lugar

Tchecoslováquia

06

6º Lugar

Suíça

07

7º Lugar

Cuba

08

8º Lugar

França

09

9º Lugar

Romênia

10

10º Lugar

Alemanha

11

11º Lugar

Polônia

12

12º Lugar

Noruega

13

13º Lugar

Bélgica

14

14º Lugar

Holanda

15

15º Lugar

Antilhas Holandesas

16

16º Lugar

 

3.3.16 CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE A COPA DE 1938

A despeito da pouca participação dos países sul-americanos na competição e forte representação dos europeus, a Copa de 1938 na França foi um sucesso, até porque realizada em homenagem ao presidente (francês) da FIFA que mais despendeu esforços para que o torneio se tornasse realidade (Jules Rimet). Estava, pois, a Copa, consolidada e institucionalizada. Apenas um fato político-bélico como a 2ª Guerra Mundial poderia interromper os torneios futuros. O Brasil, diferentemente das competições anteriores mostrou para o mundo, mesmo sem adotar ainda o sistema W-M, mas com jogadores espetaculares, individualistas, porém extremamente técnicos (v.g.(1) Leônidas da Silva), que praticava um futebol de alto nível e que, se não fossem as adversidades que enfrentou (arbitragens parciais, longas distância percorridas, etc.) poderia até ter vencido o torneio. Ao final, a Itália mereceria o título de bicampeã. Todavia, o Brasil, ao conquistar o 3º lugar, dava mostras que doravante mereceria o respeito e a atenção da entidade que administrava o futebol no mundo – a FIFA. Tanto assim, que seria o país escolhido para sediar o torneio em sua IV edição (1950).

Nota: (1): v.g – iniciais da expressão latina verbi gratia que em Português significa “por exemplo”.

3.3.17 BIBLIOGRAFIA

1.         Murray, Bill. Uma história do futebol. Tradução Carlos Zslak. 1ª ed. São Paulo, Hedra, 2000.

2.         Placar Especial – A Saga da Jules Rimet: a história das copas de 1930 a 1970, por Max Gehringer. Fascículo 3/1938 (França). Editora Abril, São Paulo, 2006.

3.         Todos os jogos do Brasil/Ivan Soter…[et al.]- São Paulo: Ed. Abril, 2006. (*)

4.         Gehringer, Max. Almanaque dos mundiais por Max Gehringer: os mais curiosos casos e histórias de 1930 a 2006 – São Paulo: Ed Globo, 2010.

5.         Almanaque Abril/2012, Ed. Abril, ano 38, São Paulo, 2012.

6.         Dossiê Placar História das Copas1930 a 2006: 1930 –1934 – 1938-1950 – Uruguai, Itália, França e Brasil/Abril Coleções. – São Paulo: Abril, 2010. 48 p.; 12 x 18 cm. + DVD. – (Coleção Copa do Mundo Fifa 1930-2006; v. 4).

7.         Vicentino, Cláudio. História para o ensino médio: história geral e do Brasil: volume único/Cláudio Vicentino, Gianpaolo Dorigo. – São Paulo: Scipione, 2001.- (Série Parâmetros).

8.         Enciclopédia do Futebol Brasileiro, supervisão editorial Marcelo Duarte, edição Danilo Valentini e Alex Borba (arte), v. 2 – Arte Editorial, Rio de Janeiro,  2001.

9. Ribeiro, André. Diamante negro: biografia de Leônidas da Silva. 2 ed. São Paulo, Cia dos Livros, 2010.

10. Galeano, Eduardo. Futebol ao sol e à sombra. Tradução de Eric Nepomuceno e Maria do Carmo Brito, 3 ed. Porto Alegre, L&PM, 2004.

11. Neves, Marcos Eduardo. Nunca houve um homem como Heleno. Rio de Janeiro, Ed. Zahar, 2012.

13. Assaf, Roberto. Martins, Clovis. História dos Campeonatos Cariocas de Futebol, 1906-2010. Rio de Janeiro: Maquinária, 2010.

 (*) Os outros autores desta obra são: André Fontenelle, Mario Levi Schwartz, Dennis Woods e Valmir Storti.

 

3.4 IV (4ª) COPA DO MUNDO (1950):

BRASIL

3.4.1 POR QUE NO BRASIL?

Período de realização: 24 de junho a 16 de julho de 1950

Terminada a Copa de 1938 e, em tempos de paz, a discussão da FIFA era sobre quem seriam os países a sediar as Copas seguintes (1942 e 1946). Para sediar a próxima Copa (1942), Alemanha, Argentina e Brasil apresentaram suas candidaturas a ser o país-sede. Dentre os três países acima, a Alemanha era a candidatura mais forte, sobretudo em função do sucesso obtido pelos alemães na organização dos Jogos Olímpicos, de Berlim (1936).

Veio então a 2ª Guerra Mundial, deflagrada em 1º de outubro de 1939 com a invasão da Polônia pela Alemanha mudando toda a programação das Copas vindouras. Em função, pois, do conflito bélico, a próxima Copa somente seria realizada em 1950, no Brasil.

Um dos fortes argumentos da Argentina era o de que o referido país fora preterido duas vezes em sediar as Copas de 1930 (Uruguai) e de 1938 (França). Logo, a Argentina mereceria ser o país-sede a ser escolhido.

A candidatura do Brasil baseava-se no fato de o nosso país ter participado de todas as Copas anteriores (1930, 1934 e 1938), inclusive com uma bela participação na última (1938), quando o Brasil ficou em 3º lugar e teve o artilheiro da competição (Leônidas da Silva). O representante da CBD, jornalista Célio Negreiros de Barros, reforçando o interesse do Brasil em sediar a competição alegou que o Brasil fora o único país sul-americano a enviar uma seleção a Europa nos últimos torneios (1934 e 1938).

Aliado a isso, Brasil e Argentina alegavam que se as duas últimas competições tinham sido realizadas na Europa (Itália e França), pelo rodízio a ser estabelecido, a próxima Copa deveria ser realizada em continente sul-americano, portanto, no Brasil ou na Argentina.

Mesmo com os bons argumentos dos países sul-americanos, em tempos de paz, a ordem de preferência da FIFA, sob a presidência de Jules Rimet, seria a seguinte: 1º – Alemanha; 2º – Argentina, se a Alemanha desistisse da escolha; e 3º – Brasil, caso a Argentina desistisse da indicação.

A deflagração do conflito bélico mudou tudo. As Copas de 1942 e de 1946 foram canceladas. A Alemanha, causadora do conflito bélico seria afastada da candidatura e a Argentina, por questões políticas interna e de estrutura de seu futebol desistiria de participar.

Após a Guerra, a FIFA se reuniu em 25 de julho de 1946, em Luxemburgo para decidir quando e onde seria realizada a próxima competição. Não foi difícil, pois dadas às circunstâncias do pós-guerra, o único país interessado e disposto a sediar a próxima Copa seria o Brasil.

Além da decisão de que a Copa seria no Brasil, outras decisões importantes nessa reunião foram tomadas, a saber:

1ª) homenagear o terceiro presidente da FIFA há 25 anos à frente da entidade, rebatizando o torneio para Copa Jules Rimet;

2ª) designar a Suíça como país-sede da Copa de 1954;

3ª) aceitar a reintegração da Inglaterra e dos demais países britânicos (Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte) como filiados à FIFA, uma vez que os mesmos haviam se desligado da entidade em 1928;

4ª) expulsar Alemanha e Japão da entidade, mas não a Itália, que formara juntamente com os dois outros os países do Eixo. A iniciativa de não expulsar a Itália deu-se em função do ato do Presidente da Federação Italiana, Ottorino Barassi, em salvar a Taça Jules Rimet no período de guerra, quando para conservar a taça ganha na Copa da França (1938), levou-a secretamente para a Suíça (depositado no cofre da FIFA, em Zurique), até o final da Guerra (1945).

 

 

3.4.2 O PÔSTER DA COPA DE 1950

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

3.4.3 AS ELIMINATÓRIAS PARA A COPA DE 1950

Na Copa de 1950, de forma semelhante a anterior e, considerando o número de vagas (16) para disputar o mundial, houve o interesse de muitos países, sobretudo dos países sul-americanos, daí porque houve a fase classificatória com a realização das eliminatórias.

Para os países europeus, contudo, por circunstâncias decorrentes do conflito bélico (2ª Guerra Mundial) a maioria dos países europeus nem sequer se interessou em participar da competição, pois a preocupação maior era outra – reconstruir o país da destruição provocada pelo conflito. A reconstrução abrangeria não só levantar muros, casas, pontes, edifícios, etc., mas sobretudo reconstruir os países moral e economicamente. Logo, o futebol ficaria em segundo plano, até mesmo para os que apreciavam o esporte.

A despeito disso, houve de certa forma uma boa participação dos europeus com seis países integrando as treze seleções participantes do torneio.

Para as 16 vagas oferecidas houve, a princípio, 32 países (Américas: do Norte e do Sul e Europa) inscritos para disputar as Eliminatórias da Copa do Mundo de 1950, porém, conforme ocorrera nas Copas anteriores (1930, 1934 e 1938) houve várias desistências antes mesmo do início do sorteio dos grupos.

Finalmente 32 países se declararam aptas a disputarem as 14 vagas disponíveis. 14 vagas? Não seriam 16? Sim, seriam 16, porém, considerando que o país-sede ou anfitrião (Brasil) e o campeão anterior (Itália) já estariam previamente classificados, sobrariam somente 14 vagas a serem disputadas.

Seriam como visto, 16 vagas, no entanto, na prática se tornaram apenas 13 vagas, uma vez que a Escócia, embora tenha obtido sua classificação legitimamente junto com a Inglaterra no Grupo 1, por questões internas (somente iria à Copa se fosse a vencedora do Grupo 1, porém, ficou em 2º lugar), cumprindo orgulhosamente a promessa de não participar do torneio.

Durante o período das Eliminatórias (32 países inscritos, 24 países na disputa para 16 vagas, reduzidas para 13 depois de 3 desistências) foram realizadas 27 partidas e marcados 130 gols, com média de  4,8 gols por jogo.

Semelhante ao Regulamento da Copa anterior (1938), os países inscritos foram divididos em 10 grupos conforme a região geográfica. Os grupos europeus ou sul-americanos com quatro seleções classificavam duas para a competição, enquanto os demais grupos com até três seleções classificavam apenas uma, com exceção dos Grupos 7 e 9, que com apenas três participantes, classificaram duas seleções, conforme adiante expendido.

Os demais grupos classificavam apenas uma seleção.

Assim, as eliminatórias da Copa de 1950, foram disputadas por meio de grupos. Houve a formação de 10 grupos, assim distribuídos:

Grupo  1: Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales

LOCAL

DATA

JOGOS/PLACAR

Belfast

1º/10/1949

Irlanda do Norte 2 x 8 Escócia

Cardife

15/10/1949

País de Gales 1 x 4 Inglaterra

Glasgow

09/11/1949

Escócia 2 x 0 País de Gales

Manchester

16/11/1949

Inglaterra 9 x 2 Irlanda do Norte

Cardife

08/03/1950

País de Gales 0 x 0 Irlanda do Norte

Glasgow

15/04/1950

Escócia 0 x 1 Inglaterra

Classificadas: Inglaterra e Escócia (1)

Nota: (1) –  Observar que esses são os países britânicos que criaram as regras do futebol. As eliminatórias foram também a edição da FA Cup, o tradicional torneio interseleções. Os dirigentes da Federação Escocesa decidiram que somente viriam ao Brasil se a Escócia fosse a campeã do torneio. Como ficaram em segundo lugar, cumpriram a promessa e somente a Inglaterra (pela 1ª vez) participou da competição. Com a desistência da Escócia o Grupo IV da Copa de 1950 cuja previsão era quatro equipes, passaria a ter apenas três.

Grupo  2: Áustria(1), Turquia e Síria

LOCAL

DATA

JOGOS/PLACAR

Ancara

20/11/1949

Turquia 7 x 0 Síria

Classificada: Turquia (2)

Notas: (1) – A Áustria, alegando estar renovando a Seleção, desistiu de participa r da Copa antes de entrar em campo. (2) – A vaga seria então disputada em jogos de ida e volta entre Turquia e Síria. Ao tomar uma goleada da Turquia, a Síria nem sequer fez o jogo de volta, classificando-se automaticamente a Turquia, que, porém, alegando “insuperáveis dificuldades”, desistiram de participar do torneio um mês antes do início da competição. Com a desistência da Turquia o Grupo IV da Copa de 1950 cuja previsão era quatro equipes, passaria a ter apenas dois.  

Grupo 3 (1): Iugoslávia, Israel e França

LOCAL

DATA

JOGOS/PLACAR

Belgrado

21/08/1949

Iugoslávia 6 x 0 Israel

Tel-Aviv

18/09/1949

Israel 2 x 5 Iugoslávia

Belgrado

09/10/1949

Iugoslávia 1 x 1 França

Paris

30/10/1949

França 1 x 1 Iugoslávia

Florença

11/12/1949

Iugoslávia 3 x 2 França

Classificada: Iugoslávia (1)

Nota: (1) Grupo disputado em duas fases: na 1ª fase, Iugoslávia e Israel (recentemente elevada à categoria de Estado pela ONU, em 1947) se enfrentariam e o vencedor (Iugoslávia) disputaria a vaga com a favorita França. Na 2ª fase, Iugoslávia e França se enfrentaram três vezes. Em função de terem empatado em 1 x 1 as duas partidas de ida e volta, houve a necessidade de uma partida extra em campo neutro (Florença/Itália), quando a Iugoslávia venceu a França por 3 x 2 e foi a seleção classificada. Pelo prestígio da França (berço da FIFA, sede da 3ª Copa do Mundo, etc.), e, em função da desistência de dois países do Grupo IV da Copa (Escócia e Turquia) o Brasil convidou a França para integrá-lo, entretanto, alegando o longo percurso entre a Europa e o Brasil, aliada a grande distância que percorreria nos jogos que faria no Brasil (Porto Alegre e em Recife), embora tenha aceito previamente o convite, em maio de 1950 comunicaram à FIFA que não participariam do torneio..

Grupo  4: Bélgica(1), Suíça, e Luxemburgo

LOCAL

DATA

JOGOS/PLACAR

Zurique

26/06/1949

Suíça 5 x 2 Luxemburgo

Luxemburgo

18/09/1949

Luxemburgo 2 x 3 Suíça

Classificada: Suíça (1)

Nota: (1) A Bélgica, alegando despesas de reconstrução do país depois da 2ª Guerra, nem chegou a participar das Eliminatórias. A Suíça, tendo vencido a seleção de Luxemburgo se classificaria para a competição.

Grupo  5: Suécia, República da Irlanda e Finlândia

LOCAL

DATA

JOGOS/PLACAR

Estocolmo

02/06/1949

Suécia 3 x 1 República da Irlanda

Dublin

08/09/1949

República da Irlanda 3 x 0 Finlândia

Malmö

02/10/1949

Suécia 8 x 1 Finlândia

Helsinque

09/10/1949

Finlândia 1 x 1 República da Irlanda

Dublin

13/11/1949

República da Irlanda 1 x 3 Suécia

Classificada: Suécia (1)

Nota: (1) Neste grupo, deu a lógica, pois a Suécia fora a campeã do torneio de futebol nos Jogos Olímpicos de Londres (1948). Para efeito das estatísticas oficiais, a FIFA, dos cinco jogos acima considera como válidos apenas o 1º e o 5º. Os demais foram considerados como amistosos em função de a Finlândia ter desistido de disputar a última partida contra a Suécia.

Grupo  6: Espanha e Portugal

LOCAL

DATA

JOGOS/PLACAR

Madri

02/04/1950

Espanha 5 x 1 Portugal

Lisboa

09/04/1950

Portugal 2 x 2 Espanha

Classificada: Espanha (1)

Nota: (1) Apesar de a Espanha ter sido a vencedora do grupo, a FIFA, em função da desistência da Turquia que integraria o grupo IV da Copa, convidou Portugal para participar do torneio. Os lusitanos, porém, alegaram que somente participariam do torneio se tivessem vencido em campo, decisão esta que desagradou a colônia portuguesa residente no Rio de Janeiro.

Grupo  7: Argentina(1) , Bolívia e Chile (2)

LOCAL

DATA

JOGOS/PLACAR

La Paz

26/02/1950

Bolívia 2 x 0 Chile

Santiago do Chile

12/03/1950

Chile  5 x 0 Bolívia

Seleções Classificadas: Chile e Bolívia (2)

Notas: (1) A Argentina, por questões políticas (Perón exigia que a Seleção fosse a campeã) e estruturais internas do futebol argentino (os principais jogadores estavam jogando por uma liga pirata na Colômbia), a Argentina desistiu de participar. Ver tópico 3.4.3.1 adiante. (2) Eram previstas duas vagas para o grupo. Logo, Chile e Bolívia já estariam, de antemão, classificadas, porém, a FIFA considera os jogos acima como amistosos. Assim, a FIFA realizou um sorteio para definir “os classificados”. Ora, se com a desistência da Argentina, Chile e Bolívia já estariam classificados, por que então realizar tal sorteio? Enfim, os dois países disputaram a Copa de 1950, o primeiro no grupo II e o 2º no Grupo IV.

Grupo  8: Uruguai (2), Paraguai, Equador e Peru

LOCAL

DATA

JOGOS/PLACAR

Rio de Janeiro

30/04/1950

Paraguai  3 x 2 Uruguai

Seleções Classificadas:  Uruguai e Paraguai (1)

Nota: (1) A situação aqui é análoga a do grupo 7 supra, pois Equador e Peru desistiram. Logo, se classificariam Uruguai e Paraguai. A partida acima, realizada pela Copa Trompowski (Ministro da Aeronáutica do Brasil, à época) foi considerada amistosa pela FIFA. De acordo com o ”sorteio” efetuado o Paraguai, iria compor o Grupo III, juntamente com a Itália e a Suécia, e o Uruguai comporia o Grupo IV, com a Bolívia. (2) Após 63 anos da realização da Copa é fácil falar, todavia, merece ser dito: por ignorância, desconhecimentos dos fatos e outras aberrações, os organizadores da Copa de 1950 e, sobretudo os dirigentes da CBD começaram a facilitar a vida dos uruguaios na composição do próprio Grupo IV. Deixaram os tricampeões mundiais de futebol num grupo somente com a Bolívia – é brincadeira.  

Grupo  9: México, Estados Unidos(2),  e Cuba

LOCAL

DATA

JOGOS/PLACAR

Cidade do México

04/09/1949

México 6 x 0 EUA

Cidade do México

11/09/1949

 México 2 x 0 Cuba

Cidade do México

14/09/1949

EUA 1 x 1 Cuba

Cidade do México

18/09/1949

México 6 x 2 EUA

Cidade do México

21/09/1949

EUA 5 x 2 Cuba

Cidade do México

25/09/1949

México 3 x 0 Cuba

Seleções Classificadas:  México e EUA (1)

Nota: (1) Um acordo entre os três países do grupo levou a que todas as partidas fossem disputadas na Cidade do México, o que facilitou a vida dos mexicanos que já eram os favoritos para se classificar no grupo, tanto que venceram com facilidade as quatro partidas que disputaram. Como o Regulamento previa duas vagas para o Grupo, bastou que os EUA vencessem Cuba uma vez e empatasse outra partida para se classificar. Conforme o sorteio realizado pela FIFA, o México foi para o grupo I da Copa, juntamente com Brasil, Iugoslávia e Suíça, enquanto os EUA foram para o Grupo II, juntamente com a Inglaterra, Espanha e Chile. (2) Os EUA foram os responsáveis por uma das maiores zebras do futebol mundial de todos os tempos ao baterem a Seleção da Inglaterra pelo placar de 1 x 0.

Grupo 10: Índia, Birmânia, Filipinas e Indonésia

Classificada: Índia

Justificativa: Antes da realização das Eliminatórias três países do grupo (Birmânia, Filipinas e Indonésia), desistiram da disputa, fato este que colocaria a Índia automaticamente como classificada para o torneio. Porém, os indianos, mesmo classificados, desistiram de participar da competição, alegando um motivo inusitado – protestar contra a FIFA por não permitir que seus jogadores praticassem o futebol de pés descalços, prática essa comum nos campos de futebol hindus.

3.4.3.1 – As Seleções Ausentes: Europa e América do Sul (Argentina) 

Em 1950 a maioria dos países europeus estava sofrendo as consequências da 2ª Guerra Mundial, sobretudo àquelas de ordem econômica relacionadas com a reconstrução desses países, entre eles: Alemanha, Itália, França, Polônia, Áustria, Tchecoslováquia, entre outros, de forma que muitos deles nem sequer se interessaram pelo torneio.

A propósito, todos os países do bloco comunista, entre eles União Soviética, Hungria, Polônia e Tchecoslováquia não aceitaram participar da competição.

Apesar disso, houve de certa forma uma participação razoável dos países europeus, com seis Seleções (Espanha, Inglaterra, Itália, Iugoslávia, Suécia e Suíça) representando 46,15% do total dos participantes, superando inclusive os países sul-americanos, com apenas cinco países (Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai), representando 38,46% dos participantes.

A Argentina, por questões políticas e de estrutura interna administrativa de seu futebol desistiu de participar da Copa de 1950. Na verdade, as relações entre a CBD (Confederação Brasileira de Futebol) e a AFA (Associação de Futebol da Argentina) já andavam estremecidas, tanto que no Campeonato Sul-Americano, realizado aqui no Brasil, em 1949, a Argentina deixou de participar do referido torneio.

Posteriormente, Valentin Suárez, que fora presidente da AFA (1947-1953), declarou que o general Juan Domingos Perón, presidente da Argentina à época, exigira “plenas garantias” de que a Seleção venceria a Copa. Suárez, por sua vez, retrucou que seria muito difícil conseguir tal feito, pois não poderia contar com a participação de alguns dos melhores jogadores argentinos, uma vez que boa parte deles tinha se transferido de forma ilegal para uma liga pirata da Colômbia, fora da jurisdição da FIFA.

Além disso, o principal time dessa liga, representado pelo time do Milionários de Bogotá (formado em1946) era integrado praticamente pela Seleção Argentina, com os seguintes jogadores: Di Stefano, Pedernera, Rossi, Baez, Mourin, Rial, Cabillón, Castillo, Corzo, Aguilera e Reyes. Tudo isso, aliado ao fato de que até o técnico, Carlos Aldabe, era expatriado, Perón decidiu que a Argentina não participaria do torneio.

3.4.3.2 A Inglaterra participa do mundial pela 1ª vez

A Inglaterra e os demais países britânicos (Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte) participariam pela 1ª vez e uma Copa do Mundo. Na verdade, tais países integraram o Grupo I das Eliminatórias. Inglaterra e Escócia foram os classificados, porém, a última desistiu, permanecendo como representante do grupo apenas os inventores do futebol moderno (Inglaterra).

3.4.3.3 A Itália participa da Copa, mas sem sua força máxima

A questão da Itália é interessante, pois, a rigor, não era para ter participado da Copa de 1950. Isso porque, a Itália juntamente com a Alemanha e o Japão formaram os países do Eixo que deflagraram a 2ª Guerra Mundial e, após o final do conflito bélico a decisão da FIFA foi no sentido de excluir da competição os três países. Tal decisão valeu para a Alemanha e Japão, porém, foi revogada quanto à Itália, pois um fato esportivo de grande repercussão concorreu nesse sentido. Qual? O fato de o presidente da Federação Italiana Ottorino Barassi, durante o conflito bélico ter secretamente levado o troféu conquistado a França (1938) para a Suíça, onde permaneceu guardado num cofre da FIFA, em Zurique, até o final da Guerra (1945), de modo que a Itália recebeu o perdão da FIFA e pôde, assim, participar da competição.

Outro fato ou caso fortuito concorreu para que a Itália, última campeã mundial, na verdade, bicampeã mundial (1934 e 1938), viesse participar do torneio, porém, com uma seleção que não representava sua força máxima, uma vez que a base da Seleção Italiana, na época, formada pelo time do Torino, foi desfeita por um acidente de avião ocorrido em maio de 1949  que vitimou todos os jogadores, desfalcando, assim, a Squadra Azurra de seus melhores jogadores.

No referido acidente, morreram 27 passageiros e 4 tripulantes. Entre os passageiros estava Valentino Mazzola, de 31 anos considerado o melhor jogador italiano da década de 1940 e cinco vezes campeão nacional. A tragédia esfacelou a seleção italiana, tirando seus melhores jogadores. 40 dias antes a Squadra Azurra havia vencido a Fúria (Espanha) pelo placar de 3 x1 com sete craques do Torino.

Esse acidente marcou tanto os italianos que eles se deslocaram da Europa até o Brasil de navio, numa viagem que durou 15 dias, preterindo um meio de transporte mais rápido e confortável (avião).

A repercussão desse fato foi tanta, que a Itália, integrante do Grupo III da Copa, juntamente com a Suécia e o Paraguai, não conseguiu se classificar, pois perdeu para a Suécia por 3 x 2 e ganhou do Paraguai por 2 x 0, porém, como a Suécia havia empatado com o Paraguai (2 x 2), a Seleção da Suécia foi a classificada para continuar na competição, já que das três seleções, somente uma poderia se classificar.

3.4.4 OS ESTÁDIOS PARA A COPA DE 1950

Para a Copa de 1950, foram utilizados os seguintes estádios:

ESTÁDIO

CIDADE

INAUG. (1)

CAPAC. (2)

JOGOS

Maracanã (3)

Rio de Janeiro

1950

155.000

8

Pacaembu

São Paulo

1940

60.000

6

Independência (3)

Minas Gerais

1950

15.000

3

Eucaliptos

Porto Alegre

1931

10.000

2

Durival de Brito

Curitiba

1947

13.000

2

Ilha do Retiro

Recife

1937

10.000

1

Total

06

263.000

22

Notas: (1) Capacidade. (2) Inauguração. (3) Os estádios do Maracanã e do Independência foram construídos especialmente para a Copa de 1950.

3.4.4.1- O Maracanã original

Posso dizer com orgulho que conheci o velho Maraca, num jogo amistoso que assisti em 1976 com dois primos (Ana Maria e João Bosco), entre Vasco 1 x 0 Atlético Mineiro, gol do Vasco marcado por Zanata de saudosa memória. (Vicente Kleber)

O estádio do Maracanã (estádio Mário Filho ou simplesmente “Maraca”), foi construído no bairro do mesmo nome no centro do Rio de Janeiro justamente para a Copa de 1950.

 

Dados e demais características do Maracanã

Significado do nome: Maracanã em tupi-guarani é o nome de um pequeno pássaro verde

Pedra Fundamental – Lançamento da pedra fundamental do estádio foi colocada no antigo terreno do Jockey – 20/01/1948 (dia de São Sebastião, padroeiro do Rio de Janeiro)

Início da construção – 02/08/1948.

Nome Oficial – Estádio Municipal do Rio de Janeiro, Estádio Mário Filho ou simplesmente Maracanã.

Quem foi Mário Filho – jornalista (irmão de Nelson Rodrigues). Mário Filho destacou-se como jornalista esportivo, sendo um dos grandes incentivadores da construção do Maracanã. A homenagem ao referido jornalista, porém, somente foi feita em 1966, na gestão do governador do Estado do Rio de janeiro, Marechal Paulo Francisco Torres. Como jornalista esportivo Mário Filho foi o criador da Revista dos Esportes e escreveu, também, uma grande obra sobre o racismo no futebol – o livro O Negro do Futebol Brasileiro, publicado em 1947.

Gestão – O Maracanã foi construído na gestão do prefeito do Distrito Federal, Ângelo Mendes de Moraes.

Arquitetos o projeto teve quatro arquitetos, a saber: Pedro Paulo Bernardes Bastos, Raphael Galvão, Antonio Augusto Dias Carneiro e Orlando da Silva Azevedo.

Capacidade – 155.000 lugares, assim distribuídos:

— arquibancadas – 93.500 lugares

— cadeiras numeradas – 30.000 lugares

— gerais (1) – 30.000 lugares

— camarotes – 1.500 lugares

Nota: (1) A Geral (ou as Gerais) era(m) constituída(s) por degraus circulando todo o perímetro do anel inferior do estádio (próximo ao campo) que acomodavam os torcedores menos favorecidos (massa popular) que não se incomodavam em assistir o jogo em pé e pagavam um preço camarada pela entrada. A Geral foi extinta com a reforma do estádio em 2005.

Comparação – À época em que o Maracanã foi construído, o maior estádio do mundo era o Hampden Park de Glasgow (Escócia), de propriedade do Queen’s Park Rangers. Num confronto tradicional entre Escócia e Inglaterra (1937), o referido estádio recebeu 149.547 torcedores ou 14% da população da capital escocesa que na ocasião tinha 1,085 milhões de habitantes.

Nota: (2) Apesar da capacidade do Maracanã dada acima (155.000 lugares), o público estimado na partida final, em 16 de julho de 1950: Brasil 1 x 2 Uruguai, foi oficialmente de 172.772 pessoas. Porém, a imprensa divulgou à época que cerca de 200.000 pessoas ou mais assistiram aquele jogo fatídico.

Inauguração extraoficial:  com a finalidade de testar as condições do estádio para a Copa, houve um jogo (com entrada franca ao público) entre as seleções de novos do Rio e de São Paulo em 17/06/1950 (sábado), uma semana antes do início da Copa. A seleção paulista venceu a carioca pelo placar de 3 x 1, com gols (paulistas) de Augusto (2) e Ponce de Leon (1). Apesar do placar, o gol dos cariocas foi marcado primeiro, aos 19 min. da etapa inicial (o 1º gol no Maracanã), pelo meia Didi (Valdir Pereira) do Fluminense, o criador da “folha-seca” que à época tinha 20 anos e seria futuramente bicampeão mundial de futebol pela Seleção Brasileira (1958 e 1962). Estava presente também nessa partida (jogando pelo selecionado paulista) outro bicampeão – Djalma Santos, que à época defendia a Portuguesa de Desportos.

Inauguração oficial – em 24/06/1950 (sábado) na estreia do Brasil na Copa, quando o Brasil enfrentou o México. Placar: Brasil 4 x 0 México. Houve toda uma cerimônia e protocolo de praxe, com a presença de autoridades: o Presidente da República – Marechal Eurico Gaspar Dutra; o Presidente da FIFA – Jules Rimet; desfile de tropa militar de elite dos Dragões da Independência, exibição da Banda de Fuzileiros Navais, discursos de autoridades, revoada e pombos e até soltura de balões juninos (não proibida á época).

O Maracanã original tinha:

Refletores – 240 refletores para jogos noturnos dispostos em linha (sobre as marquises), prescindindo das torres de iluminação.

Fosso – um fosso que circundava o campo com 3 m de largura e 3 m de profundidade

Cabines – 20 cabines grandes para a imprensa

Sanitários – 98 dependências sanitárias

Bares – 58 bares (cada um com 22 m de balcão); e

Quiosques – 90 quiosques para venda de cigarros

Outros dados sobre a construção:

Colocação da Pedra Fundamental: 20 de janeiro de 1948

Início da construção: 02 de agosto de 1948

Período de construção: 22 meses

Operários: 4.500 operários trabalharam na construção do Maracanã

Material utilizado na construção

Concreto: 55.000 m3 de concreto foram consumidos

Cimento: 350.000 sacos de cimento

Pedra: 50.000 m2 de pedra

Areia: 40.000 m3 de areia

Ferro: 9.000 toneladas de ferro

Altura: 32 m de altura

Largura (perímetro): 800 m

Forma: construído em forma elíptica, seu eixo mais longo tem 319 m e o mais curto 281 m

Comparação: maior que o Coliseu de Roma, cujo eixo mais longo tem 155 m e o mais curto 135 m. O Coliseu era mail alto (50 m), porém, com uma capacidade de púbico menor (80.000 pessoas).

Foto do Maracanã antigo

Maracanã – Monumento Nacional

O Maracanã se notabilizou por registrar momentos de glória e de derrota do futebol brasileiro, mais particularmente da Seleção Brasileira. Na derrota, naquela fatídica partida em 16 de julho de 1950 contra o Uruguai quando o Brasil, virtual campeão, jogava pelo empate, fez o 1º gol e acabou permitindo que o Uruguai virasse o jogo. Porém, o Maracanã foi palco de muitos jogos e eventos memoráveis, senão vejamos:

 

A Seleção Brasileira no Maracanã – Copa de 1950 (Brasil 7 x 1 Suécia)

Obs: Último jogo de Maneca (o 4º da esquerda p/a direita) na Copa de 50

Escalação: (da esquerda para a  direita)

Em pé (massagistas: principal e assistente): Johnson e Mário Américo

Em pé (jogadores): Augusto, Barbosa, Juvenal, Maneca, Ademir, Zizinho, Chico, Danilo, Jair, Bigode e Bauer

Seleção Brasileira na Decisão da Copa de 1950 (Brasil 1 x 2 Uruguai)

Escalação: (da esquerda para a  direita)

Em pé (massagistas: principal e assistente): Johnson e Mário Américo

Em pé (jogadores): Barbosa, Augusto, Danilo, Juvenal, Bauer, Ademir, Zizinho, Jair, Chico, Friaça e Bigode.

Clássico das Multidões no Maracanã (Vasco x Flamengo)

 

 

GRANDES EVENTOS NO MARACANÃ – DESDE A INAUGURAÇÃO

DATA

EVENTO

DESCRIÇÃO

01 17/06/1950 Inauguração extra-oficial Jogo entre os selecionados de novos do Rio de Janeiro e São Paulo. Placar: São Paulo 3 x 1 Rio de Janeiro.

Gols: São Paulo  – Augusto (2) e Ponce de Leon (1); Rio de janeiro – Didi (Valdir Pereira),  aos 19 min. do 1º tempo.0217/06/1950 1º gol no MaracanãNo jogo descrito no item 01 acima, o 1º gol no Maracanã foi  marcado por Didi (Valdir Pereira) do Fluminense, aos 19 min. do 1º tempo. Didi foi o criador da “folha-seca” que à época tinha 20 anos e seria futuramente bicampeão mundial de futebol pela Seleção Brasileira (1958 e 1962).0324/06/1950Inauguração oficial

 Estreia do Brasil na Copa de 1950

Brasil 4 x 0 México0416/07/1950

Decisão da Copa/1950

O Brasil era o virtual campeão, tinha a vantagem do empate, fez o 1º gol através de Friaça, porém, deixou que o Uruguai virasse o jogo, com gols de Schiaffino e Ghiggia. Este jogo entrou para a história como Maracanazzo.0513/05/1959Vaias e Aplausos

 

(Julinho/Garrincha)

Jogo amistoso entre Brasil e Inglaterra logo após a conquista do 1º mundial. Ao se anunciar a escalação do Brasil, na ponta-direita, em vez de Garrincha, entra Julinho Botelho – vaias da torcida na entrada da Seleção em campo. Começa o jogo e, logo aos 3 min. Julinho cala os críticos e faz o 1º gol do Brasil. Depois, aos 29 min do 1º tempo deu o passe a Henrique para fazer Brasil 2 x 0 Inglaterra (1ª vitória do Brasil sobre os inventores do futebol moderno) e, assim, com jogadas espetaculares Julinho deixou o gramado aplaudido pela torcida. Conclusão: tratando-se de torcida de futebol vale a máxima “A mão que afaga (aplaude) é a mesma que apedreja”.0605/03/1961

Gol de Placa

No jogo Fluminense 3 x 1 Santos, Pelé fez um gol magistral a ponto de o saudoso jornalista Joelmir Betting sugerir que no Maracanã fosse colocada uma placa com os seguintes dizeres:

 

“Neste campo, no dia 5-3-1961, Pelé marcou o tento mais bonito na história do Maracanã”.

Posteriormente, Gol de Placa passou a ser sinônimo de golaço.

07

Garrincha

(Bicampeonato do Botafogo)

O Maracanã não pode ser lembrado sem ao mesmo tempo lembrar-se das jogadas do maior ponta-direita de todos os tempos do futebol mundial – Garrincha (Manoel dos Santos) que infernizou as defesas adversárias e ajudou seu time do coração – o Time da Estrela Solitária (Botafogo de Futebol e Regatas) a obter, entre outros, o título de Bicampeão Carioca de 1961 e 1962.0816/11/1963

Decisão do Mundial Interclubes

O Santos, de Pelé, enfrentava na decisão do Mundial Interclubes, o Milan, da Itália. Porém, Pelé estava machucado. Em seu lugar, jogou Almir (Almir Morais Albuquerque, o Pernambuquinho).

 

Placar: Santos 1 x 0 Milan. Santos bicampeão mundial interclubes.

Obs.: nesse jogo:

1 – o Maracanã recebeu 120.421 pessoas;

2 – Amarildo, que substituiu Pelé na Copa de 1962 (Chile), jogou pelo Milan;

3 – o gol do Santos foi marcado por Dalmo (de pênalti);

4- esse jogo foi o tira-teima (negra, 3ª partida) realizado entre as duas equipes.0918/12/1966

A Guerra na Final Flamengo x Bangu

Decisão do campeonato Carioca entre Bangu e Flamengo. Almir, do Flamengo, entrou em campo disposto a impedir que o Bangu desse a volta olímpica. Não deu outra. Entre os 23 e 26 min. do 1º tempo o Bangu fez 2 gols e, logo aos 3 min do 2º tempo, o Flamengo tomou o 3º gol. Almir arrumou uma confusão daquelas, o juiz da partida – Sansão (Airton Vieira de Moraes), expulsou 5 jogadores do Flamengo e 4 do Bangu. Assim, o Flamengo com menos de 7 jogadores, a partida não podia continuar. Logo, Sansão  encerrou a partida e o Bangu foi o campeão.1031/08/1969

Recorde oficial de público

O recorde oficial é registrado, pois 183.341 pessoas comparecem ao Maracanã no jogo pelas Eliminatórias da Copa de 1970 quando o Brasil venceu o Paraguai por 1 x 0, com um gol de Pelé, marcado aos 23 min. do 2º tempo.1119/11/1969

 

1000º gol de Pelé

Num jogo histórico realizado no dia 19 de novembro de 1969 (uma quarta-feira, à noite), por coincidência, Dia da Bandeira entre Vasco 1 e 2 Santos, Pelé marcou seu 1000º gol como atleta profissional. O gol 1000 de Pelé (o 2º do Santos) foi marcado de bola parada (pênalti) contra o goleiro (argentino) Andrada. Placar: Santos 2 x 1 Vasco.1225/11/1971

Dinamite no Maracanã

Jogo pelo 1º Campeonato Brasileiro da história entre Vasco e Internacional de Porto Alegre. Pelas circunstâncias do jogo, o Vasco faz uma substituição no ataque: saí Gilson, entra o garoto do juvenil chamado Roberto (Carlos Roberto de Oliveira). Na primeira bola que recebe, Roberto dribla três defensores do Inter e solta uma bomba de perna direita que estufa as redes do goleiro colorado. No dia seguinte, o Jornalista Aparício Pires escreveu  no Jornal dos Sports: “Garoto-dinamite explode no Maracanã”. Dessa forma, nasceu Roberto Dinamite, o maior artilheiro do Vasco, com 617 gols. Roberto Dinamite é também o maior artilheiro do Campeonato brasileiro e do clássico das multidões (Vasco e Flamengo).1305/12/1976

1ª Invasão

Cerca de 70.000 torcedores do Corinthians compareceram ao Maracanã para incentivar seu time no empate de 1 x 1 contra o Fluminense, resultado que classificou o time paulista para a final do brasileiro daquele ano. Em 2000, na final do Mundial da FIFA, os torcedores do Corinthians voltariam a repetir o feito e ganhar o título, desta feita contra o Vasco.14Maio de 1980

Dinamite de novo no Maracanã

Roberto Dinamite fez história novamente no Maracanã, depois de uma passagem frustrada no Barcelona. Em maio de 1980, ao voltar da Espanha, o Vasco enfrentou o Corinthians e venceu pelo placar de 5 x 2. Os cinco gols do Vasco foram marcados por Roberto Dinamite.1516/02/1986

Zico

(o terror dos goleiros)

Zico foi o maior artilheiro do Maracanã, com 333 gols. Naquela tarde, Zico, após se recuperar de contusões, voltou e brilhou. No clássico Fla 4 x 1 Flu, Zico fez três gols.1603/09/1989

Farsa

(Roberto Rojas)

Brasil x Chile jogavam pelas Eliminatórias da Copa de 1990. De repente, um sinalizador (rojão) é arremessado ao campo e cai ao lado de Roberto Rojas. O goleiro chileno simula um ferimento no rosto. Logo depois, descobre-se a farsa e Rojas é banido do futebol. Tempos depois, Rojas trabalharia como preparador de goleiros do São Paulo Futebol Clube.1719/07/1992

Tragédia

Na final do Campeonato Brasileiro (Flamengo x Botafogo), Flamengo campeão, a superlotação provocou a maior tragédia no Maracanã, quando uma das grades de proteção das arquibancadas se rompeu e centenas de torcedores caíram nas gerais, resultando em três pessoas mortas e noventa feridas.1819/09/1993

Romário

(Rumo ao Tetra)

Nas Eliminatórias, Romário era preterido nas convocações, mas Parreira e Zagallo sabiam que sem ele o Brasil correria o risco de não ir à Copa de 1994 (EUA). A decisão de convocar Romário foi mais que acertada. O baixinho infernizou a defesa uruguaia fazendo os dois gols da vitória brasileira sobre os carrascos da Copa de 1950. O Brasil foi aos EUA e conquistaria o tetracampeonato mundial de futebol.19-

Shows

(música, religião)

Além dos memoráveis jogos, o Maracanã foi palco ainda de outros shows. Citam-se os seguintes: Frank Sinatra, Paul McCartney, Rolling Stones, Tina Turner, Madonna, Sting, Kiss, entre outros. O Papa João Paulo II celebrou duas missas no Maracanã.

 

3.4.4.2 – O Novo Maracanã (Arena Maracanã)

O novo Maracanã foi reinaugurado ainda não oficialmente em 27/04/2013 (sábado) com um jogo realizado entre os Amigos de Ronaldo 8 x 5 Amigos do Bebeto. Na torcida estavam familiares e amigos dos trabalhadores que construíram o Novo Maracanã.

O 1º gol do novo Maracanã foi marcado por Washington (1) (Coração Valente), que jogou, entre outros clubes, pelo Atlético Paranaense, São Paulo e Fluminense. Também fizeram gols nessa partida: Ronaldo (2), Bebeto (1), etc.

Nota: (1) Washington era conhecido como Coração Valente porque devido a um problema cardíaco jogou por muito tempo com um dispositivo (stent) implantado em seu coração.

Estiveram presentes ao evento, as seguintes autoridades públicas:

Presidente da República – Dilma Rouseff

Governador do Estado do Rio de Janeiro – Sérgio Cabral

Ministro dos Esportes – Aldo Rebelo

Além das autoridades, músicos e compositores também compareceram ao evento, tais como: Ivan Lins, Fernanda Abreu, Sandra de Sá, Martinho da Vila, entre outros.

Cabe também registrar as novas características do Novo Maracanã:

Altura e Largura: não foram alteradas

Distância da primeira fila (de cadeiras) à linha de campo – 14 metros

Área construída – aumentou 40.000 m2 em relação à construção original

Escadas Rolantes – amentou de 6 para 12 escadas rolantes

Elevadores´- aumentou de 5 para 16 elevadores

Sistema de Som – 3.860 alto-falantes internos e 78 externos

Telões – foram instalados 4 telões com dimensões de 100m2 (10m x 10m) para mostrar os lances do jogo

Grama – variedade Bermuda celebration, mais fina para a bola rolar de forma mais suave

Cobertura – cobertura de membrana feita de fibra de vidro revestida de teflon, mais leve que a anterior (concreto). Foi projetada na Alemanha, fabricada nos EUA e cortada na Tailândia. A membrana é composta de material desenvolvido pela Estação Espacial dos EUA (NASA) e pesa 11.000 toneladas a menos que a estrutura original (de concreto, pesada e com risco de desabamento). Com a nova cobertura somente 5% dos assentos ficam descobertos.

Capacidade – 78.838 cadeiras plásticas

Pontos-cegos – nenhum (na estrutura original existiam 1.872)

Custo da obra: 1,2 bilhões de reais

3.4.4.3 – A Reinauguração Oficial do Maracanã (Copa das Confederações)

O Novo Maracanã – Junho/2013

(Reinaugurado para a Copa das Confederações:15 a 30 de junho de 2013)

 

A reinauguração do Maracanã deu-se a duas semanas antes do início da Copa das Confederações (15 a 30) de junho 2013. Na verdade, a reinauguração oficial deu-se num jogo entre Brasil 2 x 2 Inglaterra, realizado em 02 de junho de 2013, cuja ficha técnica vê-se abaixo:

Ficha Técnica do Jogo:

Local: Estádio do Maracanã, Rio de Janeiro

Data: 02 de junho de 2013

Hora: 16:00h

Público: 57.280 pagantes

Renda: R$ 8.615.730,00

Árbitro: Wilmar Roldán (COL)

Assistentes: Eduardo Diaz (COL) e Wilson Berrio (COL)

Cartões Amarelos: Hulk (BRA) e Jones (ING)

Escalação:

Brasil: Júlio Cesar; Daniel Alves, Thiago Silva, David Luiz e Filipe Luis (Marcelo); Luiz Gustavo (Hernanes), Paulinho  (Bernard) e Oscar (Lucas); Hulk (Fernando), Fred (Leandro Damião) e Neymar

Técnico: Luiz Felipe Scolari

Inglaterra: Hart; Johnson (Oxlade-Chamberlain), Cahill, Jagielka e Baines (Ashley Cole), Carrick; Walcott (Rodwell), Jones, Lampard e Milner; Rooney.

Técnico: Roy Hodgson

Gols: sequência cronológica (todos no segundo tempo)

Brasil: Fred (11’ – 2º T): Hernanes chuta na trave e, no rebote Fred marca o 1º gol da reinauguração oficial do novo Maracanã.

Inglaterra: Chamberlain (22’ – 2º T): jogada pelo meio da defesa brasileira. Chamberlain arremata forte, no canto direito de Júlio Cesar.

InglaterraWayne Rooney (33’ -2º T): jogada pelo lado esquerdo do ataque inglês. Wayne Rooney progride em diagonal, vê Júlio Cesar adiantado e arremata forte. A bola faz uma pequena curva e cai no ângulo superior esquerdo da meta brasileira. Um golaço.

Brasil : Paulinho (37’ – 2º T): jogada pela direita do ataque brasileiro. Fernando cruza para dentro da área inglesa e encontra Paulinho que arremata a gol de voleio.

Assim, o atacante Fred, do Fluminense tornou-se o primeiro jogador a assinalar em jogo oficial (mesmo amistoso) o 1º gol no novo Estádio do Maracanã.

3.4.5 AS SELEÇÕES CLASSIFICADAS PARA A COPA DE 1950

Para a Copa de 1950 era prevista a classificação de 16 seleções. Excluídas as Seleções do país-sede (Brasil) e da última campeã (Itália), sobrariam ainda 14 vagas. Ao final, somente 13 seleções participaram do torneio. Ei-las: Bolívia, Brasil, Chile, Espanha, EUA, Inglaterra, Itália, Iugoslávia, México, Paraguai, Suécia, Suíça e Uruguai.

As seleções, por continente, estão representadas da seguinte maneira:

 

Continentes

Europa

América do  Norte e Central

América do Sul

Ásia

P

 

A

 

Í

 

S

 

E

 

S

Espanha

EUA

Bolívia

Inglaterra (2)

México

Brasil (1)

Itália (3)

Chile

Iugoslávia

Paraguai

Suécia

Uruguai

Suíça

Total = 13

06

02

05

Total = 13

06

07

Percentual

46,15%

15,38%

38,46%

Relação (%)

Europa/Demais

Continentes

 

46,15%

 

53,84%

Notas: (1) Brasil – país-sede. (2) Inglaterra –.1ª participação dos inventores do futebol moderno numa Copa do Mundo. (3) Itália – campeã do último torneio –1938 (França).

Como se vê, a Copa de 1950, realizado no Brasil, não foi um torneio dos sul-americanos. Apesar das dificuldades enfrentadas pelos países europeus em participar da competição, houve de certa forma um equilíbrio na representatividade de europeus e americanos (norte e sul-americanos) na IV edição do torneio.

3.4.6 OS GRUPOS NA COPA DE 1950

Diferentemente das Copas anteriores, desta feita, houve a formação de grupos. Porém, devido às desistências de muitos países, a formação dos grupos não se deu conforme planejado, de forma que dos quatro grupos formados e, em função de somente 13 Seleções disputarem a competição, dois ficaram com quatro seleções (Grupos I e II), um com três (Grupo III) e o último somente com dois (Grupo IV).

Devido a tal distorção, bastaria que a FIFA e os organizadores locais da Copa deslocassem uma seleção dos Grupos I ou II para o Grupo IV, ficando, assim, os Grupos I ou II com quatro participantes e os demais com apenas três. Todavia, no dia 22 de maio de 1950, no Rio de Janeiro, os organizadores simplesmente distribuíram os classificados de acordo com a tabela que havia sido divulgada há dois anos antes, em Londres.

Não houve explicação oficial do não remanejamento dos grupos, entretanto, ficou no ar que os dirigentes brasileiros não tomaram tal decisão justamente porque da forma como estava seria mais benéfico para a FIFA e a CBD em termos monetários, ou seja, a Copa daria mais lucro.

Da forma como ficou, o Brasil seria o mais prejudicado, pois faria seis jogos enquanto o Uruguai, que ficou sozinho no Grupo IV com a Bolívia, faria dois jogos a menos e contra seleções mais fracas. No final, os uruguaios “agradeceriam” o formato, levariam a taça enquanto o Brasil choraria uma das maiores tragédias do futebol de todos os tempos.

3.4.7 OS JOGOS NA COPA DE 1950

Como houve a formação de grupos, os jogos, por fase, serão discriminados apenas por cada etapa, data e placar, conforme segue baixo:

3.4.7.1 –  Jogos da 1ª Fase:  Grupo I: Brasil, Iugoslávia, Suíça e México

JOGO

DATA

JOGOS/PLACAR

01

24/06/1950

Brasil 4 x 0 México

02

25/06/1950

Iugoslávia 3 x 0 Suíça

03

28/06/1950

Brasil 2 x 2 Suíça

04

28/06/1950

Iugoslávia 4 x 1 México

05

1º/07/1950

Brasil 2 x 0 Iugoslávia

06

02/07/1950

Suíça 2x 1 México

Seleção Classificada: Brasil

Nota:

3.4.7.2 – Jogos da 1ª Fase: Grupo II: Inglaterra, Espanha, EUA e Chile

JOGO

DATA

JOGOS/PLACAR

01

25/06/1950

Inglaterra 2 x 0 Chile

02

25/06/1950

Espanha 3 x 1 EUA

03

29/06/1950

Espanha 2 x 0 Chile

04

29/06/1950

EUA 1 x 0 Inglaterra (1)

05

02/07/1950

Espanha 1 x 0 Inglaterra

06

02/07/1950

Chile 5 x 2 EUA

Seleção Classificada: Espanha

Nota: (1) Esta partida é considerada uma das zebras memoráveis do futebol mundial.

3.4.7.3 – Jogos da 1ª Fase: Grupo III: Itália, Suécia e Paraguai

JOGO

DATA

JOGOS/PLACAR

01

25/06/1950

Suécia 3 x 2 Itália

02

29/06/1950

Suécia 2 x 2 Paraguai

03

02/07/1950

Itália 2 x 0 Paraguai

Seleção Classificada: Suécia

3.4.7.4 – Jogos da 1ª Fase: Grupo IV: Uruguai e Bolívia

JOGO

DATA

JOGOS/PLACAR

01

02/07/1950

Uruguai 8 x 0 Bolívia

Seleção Classificada: Uruguai

 

3.4.7.5 – Fase Final

Na fase final houve um quadrangular entre as quatro Seleções classificadas em cada Grupo. Assim, Brasil, Espanha, Suécia e Uruguai participaram do quadrangular final, cuja classificação final (campeão, vice-campeão, 3º e 4º lugares) foi estabelecida pelo sistema de pontos corridos.

JOGO

DATA

JOGOS/PLACAR

01

09/07/1950

Brasil 7 x 1 Suécia

02

09/07/1950

Uruguai 2 x 2 Espanha

03

13/07/1950

Uruguai 3 x 2 Suécia

04

13/07/1950

Brasil 6 x 1 Espanha

05

16/07/1950

Suécia  3 x 1 Espanha

06

16/07/1950

Brasil 1 x 2 Uruguai (1)

Nota: (1) esta partida (decisão) é considerada a maior tragédia do futebol mundial.

3.4.7.6 Disputa do 3º Lugar

Não houve um jogo específico para determinar quem ficaria em 3º lugar na competição. Na verdade, pela sistemática de pontos corridos adotada no quadrangular final entre as quatro seleções a Suécia ficou em 3º lugar e em 4º a Espanha.

3.4.7.7 Final: Brasil 1 x 2 Uruguai

De acordo com as regras estabelecidas o Brasil enfrentou o Uruguai com a vantagem do empate. Apesar disso e, de ter feito o 1º gol, não soube segurar o resultado, permitindo que o Uruguai virasse o jogo, na maior tragédia do futebol mundial.

JOGO

DATA

JOGOS/PLACAR

01

16/07/1950

Brasil 1 x 2 Uruguai

 

3.4.8 A PARTICIPAÇÃO DO BRASIL

Diferentemente dos torneios anteriores, o Brasil agora era o país-sede da Copa do Mundo. A CBD, desta feita, não se preocuparia com viagens longas e falta de condições para que os jogadores desempenhassem um bom futebol. Estando em casa, a responsabilidade do Brasil, porém, era em dobro, pois além de organizar a competição tendo que reformar estádios e construir outros (Maracanã e Independência), o encargo maior recairia sobre os ombros dos jogadores de que, na pior das hipóteses, deveriam ganhar o título. Ora, se em 1938 (França) quase chegamos a final, obtendo o 3º lugar, jogando em casa, com a torcida a nosso favor, não seria irracional admitir que o Brasil pudesse ganhar a taça Jules Rimet.

Sob o aspecto futebolístico tínhamos tudo para fazer um bom papel, senão vejamos:

Em primeiro lugar, além de sediarmos o torneio, o Brasil na última competição – 1938 (França) ficara em 3º lugar, o que impunha respeito aos demais adversários.

Depois, o Brasil durante a década de 1940 contou com uma safra espetacular de jogadores de primeira linha que propiciava a qualquer técnico ou treinador ter a opção de formar uma boa seleção e, poderíamos dizer sem pestanejar, poder formar até mais de uma seleção para representar o Brasil em sua própria casa.

Nas Copas anteriores, vimos que a maioria dos jogadores que integrava a Seleção Brasileira vinha dos times Cariocas (Flamengo, Vasco, Fluminense, Botafogo, etc.) que eram mesclados com alguns jogadores das equipes de São Paulo (São Paulo, Palmeiras, Corinthians, Portuguesa, etc.). Agora, o técnico poderia lançar mão quase que exclusivamente de jogadores de um só time – o Vasco da Gama. Isso porque, o técnico da Seleção (Flávio Costa) era também o técnico do Vasco e o Vasco era praticamente a Seleção Brasileira.

Quando dos comandos técnicos das Seleções Anteriores: – Píndaro de Carvalho (1930); Luiz Vinhaes (1934); e Ademar Pimenta (1938), era assente a ideia de que o técnico serviria apenas para “distribuir as camisas e apitar os treinos”, já que àquela época quem escalava (comprava, vendia, negociava, etc.) os jogadores eram os dirigentes (cartolas) dos clubes. Os técnicos, portanto, tinham responsabilidades secundárias, inclusive quando o assunto era escalar o time.

Registre-se que, na década de 1920, o técnico Herbert Chapman, do Arsenal da Inglaterra, introduziu na Europa o sistema tático W-M, que diferentemente do 2-3-5 dava mais proteção à defesa (zagueiros) e deslocava dois homens do ataque para mais próximos do meio de campo, fortalecendo o sistema de marcação. Esse sistema foi seguido na década de 1930 em diante pela maioria dos países europeus, especialmente nas Copas de 1934 e 1938, enquanto aqui ainda se utilizava o antigo sistema 2-3-5, também conhecido como Pirâmide ou Cone.

Na década de 1940, porém, aqui no Brasil, com Flávio Costa no comando do Vasco da Gama a coisa começou a mudar. Flávio Costa passou a adotar tal sistema de jogo que, de tão eficiente em ganhar os jogos de que participava com a aplicação desse sistema, o Vasco da Gama passou a ser conhecido como “O Expresso da Vitória”. Ademais, Flávio Costa variava o sistema W-M para a diagonal, quando um dos meias-atacantes (ponta-de- lança), no caso Ademir de Menezes (Queixada) se deslocava em diagonal para auxiliar o ataque tornando a equipe mais ofensiva (passando a ter mais um atacante – de 3 para 4 atacantes).

A propósito, há registros de que quem implantou o W-M aqui no Brasil foi o técnico Gentil Cardoso, que foi campeão carioca pelo Fluminense (1946) e pelo Vasco (1952). Conta-se que para ganhar o campeonato pelo Fluminense Gentil Cardoso teria exigido e dito à Diretoria do Fluminense: “Dêem-me Ademir (na época jogador do Vasco) que lhes darei o campeonato”. Não deu outra, a Diretoria do tricolor das Laranjeiras contratou Ademir e o Fluminense faturou o campeonato de 1946. É dele também a seguinte pérola: “Quem se desloca, recebe, quem pede tem a preferência”.

Pois bem, sob esse ponto de vista e, independentemente de quem implantou o sistema W-M no Brasil varonil, estávamos, a princípio, muito bem, pois tínhamos um técnico de ponta, digamos assim, que fora tricampeão carioca pelo Flamengo (1942/43/44) e, como técnico do Vasco da Gama campeão carioca por três vezes (1945, 1947, 1949), além de campeão de clubes sul-americano em 1948, num torneio disputado em Santiago do Chile. Enfim, por esses e outros títulos, Flávio Costa era um nome incontestável (para os cariocas, não para os paulistas) para dirigir a Seleção Brasileira. E, como se dizia à época, quando jogava a Seleção Paulista contra a Seleção Carioca, esta era o Vasco e, o Vasco era praticamente o escrete nacional.

 Além disso, desde a Copa de 1938 que oficialmente o Brasil vinha enfrentando as seleções sul-americanos com resultados positivos, a nosso favor, contra o Paraguai (Inclusive na Taça Oswaldo Cruz) e mesmo contra o Uruguai (inclusive na Taça Rio Branco) que o Brasil não costumava levar vantagem, vinha, nos últimos jogos, equilibrando os resultados.

Todavia, a Argentina continuava a ser a pedra no sapato do Brasil, pois raramente levávamos vantagens contra os Hermanos. Por outro lado, por divergências entre a CBD e a AFA nos meados da década de 1940, aliada às questões políticas (Perón exigia que a Seleção Argentina ganhasse o título no Brasil) e de estrutura interna de seu futebol no final daquela década (a maioria dos jogadores que integrava a seleção argentina, inclusive Di Stefano, estava jogando por uma liga pirata na Colômbia) a Argentina desistiu de disputar as Eliminatórias e, por conseguinte não viria participar da Copa de 1950.

Apenas para dar uma ideia da rivalidade futebolística entre as três grandes Seleções da América do Sul na primeira metade do século XX (Argentina, Brasil e Uruguai), desse quando começou a ser disputada a competição conhecida como Sul-americano (extraoficial a partir de 1916 e oficialmente a partir de 1917), o Brasil ganhou apenas três títulos (1919, 1922 e 1949). Os demais títulos, com exceção do de 1939 (vencido pelo Peru), foram ganhos ora pela Argentina, ora pelo Uruguai, o que significa dizer que nesse período o Campeonato Sul-Americano (hoje Copa América) foi dominado pelos dois países (Argentina e Uruguai).

Descontadas todas essas questões, a preocupação maior era doravante preparar a Seleção Brasileira  para a competição.

Assim, em março de 1950, Flávio Costa fez a primeira convocação da Seleção para a Copa. A lista era composta por 38 jogadores, com 10 do Vasco e 07 do São Paulo. Logo depois, os jogadores seguiram para a instância hidromineral de Araxá/MG a fim de dar início aos treinamentos, exames médicos e demais procedimentos necessários ao início dos trabalhos.

Enquanto isso, no início de abril de 1950, Flávio Costa seguiu em viagem a Europa a fim de ver três jogos das Eliminatórias – dois entre Portugal e Espanha e outro entre Inglaterra e Escócia, aquela considerada à época, a melhor Seleção do Mundo e que, pela primeira vez, viria participar de uma Copa do Mundo. De volta ao Brasil, ao final de abril, o técnico brasileiro se junto aos jogadores e demais membros da comissão técnica e retornaram ao Rio de Janeiro a fim de iniciar a concentração em São Januário e disputar contra o Paraguai a Taça Oswaldo Cruz e contra o Uruguai a Copa Rio Branco.

Como as competições eram simultâneas e realizadas em São Paulo e no Rio de Janeiro, Flávio Costa convocou duas seleções. A seleção titular enfrentou o Uruguai três vezes: — uma em São Paulo (Pacaembu), perdeu por 3 x 4; e duas no Rio de Janeiro (São Januário), vencendo as duas por 3 x 2 e 1x 0, respectivamente.

Na terceira partida, realizada em 18 de maio de 1950, Brasil e Uruguai entraram em campo com as seguintes escalações:

Brasil: Babosa, Santos e Juvenal; Eli, Danilo e Bigode; Friaça, Zizinho, Baltazar, Ademir e Chico.

Desses onze jogadores, 8 deles estavam novamente em campo na fatídica decisão contra o Uruguai em 16 de julho de 1950.

Uruguai: Maspoli, Tejera e Gambeta; Matias Gonzalez, Obdulio Varela e Rodriguez Andrade; Ghiggia, Julio Perez, Miguez, Schiaffino e Villamide.

Dos onze jogadores acima, apenas o ponteiro Villamide, do Peñarol, não jogou na Copa.

Falou-se anteriormente que nessas competições o Brasil vinha equilibrando os resultados contra o Uruguai e, contra este, perdeu um jogo, com placar apertado (3 x 4) e ganhou os outros dois (3 x 2 e 1 x 0). Da realização desses jogos, porém, levando-se em conta que no resultado final os uruguaios saíam perdendo, se podia de antemão tirar um conclusão relevante, conforme assinala Max Gehringer (Placar Especial: A Saga da Jules Rimet – A História das Copas de 1930 a 1970, Fascículo 4/1950/Brasil, pág. 17):

[…]. Mas os uruguaios aprenderam algo: caso voltassem a enfrentar o Brasil, teriam de encontrar uma maneira de neutralizar o perigoso Ademir, autor de 5 dos 7 gols brasileiros naqueles três jogos.

O pior de tudo é que os uruguaios estavam certos, pois de fato, neutralizaram Ademir, que não marcou na final. Esta, porém, é outra história que será mais bem contada adiante.

Depois desse torneio, em 31 de maio de 1950, a Seleção deixou a concentração de São Januário e foi para outra em local mais apropriado a quem pretendia usufruir de silêncio e isolamento necessários ao bom desempenho nos jogos – foram para a Casa dos Arcos, um retiro afastado no Bairro do Joá (Barra da Tijuca), na Zona Sul do Rio de Janeiro. Aqui, o grupo de jogadores já fora reduzido para 27 e considerando os cortes posteriores que houve [Píndaro (Fluminense), Ipojucan e Tesourinha (Vasco), Pinga e Brandãozinho (Portuguesa) e Mauro (São Paulo)], restava apenas a lista final dos jogadores que seriam finalmente inscritos para disputar a Copa de 1950.

Assim, no dia 05 de junho de 1950, conforme determinava o Regulamento da FIFA, Flávio Costa apresentou a lista dos 22 jogadores inscritos para disputar a Copa pelo Brasil.

No item seguinte consta a relação dos referidos jogadores, com a indicação dos clubes a que pertenciam, qual posição jogavam, bem como a relação absoluta e proporcional desses jogadores em relação a defesa, médios e atacantes, bem como os integrantes da Comissão Técnica, entre outras informações relevantes.

3.4.8.1 O Brasil em 1950

Quando se discorreu sobre a 1ª Copa do Mundo em 1930 (Uruguai), teceu-se considerações também sobre as condições econômicas, políticas e sócias do Brasil àquela época. Ao se tratar da mesma matéria relativamente  às Copas seguintes – 1934 (Itália) e 1938 (França) destacou-se que o Brasil pouco mudara em tais períodos, a não ser com relação ao aspecto demográfico (aumento da população) e ao fato de no final da década de 1930 se ter ingressado num período difícil de nossa História com a implantação do regime ditatorial a partir de 1937 (Estado Novo).

Na Copa de 1950, porém, não se poderiam repetir as mesmas observações, pois da última Copa realizada – 1938 (França) até o ano da IV edição do torneiro – 1950 (Brasil) se passaram 12 anos, período esse mais longo e com fatos e/ou eventos históricos ocorridos em tais áreas que diferentemente dos períodos anteriores modificaram de certa forma a estrutura político-econômico-social do Brasil.

Basta dizer que do ponto de vista demográfico, o Brasil tinha ultrapassado a casa dos 50.000.000 (cinquenta milhões) de habitantes com uma proporção significativa de pessoas passando a residir no meio urbano com um crescimento vertiginoso das grandes cidades (capitais) especialmente na Região Sudeste do País (Rio de Janeiro e São Paulo), o que significava o início da virada da cara do país de um país eminentemente rural para um país que ganhava ares de urbanidade.

Não que esse fenômeno, caracterizado entre outros motivos, pela grande migração de pessoas de outras regiões, sobretudo da Região Nordeste, castigada pela seca e falta de oportunidades de trabalho, para a Região Sudeste, significasse, por si só, o progresso do país; não, não se quer afirmar isso, porquanto no Brasil nunca houve um planejamento para o país crescer de maneira uniforme. Rio de Janeiro e São Paulo eram as cidades nas quais  qualquer brasileiro, onde quer que se encontrasse poderia melhorar sua condição de vida e de seus familiares se para lá migrasse. Até certo ponto e, por certo período de tempo, isso foi verdade, porém, tais cidades incharam, a favelização tomou conta das mesmas e, com isso outras mazelas vieram juntas: insegurança, injustiça social, empobrecimento da população, violência, enfim o quadro caótico que está aí vem dessa época e se espraiou para outras Regiões e cidades brasileiras.

Por outro lado, a mudança mais significativa que houve nesse período, diz respeito ao aspecto político-institucional imprimido ao país e à sociedade brasileira, pois, com o fim da 2ª Guerra Mundial as ditaduras que comandavam a Europa, sobretudo aquelas responsáveis por terem dado causa ao conflito bélico em questão (Alemanha e Itália) seriam banidas com a vitória dos Aliados, encabeça pelos EUA de Franklin Delano Roosevelt e a Inglaterra do Primeiro-Ministro Winston Churchill.

Ora, mesmo levando-se em conta que Getúlio Vargas tinha dado sua quota de contribuição aos Aliados, tendo enviado tropas do Exército Brasileiro por meio da FEB (Força Expedicionária Brasileira) aos campos de batalha na Itália, ajudando, assim, a derrotar o Nazi-Fascismo, ele não o fez de graça, pois em contrapartida recebeu ajuda financeira para construir a Usina de Volta Redonda/RJ e, ademais, era incompatível a continuação do Estado Novo no Brasil quando no mundo ocidental (América e parte da Europa) o regime democrático era restabelecido e aqui também o povo pedia por mudanças dessa ordem.

Tanto assim, que logo após a 2ª Guerra Mundial Getúlio Vargas deixa o poder, são realizadas novas eleições para Presidente da República pela via direta, vencendo o Marechal Eurico Gaspar Dutra, que o substituiria no comado maior do país na gestão seguinte (1946-1950).

Não se pode olvidar, também, que em 1946 houve a instalação de uma Constituinte e a promulgação logo em seguida de uma Constituição democrática que doravante passaria a viger – a Constituição de 1946, tão democrática, guardando-se as devidas proporções, de tempo e espaço, quanto a Constituição de 1988.

Pois bem, no período em que se realizava a IV edição da Copa do Mundo, o povo brasileiro voltava a respirar ares de democracia, na medida em que o próprio Getúlio Vargas que antes fora considerado um ditador no comando maior da administração do país, na iminência dos jogos da Copa de 1950, estava em campanha para comandá-lo de novo, desta feita, pela via democrática, eleito pelo povo e, seria de fato e de direito, o novo Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil.

3.4.8.2 A Seleção Brasileira de 1950

Comissão Técnica:

Chefe da delegação: Mário Pollo (diretor do Fluminense e presidente em exercício da CBD)

Médicos: Newton Paes Barreto (do Botafogo) e Amílcar Giffoni (do Vasco)

Delegado para o Congresso da FIFA: José Maria Castello Branco

Massagistas: Johnson, também chamado Jack Johnson (Ovídio Dionysio, estava na Seleção desde 1930) e Mário Américo (foi o massagista da Seleção em sete Copas (de 1950 a 1974)

Técnico: Flávio Costa (do Vasco)

Auxiliar técnico: Oto Glória (técnico da Seleção de Portugal, em 1966) e Assistente técnicoVicente Feola (Feola comandaria o Brasil nas Copas de 1958 e 1966)

Jogadores: o Brasil levou 22 jogadores, assim distribuídos por equipe: 08 do Vasco (Barbosa, Augusto, Danilo, Eli, Alfredo, Ademir, Chico e Maneca),  04 do São Paulo (Bauer, Rui, Noronha, e Friaça), 03 do Flamengo (Juvenal, Bigode e Zizinho), 01 do Fluminense (Castilho), 01 do Botafogo (Nilton Santos), 02 do Palmeiras (Jair e Rodrigues), 01 do Corinthians (Baltazar), e 02 do Internacional de Porto Alegre (Nena e Adãozinho),

Abaixo, a relação de jogadores por nome, posição e time que jogava:

Goleiros: Barbosa (Vasco), e Castilho (Fluminense)

Zagueiros: Augusto (Vasco), Juvenal (Flamengo), Nena (Inter), Nilton Santos (Botafogo),

Médios: Bauer (São Paulo), Danilo (Vasco), Bigode (Flamengo), Noronha (São Paulo), Eli (Vasco), Rui (São Paulo), Alfredo (Vasco)

Atacantes: Friaça (São Paulo), Zizinho (Flamengo), Ademir (Vasco), Jair (Palmeiras), Chico (Vasco), Adãozinho (Inter), Maneca (Vasco), Baltazar (Corinthians), e Rodrigues (Palmeiras)

Retrata-se abaixo o número de jogadores por posição e clube:

 

TIMES

POSIÇÕES

TOTAL

GoleirosZagueirosMédiosAtacantes

Vasco

01

01

03

03

08

São Paulo

03

01

04

Flamengo

01

01

01

03

Palmeiras

02

02

Internacional

01

01

02

Botafogo

01

01

Fluminense

01

 

01

Corinthians

01

01

Total

02

04

07

09

22

 

 

A tabela acima mostra que, mesmo resolvidas as divergências entre São Paulo e Rio de Janeiro, a maior parte dos atletas era de times do Rio de Janeiro com 18 jogadores cariocas e apenas 04 paulistas, todos do São Paulo Futebol Clube. A Seleção seria formada com o melhor que se tinha à época, pelo menos na visão do técnico Flávio Costa. O scratch verde-amarelo (à época usava uniforme branco) era composto ainda pela maioria de jogadores cariocas. Vêem-se ainda que foram convocados 09 atacantes (quase a metade da Seleção), dado que o sistema tático utilizado foi o 2-3-5 (Pirâmide) variando para o W-M (criação do técnico inglês, do Arsenal, Herbert Chapman), com variação também para a Diagonal, bastante ofensivo, sistema tático que Flávio Costa usava no Vasco da Gama, quando ganhou vários títulos e o Vasco ficou conhecido como “O Expresso da Vitória”.

3.4.9 OS JOGOS DA COPA DE 1950

Destaque será dado a alguns jogos da 1ª fase (estreia do Brasil contra o México) e a uma das maiores zebras das Copas do Mundo quando a Inglaterra foi batida pelos EUA, além de todos os jogos do Brasil nessa fase. Na fase final, dar-se-á também destaque a todos os jogos do Brasil e especialmente ao jogo fatídico da final em 16 de julho de 1950.

3.4.9.1 Jogos do Brasil na 1ª Fase

Brasil 4 x 0 México (1)

Data: 24 de junho de 1950, sábado

Horário: 15h30

Estádio: Maracanã, no Rio de Janeiro

Público estimado: 81.650 pessoas

Gols: Ademir (32 do 1º); Jair (21), Baltazar (26) e Ademir (34 do 2º)

Brasil: Barbosa, Augusto e Juvenal; Eli, Danilo e Bigode, Maneca, Ademir, Baltazar, Jair e Friaça.

Técnico: Flávio Costa

México: Carbajal, Zetter e Montemayor; Ruiz, Ochoa e Roca; Septien, Ortiz, Casarin, Perez e Velasquez.

Técnico: Octavio Vial

Juiz: George Reader (Inglaterra) (2)

Auxiliares: Mitchell (Escócia) e Griffiths (País de Gales)

Notas: (1) Este jogo foi a estreia do Brasil na Copa de 1950. (2) Este árbitro dirigiria a partida final, entre Brasil 1 x 2 Uruguai.

Resumo do Jogo: Uma partida sem muita empolgação. Dos países da América do Norte, além dos EUA, o México tinha o futebol mais desenvolvido mas não a ponto de fazer frente aos países europeus e sul-americanos. Basta dizer que na Copa de 1930, no jogo inaugural, a Seleção mexicana foi batida ela França pelo placar de 4 x 1. Até a década de 1950, sem medo de errar, pode-se afirmar seguramente que o México era considerado juntamente com outras seleções da América do Sul (v.g. Bolívia), o saco de pancadas onde todos os outros podiam bater sem pena. Além disso, correu o boato de que os jogares mexicanos tinham viajado ao Brasil somente para participar e se divertir, entenda-se sair para as noitadas cariocas. Nesse sentido, considerando o timaço que o Brasil tinha à época o México não seria páreo para a Seleção Brasileira. Assim, aos 32’ do 1º tempo, Danilo fez um lançamento alto em direção à área mexicana, que encontraria Baltazar. O goleiro Carbajal saiu mal do gol e Baltazar de cabeça municiou Ademir que em velocidade e utilizando sua característica maior (chute forte) abriu o placar. Brasil 1 x 0 México. Esse foi o placar do 1º tempo. Na segunda etapa, o Brasil imprimiria seu estilo de jogo entre os 13 aos 34 minutos. Tanto assim, que marcou os demais tentos nesse período. Aos 21 minutos, Jair fez o segundo gol, aos 26 min., Baltazar, também utilizando sua característica principal (de cabeça), marcou o 3º gol. Aos 34 min. Ademir, municiado por Jair, marca o 4º e último gol. Final: Brasil 4 x 0 México. Devido a fragilidade do adversário, começava a artilharia brasileira, pois Ademir iniciava com 2 gols, mas não a certeza de que o Brasil passaria fácil pelos demais adversários. Só os jogos iriam dizer.

Brasil 2 x 2  Suíça

Data: 28 de junho de 1950, quarta-feira

Horário: 15 horas

Estádio: Pacaembu, em São Paulo

Público estimado: 50.000 pessoas

Gols: Alfredo (2); Fatton (17), e Baltazar (31 do 1º); Fatton  (43 do 2º)

Brasil: Barbosa, Augusto e Juvenal; Bauer, Rui e Noronha (1); Alfredo, Maneca, Ademir, Baltazar e Friaça.

Técnico: Flávio Costa

Suíça: Stuber, Neury e Boucquet; Lusenti, Eggimann e Quenche; Bickel, Tamini, Friedlander, Bader e Fatton.

Técnico: Franco Andeoli

Juiz: Ramón Azon (Espanha)

Auxiliares: Nicola (Paraguai) e Bustamante (Chile)

Nota: (1) Bauer, Rui e Noronha compunham a famosa Linha Média do São Paulo Futebol Clube no final da década de 1940. No sistema 2-3-5 (Pirâmide), o 2 significa os dois defensores (zagueiros), o 3 significa os três jogadores do meio de campo ou a Linha Média (médio direito, médio central e médio esquerdo) e o 5 significa os cinco atacantes, representando, portanto, um sistema tático bastante ofensivo.

Resumo do Jogo:  Em time que está ganhando não se mexe – Existe no futebol, entre outras, a seguinte máxima: “Em time que está ganhando não se mexe”. Logo, se o Brasil tinha vencido com facilidade o 1º jogo, goleado o México por 4 x 0, por que mexer no time? Na verdade, Flávio Costa como treinador do Brasil era incontestável para os cariocas, não para os paulistas e, como esse era o único jogo da Seleção Brasileira no Pacaembu/SP, o técnico brasileiro entendeu fazer uma média e mudou o time, escalando no meio de campo a Linha Média do São Paulo Futebol Clube (Bauer, Rui e Noronha) e fazendo modificações também, no ataque já que não poderia contar com Zizinho, Jair e Chico. Iniciado o jogo, porém, se existia rixa dos torcedores contra Flávio Costa, estes nem sequer puderam manifestar-se, pois logo aos 2 min. de partida Ademir recuperou uma bola quase na linha de fundo, cruzou para trás na direção de quem viesse se aproximando no ataque brasileiro, porém, Baltazar furou e Alfredo que vinha em velocidade pela meia direita chutou forte e cruzado no ângulo direito do goleiro suíço (Stuber). Brasil 1 x 0 Suíça. Doravante os suíços se fecharam na defesa e, pondo em prática o sistema tático desenvolvido pelo técnico Karl Rappan na década de 1940, conhecido como “Ferrolho Suíço” com dois zagueiros na sobra, quatro médios marcando perto da linha da grande área e, mais à frente deles, dois meias dando o primeiro combate quando o time era atacado e com apenas três atacantes, bastava esperar uma eventual falha da defesa brasileira que veio a ocorrer aos 17 min. quando o atacante Bickel centrou rasteiro da direita, a bola passou por  Friedlander, Barbosa não saiu do gol, Juvenal se atrapalhou na jogada e Fatton só teve o trabalho de empurrar a bola par ao fundo do gol. Brasil 1 x 1 Suíça. O Brasil continuou tentando furar o bloqueio suíço e, depois de vários escanteios batidos a nosso favor, num deles, cobrado por Friaça, aos 31 min. Baltazar sobe entre dois zagueiros e, lançando mão de sua especialidade, a cabeçada, faz Brasil 2 x 1 Suíça. No início da segunda etapa o Brasil chegou a criar duas chances de gol, mas que não foram convertidas e, doravante passou a administrar o resultado, quando, ao apagar das luzes, aos 43 min. a Suíça, por meio de Fatton empatou a partida. Placar final: Brasil 2 x 2 Suíça. As tentativas do Brasil nos últimos minutos de fazer mais um gol foram  inócuas e  o time saiu vaiado. No próximo jogo, de volta ao Rio de Janeiro, Flávio Costa já sabia antecipadamente o que deveria fazer: voltar com a escalação anterior.

Brasil 2 x 0  Iugoslávia

Data: 1º de julho de 1950, sábado

Horário: 14h45

Estádio: Maracanã, no Rio de Janeiro

Público estimado: 142.430 pessoas

Gols: Ademir (3 do 1º); e Zizinho (24 do 2º)

Brasil: Barbosa, Augusto e Juvenal; Bauer, Danilo e Bigode; Maneca, Zizinho, Ademir, Jair e Chico.

Técnico: Flávio Costa

Iugoslávia: Mrkusic, Horvat e Stankovic; Zlatko Cajkovski, Jovanovic e Djajic; Zeliko Cajkovski, Mitic, Tomasevic, Bobek e Vukas.

Técnico: Milorad Arsenijevic

Juiz: Mervyn Griffiths (País de Gales)

Auxiliares: Costa (Portugal) e Beranek (Áustria)

Resumo do Jogo: Começo arrasador com escalação inicial – Apenas para lembrar, foi a Seleção da Iugoslávia que tirou o Brasil da Copa de 1930 (Uruguai), nos venceram por 2 x 1. Logo, estava em situação melhor que o Brasil. Para tanto, Flávio Costa sabia que, em face do jogo anterior (Brasil 2 x 2 Suíça) precisava voltar a escalação anterior. Foi o que fez, até porque depois do último jogo, o clima não era bom. Tanto assim, que o Jornal O Estado de São Paulo (O Estadão) trouxe em sua edição naquela data, a seguinte manchete: “Seleção Brasileira corre o risco de ser eliminada esta tarde”. Além disso, a Iugoslávia vencera os dois jogos anteriores, contra a Suíça por 3 x 0 e contra o México por 4 x 1, de modo que se passasse pelo Brasil iria para a fase final do torneio. Assim, o 3º jogo do Brasil era deveras importante. Chegava, pois, a hora de dar o troco ou então o Brasil corria o risco de passar vexame antes da hora. Apesar de Flávio Costa não ter ainda encontrado a escalação ideal, iniciava o jogo com certa vantagem, digamos assim, pois o armador iugoslavo Mitic ao subir a escada do túnel do Maracanã não percebeu uma barra metálica e bateu com a cabeça na mesma, abrindo a testa com um corte que precisou de vários pontos e, somente entrou em campo após 10 min. do 1º tempo. O Brasil então aproveitou a oportunidade e, enquanto a Iugoslávia estava em campo com apenas 10 jogadores, Ademir, depois de receber um passe de Bauer, de costas para o gol, desvencilhou-se da marcação e, de pé direito chutou forte no canto esquerdo do goleiro Mrkusic, abrindo, assim, o marcador, aos 3 min. de partida. Brasil 1 x 0 Iugoslávia. Com o mesmo nº de jogadores em campo (11 x 11), a Iugoslávia equilibrou o jogo, fez investidas contra o gol brasileiro, tendo o goleiro Barbosa feito várias defesas arrojadas, especialmente no final do 1º tempo. No início da 2ª etapa o Brasil marcou o 2º gol através de Zizinho, porém, o árbitro da partida anulou-o sob o argumento de que na jogada que ensejou o gol Chico ele estava impedido (impedimento passivo). Depois, aos 10 min. houve uma investida do ataque iugoslavo, porém, não convertida em gol, servindo para que o Brasil acordasse e, aos 24 min. numa jogada em que Zizinho recebeu um passe de Bauer na intermediária. Ademir, percebendo a marcação iugoslava, deslocou-se do centro para a esquerda, carregando consigo a marcação da zaga. Zizinho percebeu o caminho aberto à sua frente, partiu em velocidade e, mesmo perseguido por dois adversários, ao entrar na área adversária, bateu cruzado no canto direito de Mrkusic. Brasil 2 x 0 Iugoslávia. O Brasil estava na fase final e a Seleção Brasileira  começava a jogar como uma orquestra.

 

3.4.9.2 Uma zebra impensável: EUA 1 x 0 Inglaterra

Estados Unidos 1 x 0 Inglaterra

Data: 29 de junho de 1950, quinta-feira

Horário: 15horas

Estádio: Independência, em Belo Horizonte

Público estimado: 12.000 pessoas

Gol: Gaetjens (38 do 1º)

EUA: Borghi, Keough e Maca; McIlveny, Colombo e Barh; Edward Souza, John Souza, Gaetjens, Pariani e Mullen.

Técnico: Willian Jeffery

Inglaterra: Williams, Ramsey e Aston; Wright, Hughes e Dickinson; Finney, Mortensen, Bentley, Mannion e Mullen.

Técnico: Walter Winterbottom

Juiz: Generoso Datilo (Itália)

Auxiliares: Galeatti (Itália) e Delasalle (França)

Resumo do Jogo: Zebra histórica – Era impensável que os EUA um país com tradição noutros esportes (basquete, beisebol, futebol americano, etc.) e praticamente sem tradição no soccer (futebol) pudesse bater a poderosa Inglaterra (English Team), ou seja, ganhar daqueles que se consideravam superiores aos demais países no futebol e que, por isso, não davam bola para a Copa do Mundo. Tanto é verdade, que a Inglaterra, inventora do futebol moderno, juntamente com os demais países britânicos (Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte), se desfiliaram da FIFA em 1928 e só voltaram a ser admitidos na entidade em 1946. Ademais, na  situação em apreço, é de se considerar que essa era a 1ª vez em que os ingleses participavam de uma Copa do Mundo. Pois foi o que aconteceu. Os EUA, depois de perderem o 1º jogo para os espanhóis (Espanha 3 x 1 EUA), engrossaram o caldo contra os ingleses, vencendo o jogo pelo placar mínimo: 1 x 0. Os torcedores presentes ao estádio Independência, cerca de 12.000 pessoas, demoraram a acreditar no que estavam vendo – a poderosa Inglaterra ser batida pelos EUA. O resultado era tão improvável que um redator de um jornal em Londres ao receber a mensagem do resultado do jogo (via teletipo), leu o resultado “England 0, USA 1”, e nem se abalou, pois interpretou que teria havido erro na transmissão, sendo o resultado correto “England 10, USA 1”, ou seja, a Inglaterra vencera os EUA pelo placar elástico de 10 x 1. Vamos ao jogo. A Inglaterra jogou da mesma forma como tinha enfrentado e vencido o Chile por 2 x 0, ou seja, metodicamente e sem pressa. Os EUA, por sua vez, conscientes de que não poderiam enfrentar os ingleses em pé de igualdade, compactaram o time em sua metade do campo e apenas se defenderam. Assim, na única oportunidade que tiveram, fizeram o gol, descrito da seguinte forma: o médio Mcilvenny, quase na linha do meio de campo, cobrou um lateral para Bahr, que, sob pressão, levantou a bola na direção da área inglesa e Williams saiu para defender, observado pelo zagueiro Ramsey, quando então o haitiano Gaetjens atirou-se corajosamente no lance e, de cabeça, desviou a bola do goleiro inglês. Inglaterra 0 x 1 EUA. A Inglaterra atacou durante todo o jogo e criou várias chances de gol. Só no primeiro tempo, foram 30 tentativas dos ingleses contra uma só dos norte-americanos´. Aliás, aquele não seria o dia dos ingleses, pois como bem disse o capitão inglês (Billy Wright): “poderíamos ficar jogando o dia inteiro que o gol não sairia”. A propósito, quem esteve mais próximo de fazer um tento foram os EUA num único contra-ataque realizado aos 39 min. do 2º tempo, quando John Souza ficou sozinho diante do goleiro inglês (Williams), entretanto, chutou sem direção, para fora. Terminada a partida, o campo foi invadido pelos torcedores que carregaram nos ombros os incríveis jogadores norte-americanos. Em 2005, o jogo histórico virou filme, sob o título THE GAME OF THEIR LIVES (O JOGO DE SUAS VIDAS).

3.4.9.2.1 EUA 1 x 0 Inglaterra: Uma zebra histórica? Nem tanto

É quase unânime o entendimento de que esse jogo foi uma zebra, sem parâmetro no futebol. Todavia, se pesquisarmos mais um pouco sobre o assunto se pode chegar à conclusão diversa, senão vejamos do trecho transcrito abaixo (Histórias do Futebol, de Bill Murray, p. 35-36):

No início do século XX, a paixão dos norte-americanos pelo futebol foi estimulada pela visita de alguns times amadores ingleses, como o Pilgrims, em 1905 e 1909, e o Corinthians, em 1906 e 1911. Em 1905, o Fall River venceu os visitantes por 3 x 0 diante de um público de 8 mil espectadores. No mesmo ano, a primeira Liga de Futebol Interuniversidades foi fundada, causada pela natureza violenta desse jogo. Os primeiros membros dessa associação foram as universidades de Colúmbia, Cornell, Harvard e Pensilvânia e o Haverford College. Em 1912, existiam associações organizadas em doze estados. Nesse mesmo ano, a comissão responsável pelo estádio da Universidade de Harvard alardeava que o futebol universitário iria atrair multidões tão grandes quanto as que acompanhavam as finais da Copa FA. Não seria o último prognóstico errado, e, principalmente nas faculdades, o futebol continuou praticamente irrelevante.

Entretanto, o futebol fixou algumas raízes em outras regiões. Na costa Oeste, a Liga de Futebol de Los Angeles foi fundada em 1902, e a Associação de San Francisco surgiu dois anos depois. No Meio-Oeste, o futebol alcançou uma certa importância em Chicago, Detroit e, principalmente, St. Louis, que estabeleceu a singular crença, ainda permanente, de ser o local de nascimento de um talento nato. Foi lá que, em 1890, surgiu o Kensingtons of Saint Louis, o primeiro time a ter todos os jogadores nascidos nos EUA. O time tornou-se o mais bem-sucedido de todos os tempos, cedendo seis jogadores para a seleção de futebol dos EUA que se transformou na sensação da Copa do Mundo de 1950, no Brasil. Porém, foi na conta Leste que o futebol mais se firmou, e quando, em 1913, os dois órgãos rivais dessa região, a AFA e a AAFA, resolveram suas diferenças, os EUA foram aceitos pela FIFA, abrindo o caminho para a curta “idade de ouro” vivida pelo futebol norte-americano. (grifou-se).

Levando-se em conta, pois, que o soccer (futebol) nos EUA teve sua “idade de ouro” e que, desse período emanaram vários jogadores que integraram a Seleção de Futebol norte-americana que veio à Copa do Mundo no Brasil, em 1950, conforme indica o texto acima, não se pode dizer que o placar do jogo entre EUA 1 x 0 Inglaterra, por si só, tenha sido uma zebra. Pode até ter sido uma zebra, mas nem tanto.

3.4.9.3 Jogos do Brasil na Fase Final

Entre o final da 1ª fase e o início da Fase Final houve um intervalo (descanso) de uma semana. Na Fase Final utilizou-se o sistema de pontos corridos, ou seja, quem acumula mais pontos ganha o título, estabelecendo-se o campeão, o vice-campeão e os demais classificados. Na Fase Final se enfrentariam os vencedores dos Grupos I, II, III e IV da 1ª fase. Assim, Brasil (Grupo I), Suécia (Grupo II), Espanha (Grupo III) e Uruguai (Grupo IV) se enfrentariam na sistemática de pontos corridos e em único turno (quadrangular final). A ordem dos jogos foi definida pelo sorteio realizado pela FIFA em 03 de julho (segunda-feira). Na mesma data decidiu-se também que em função de o Pacaembu/SP ter sua capacidade máxima estipulada em 70.000 torcedores o Brasil faria todos os jogos desta fase no Maracanã/RJ.

Brasil 7 x 1 Suécia

Data: 9 de julho de 1950, domingo

Horário: 15horas

Estádio: Maracanã, no Rio de Janeiro

Público estimado: 138.900 pessoas

Gols: Ademir (17 e 37) e Chico (39 do 1º); Ademir (6 e 14), Andersson (pênalti, 22), Maneca (40) e Chico (43 do 2º).

Brasil: Barbosa, Augusto e Juvenal; Bauer, Danilo e Bigode; Maneca, Zizinho, Ademir, Jair e Chico.

Técnico: Flávio Costa

Suécia: Svensson, Samuelsson e Erik Nilsson; Nordahl, Andersson e Gärd; Sundqvist, Palmér, Jeppsson, Skoglund e Stellan Nilsson.

Técnico: George Raynor

Juiz: Arthur Ellis (Inglaterra)

Auxiliares: Delasalle (França) e Garcia (Estados Unidos)

Resumo do jogo: Uma Semana Iluminada – Este jogo, pelo nº de gols lembra-me o 1º filme que assisti logo que cheguei aqui em Fortaleza/CE, na década de 1960. Era um Bang-Bang e tinha o título de “Saraivada de Balas”. Pois bem, fazendo uma analogia, o Brasil aplicou à Suécia uma “Saraivada de Gols”. Este era o 4º jogo do Brasil, Flávio Costa repetia a escalação da última partida e, considerando a atuação impecável que o time teve na partida, este era certamente o time ideal a ser posto doravante em campo. Os atacantes brasileiros (Ademir, Zizinho e Jair) não encontraram dificuldades em trocar passes na medida em que a Suécia não tinha um sistema de marcação eficaz. Assim, aos 10 min. de partida, Zizinho marcou, porém, o juiz da partida anulou o gol sob a alegação de que antes de receber o passe do Ademir a bola saíra pela linha de fundo. Aos 17 min., Ademir recebeu a bola de Jair na entrada da área e chutou rasteiro no canto direito por baixo do goleiro Svensson. Brasil 1 x 0 Suécia. Com o gol, a Suécia não se intimidou e assim como fazia o Brasil partiu também para o ataque tentando igualar o marcador. Tanto assim, que, repetindo jogadas que fizera antes de tomar o 1º gol, aos 35 min., Sundqvist bateu Bigode na corrida e chutou, porém, a bola saiu pela linha de fundo. Por um momento a torcida silenciou. Porém, logo em seguida, o Brasil fez o 2º gol, através do mesmo jogador (Ademir) num jogada idêntica à do 1º gol (passe de Jair para Ademir). Ao contrário do 1º, este gol desnorteou os suecos, pois logo depois aos 39 min. Chico recebeu uma bola da esquerda, driblou duas vezes o zagueiro sueco (Samuelsson) e chutou forte de pé esquerdo, entre o goleiro (Svensson) e a trave. Nos últimos minutos, o Brasil ainda criou várias chances de gol, que não foram convertidas. Placar do 1º tempo: Brasil 3 x 0 Suécia. Na 2ª etapa, o Brasil veio com a mesma determinação e não deu tempo à Suécia de respirar, pois, aos 6 min. Ademir foi lançado em profundidade por Zizinho, entrou sozinho na área, passou pelo goleiro Svensson e entrou com bola e tudo: Brasil 4 x 0 Suécia.  Aos 14 min. Jair cruzou para a área. A bola passou pela zaga da Suécia e sobrou limpa para o artilheiro Ademir chutar no canto  esquerdo do goleiro sueco. Brasil 5 x 0 Suécia. Aos 21 min. o atacante sueco Palmér, num contra-ataque levou uma rasteira de Bigode fora da área brasileira, entretanto, o juiz entendeu como falta dentro da área e assinalou penalidade máxima (pênalti), convertido por Andersson que bateu no canto esquerdo do arqueiro brasileiro (Barbosa). Brasil 5 x 1 Suécia. Daí em diante, brasileiros e suecos apenas trocaram passes enquanto o tempo passava. De repente, o Brasil acordou e viu que podia ampliar ainda mais o placar e fez mais dos gols: aos 40 min. Chico centrou alto, Maneca, que já havia sentido um estiramento na coxa, teve a oportunidade e, mesmo contundido fez o 6º gol brasileiro (devido a tal contusão, Maneca não jogaria mais a Copa de 1950). Brasil 6 x 1 Suécia. Três minutos depois, a defesa sueca esqueceu Chico. O ponta-esquerda brasileiro recebeu a bola de Jair, correu sozinho até dentro da área e chutou rasteiro na saída de Svensson. Placar final: Brasil 7 x 1 Suécia. Esta partida entrou para a história como a maior goleada aplicada pelo Brasil em Copas do Mundo e o jogo com maior nº de gols feitos por um atleta: Ademir (Ademir Marques de Menezes – O Queixada), com 4 gols. Enfim, uma saraivada de gols, uma máquina azeitada de fazer gols. Que venham os espanhóis.

Brasil 6 x 1  Espanha

Data: 13 de julho de 1950, quinta-feira

Horário: 15horas

Estádio: Maracanã, no Rio de Janeiro

Público estimado: 167.200 pessoas

Gols: Parra (contra, 15), Jair (23), e Chico (30 do 1º); Chico (11), Ademir (12), Zizinho (22) e Igoa (26 do 2º).

Brasil: Barbosa, Augusto e Juvenal; Bauer, Danilo e Bigode; Friaça, Zizinho, Ademir, Jair e Chico.

Técnico: Flávio Costa

Espanha: Ramallets, Alonso e Parra; José Gonzalvo, Mariano Gonzalvo e Puchades; Basora, Panizo, Zarra, Igoa e Gainza.

Técnico: Guillermo Eizaguirre Olmos

Juiz:  Reg Leafe (Inglaterra)

Auxiliares: Costa (Portugal) e Mitchell (Escócia)

Resumo do jogo: Touradas em Madri. A Espanha tinha empatado em 2 x 2 com o Uruguai na partida anterior. Logo, se quisesse almejar ser a campeã teria que tentar passar pelo Brasil. Apenas para lembrar, na Copa de 1934, fizemos apenas um jogo contra a Espanha e perdemos por 3 x 1. Agora a situação era diferente, já que a Seleção Brasileira depois da goleada sobre a Suécia por 7 x 1, vinha embalada. Na data anterior ao jogo, dia 12/07/1950 (quarta-feira), porém, prevendo que muitos funcionários púbicos iriam matar o trabalho para ir ao jogo, o Governo Federal e a Prefeitura do Rio de Janeiro decretaram meio expediente no dia do jogo – 13/07/1950 (quinta-feira). Começado o jogo, porém, a Espanha deu mostras que iria jogar de igual para igual com o Brasil, pois logo aos 2 min. de partida, Bigode já tinha sido obrigado a dar uma tesoura no ponta Basora e Zarra perdera uma excelente chance, ao tocar a bola com a mão. Assim, até os 15 min. houve alternâncias de ataques, pois ora o Brasil estava no ataque (chutou cinco vezes a gol, para fora), ora a Espanha fazia o mesmo (chutou duas vezes por cima do gol brasileiro e outra Barbosa botou para escanteio). Aos 14 min. Bigode foi obrigado a fazer nova falta para neutralizar a jogada do atacante espanhol Basora que sozinho escapava pela direita. Porém, no lance seguinte, o gol brasileiro saiu, por meio de Ademir que chutou forte no canto esquerdo de Ramallets. Parecia uma jogada normal, porém, no meio do caminho o zagueiro Parra tentou cortar e acabou desviando a trajetória da bola para o canto oposto – gol contra. Brasil 1 x 0 Espanha. O 2º gol brasileiro foi marcado logo em seguida devido também a uma falha da defesa, particularmente do goleiro. Eram 23 min. quando Jair recebeu fora da área um passe de Ademir e disparou um chute forte e rasteiro. Ramallets pulou e defendeu, porém, deixou a bola escapar, que subiu, tocou a rede pelo alto e caiu dentro do gol. Brasil 2 x 0 Espanha.  Doravante, os espanhóis se perderam em campo, pois aos 30 min. saiu o 3º gol do Brasil, depois de um bate-rebate na área, Chico recebeu um passe de Bigode, entrou pela esquerda e atirou para o gol, Ramallets rebateu a bola e Ademir pegou o rebote, entretanto, chutou em cima do goleiro. A bola espirrou para Chico na esquerda que emendou de primeira: Brasil 3 x 0 Espanha. Nos últimos 15 min. finais do 1º tempo, o Brasil diminuiu o ritmo e o jogo ficou equilibrado novamente, sem chances de gol para ambos os lados. Ao voltar do intervalo, a Seleção veio com tudo. Em 10 min. deu cinco chutes contra o gol espanhol. No sexto chute, aos 11 min. o Brasil fez o 4º gol. Deslocado pela direita, Ademir centrou  rasteiro, a bola atravessou toda a área espanhola e encontrou do outro lado do campo o ponta-esquerda Chico, que, sozinho chutou forte no alto do canto direito, sem chances para o goleiro espanhol. Era o gol de nº 300 de todas as Copas, um gol histórico, portanto. Brasil 4 x 0 Espanha. A Espanha pareceu estar nocauteada pois mal deu a saída de bola aos 12 min. a defesa brasileira recuperou-a e com passes entre Bauer e Zizinho  a bola chegou aos pés de Ademir que com um leve toque colocou-a no canto esquerdo de Ramallets. Brasil 5 x 0 Espanha. Para o sexto e último gol foi só uma questão de tempo, feito por Zizinho aos 22 min. depois de municiado por Ademir. Brasil 6 x 0 Espanha. Aos 26 min. a Espanha fez seu gol de honra, através de Igoa, por sinal o gol mais bonito do jogo. Placar final: Brasil 6 x 1 Espanha. Doravante, o Brasil, presume-se, satisfeito com o resultado, deixou de atacar, porém o espetáculo, desde o 4º gol brasileiro, fora transferido do campo para as arquibancadas do Maracanã. Sem licença ou aviso, a multidão, na ordem de mais de 160.000 pessoas, cantava em coro único a música Touradas em Madri, composta em 1942 por João de Barro e Alberto Ribeiro. A alegria foi tanta que se estendeu do campo, após o jogo, às ruas do Rio de Janeiro. Da forma como o Brasil vinha jogando, dificilmente perderia o título – mas tinha uma pedra no caminho do Brasil no último jogo – a Celeste Olímpica.

 

3.4.9.4 A tragédia final: Brasil 1 x 2 Uruguai

 “Cada povo tem a sua irremediável catástrofe nacional, algo como uma Hiroshima. A nossa catástrofe, a nossa Hiroshima, foi a derrota frente ao Uruguai, em 1950.” (Nelson Rodrigues)

Brasil 1 x 2  Uruguai

Data: 16 de julho de 1950, domingo

Horário: 14h55

Estádio: Maracanã, no Rio de Janeiro

Público estimado: 172.272 pessoas

Gols: Friaça (1), Schiaffino (21) e Ghiggia (34 do 2º)

Brasil: Barbosa, Augusto e Juvenal; Bauer, Danilo e Bigode; Friaça, Zizinho, Ademir, Jair e Chico.

Técnico: Flávio Costa

Uruguai: Maspoli, Matias González e Tejera; Gambetta, Obdulio Varela e Rodriguez Andrade; Ghiggia, Julio Perez, Miguez, Schiaffino e Morán.

Técnico: Juan Lopez

Juiz: George Reader (Inglaterra)

Auxiliares: Ellis (Inglaterra) e Mitchell (Escócia)

Resumo do jogo: (Maracanzzo – a maior tragédia do futebol mundial). Tudo conspirava para que o Brasil, jogando em casa, dentro do maior estádio de futebol do mundo da época (Maracanã), com a torcida a favor e considerando o Regulamento da competição, o Brasil jogando pelo empate, aliado ainda ao fato de que o Brasil ter derrotado os dois adversários anteriores (Suécia e Espanha) de forma espetacular, aplicando duas goleadas ( 7 x 1 e 6 x 1, respectivamente) não se poderia esperar outro resultado, senão que o Brasil ganhasse o título sem muito esforço. Era razoável pensar assim, até porque o adversário do Brasil – o Uruguai chegara à fase final, porém, tendo passado sufoco (empatado com a Espanha em 2 x 2 e vencido a Suécia por placar apertado, de 3 x 2). A despeito de todas as adversidades que o Uruguai passou para chegar á final, os brasileiros (CBD, imprensa, crônica esportiva, comissão técnica, etc.), se esqueceram de dois fatores fundamentais em qualquer competição, quais sejam: a) as condições têm que ser as mesmas para todos os competidores e o que foi que o Brasil fez – colocou o Uruguai sozinho com a Bolívia no Grupo IV. Foi o mesmo que dizer aos uruguaios: –vocês já estão antecipadamente classificados, já que brasileiro, como vocês sabem, brasileiro é bonzinho. Lembrem-se: o Uruguai goleou a Bolívia por 8 x 0; b) se esqueceram também de verificar o currículo do adversário e quais seriam as condições (os pontos fortes) do adversário vencer a competição. Os inocentes da época esqueceram que o Uruguai ao desembarcar no Rio de Janeiro para a IV edição da Copa do Mundo, já eram, volto a repetir,  tricampeões de futebol do Mundo (tinham ganhado os Jogos Olímpicos de Paris (1924), vencendo a Suíça por 3 x 0 e em 1928 (Amsterdã), bateram sua arquirrival (Argentina) por 2 x1, e, em 1930, jogando em casa na I edição da Copa do Mundo, bateram novamente a Argentina por 4 x 2. Querem mais? Não, basta, porque hoje é fácil falar isso. Na época, por várias razões, os brasileiros entraram em campo de salto alto, pensando que estavam enfrentando qualquer timinho e, quando fizeram o 1º gol por meio de Friaça, no início do segundo tempo, pareciam que já tinham cumprido com o seu dever e que o jogo já tinha terminado. Mera ilusão, pois foi a partir daí que a Celeste Olímpica se agigantou com as atitudes e ações do capitão Obdúlio Varela (chegou-se a afirmar que ele amarrava as chuteiras com as veias e não com cadarços) elevando o moral do seu time e fazendo com que depois de duas jogadas semelhantes, pelo lado esquerdo da defesa brasileira em duas investidas do ponta-direita Ghiggia, a primeira, aos 20 min., depois de bater Bigode na corrida cruzou para trás encontrando o meia-atacante Schiaffino que empatou o jogo. Na segunda investida, aos 34 min. o mesmo Ghiggia, em jogada similar, bateu Bigode novamente e, sem ter havido a cobertura (por Juvenal), em vez de cruzar para quem vinha chegando no ataque uruguaio, chutou forte, rasteiro, entre o goleiro Barbosa e a trave. Brasil 1 x 2 Uruguai. Doravante um silêncio (silêncio ensurdecedor nas palavras de Nelson Rodrigues) tomou conta do Maracanã e que refletiu sobre a atitude dos jogadores brasileiros, que, mesmo tentando empatar a partida, até o minuto final, não conseguiram. Silêncio, choro dos jogadores, da torcida, desmaios, enfim uma tragédia sem anúncio ou enredo. Foi a maior tragédia de todos os tempos no futebol. Conclusão: o futebol não é uma ciência exata e mesmo com todos os elementos a favor da Seleção Brasilreira  o resultado final foi outro, inconcebível para aquela multidão de 200.000 pessoas que compareceu ao Maracanã naquela tarde fatídica de 16 de julho de 1950. Inconcebível não só para os torcedores que foram ao maior estádio do mundo, mas para toda a população brasileira da época – cerca de 52 milhões de pessoas. Foi uma tragédia que calou a torcida que foi ao Maracanã, imprimiu humilhação aos espetaculares jogadores daquela Seleção (Ademir, Augusto, Danilo, Jair, Zizinho, Friaça, Chico, Bauer), especialmente os que levaram a culpa pela derrota (Barbosa, Juvenal e Bigode) a ponto de o goleiro brasileiro declarar em 1993 que no Brasil a pena máxima era de 30 anos, que ele já tinha cumprido e 43 anos depois da decisão fatídica ainda continuava como culpado ou condenado pela derrota. A questão se agrava ainda mais se considerarmos que o Brasil jogava pelo empate, saiu na frente e deixou que o Uruguai virasse o jogo. Enfim, essa tragédia, nunca será esquecida, conforme diz Geneton Moraes Neto: “por quem viu e por quem não viu”. A propósito, mesmo considerando que o Brasil depois disso já é pentacampeão mundial de futebol, os fantasmas do Maracanã ainda rondam por aí.  Somente com a conquista do título da Copa do Mundo de 2014, o Brasil possa afugentar de vez por todas esses fantasmas. Não será tarefa fácil, mas não se pode admitir que o Brasil que já venceu cinco Copas do Mundo jogando fora, não possa vencer uma Copa jogando em casa.

3.4.9.4.1 – A Seleção do Uruguai – Campeã da Copa de 1950 

Abaixo a foto da Seleção do Uruguai que venceu o Brasil por 2 x 1 e sagrou-se bicampeã mundial de futebol. Lembrem-se: bicampeã, pois ganhou a I edição da Copa, em 1930, em casa e venceu, também, a IV edição, em 1950, no Brasil. Se considerarmos os títulos Olímpicos de 1924 e 1928, com o título obtido no Brasil, o Uruguai estaria sendo, na verdade, tetracampeão mundial de futebol. Abaixo, portanto, a relação dos campeões e da comissão técnica.

Explicações sobre a escalação da Seleção campeã. Na foto está escrito:

EM PÈ: Obdulio Varela, Juan López Fontana (treinador),

Tejera, Gambeta, Matias Gonzalez, Maspoli e Andrade.

AGACHADOS: Ghiggia, Julio Perez, Miguez, Schiaffinoe Morán

(os demais, de agasalho escuro com escudo no peito, são membros da comissão técnica).

 

EXPLICAÇÃO: Em Pé: Obdulio Varela (capitão) é o primeiro jogador à esquerda (aparece na foto com a imagem parcial, cortada verticalmente). Juan López Fontana (treinador) está no outro extremo da foto, do lado direito (de óculos). Depois, excluindo-se os profissionais da comissão técnica que estão com o escudo no peito, chega-se a discriminação correta dos atletas: Tejera, Gambeta, Matias Gonzalez, Maspoli e Andrade. Agachados: A discriminação dos jogadores agachados está correta.

3.4.9.4.2 Jules Rimet entrega a Taça a Obdulio Varela

Em meio ao choro dos brasileiros e a euforia dos uruguaios, o presidente da FIFA, Jules Rimet, sem acreditar no que estava vendo, desceu das tribunas de honra do Maracanã a fim de entregar a taça ao capitão da Celeste Olímpica.

No Livro do escritor uruguaio Eduardo GaleanoFutebol ao Sol e à Sombra (p. 91), há uma passagem que retrata com fidelidade a maneira como Jules Rimet entregou o troféu ao capitão do Uruguai, senão vejamos:

Quando o brasileiro Friaça converteu primeiro gol, um estrondo de duzentos mil gritos e muitos foguetes sacudiu o monumental estádio. Mas depois Schiaffino cravou o gol de empate e um tiro cruzado de Ghiggia deu o campeonato ao Uruguai, que acabou ganhando por 2 x 1. Quando houve o gol de Ghiggia, explodiu o silêncio no Maracanã, o mais estrepitoso silêncio da história do futebol, e Ary Barroso, o músico autor de Aquarela do Brasil, que estava transmitindo a partida para todo o país, decidiu abandonar para sempre o ofício de locutor de futebol.

Depois do apito final, os comentaristas brasileiros definiram a derrota como a pior tragédia da história do Brasil. Jules Rimet perambulava pelo campo, perdido, abraçado ao troféu que levava seu nome:

— Fiquei sozinho, com a taça em meus braços e sem saber o que fazer. Acabei por descobrir o capitão uruguaio. Obdulio Varela, e a entreguei quase às escondidas. Apertei-lhe a mão sem dizer nem uma palavra.

No bolso, Rimet levava o discurso que tinha feito em homenagem ao campeão brasileiro.

[…]

3.4.9.4.3 Expressão gráfica dos gols da final

A expressão gráfica dos gols marcados na final da Copa de 1950 consta do Livro do jornalista Teixeira HeizerO jogo Bruto das Copas do Mundo (p. 93), abaixo reproduzida:

3.4.9.4.4 A força do Rádio na transmissão do jogo e narração dos gols

A descrição do jogo e dos gols da final da Copa de 1950 não ficaria completa, se deixássemos de fazer alusão às grandes emissoras e respectivos locutores (narradores) da época, que estavam no Maracanã. Com a voz embargada esses profissionais tiveram que narrar os gols da Seleção do Uruguai. Entre as grandes emissoras e respectivos locutores que narraram o jogo, conforme o livro de Teixeira Reizer (p. 82) citam-se os seguintes:

Rádio

Locutor/Narrador

Comentarista (s)

01 Rádio Tupi/RJ – PRG-3 Ary Barroso José Maria Scassa
02 Rádio Tamoyo/RJ Mário Provenzano
03 Emissora Continental- PRD-8 Waldir Amaral, Sérgio Paiva e Jorge de Souza Gagliano Neto (supervisor)
04 Rádio Mayrink Veiga/RJ – PRA-9 Oduvaldo Cozzi Antonio Maria (1), Lourival Pereira, Everardo Lopes e Rui Porto
05 Rádio Nacional/RJ – PRE-8 Antonio Cordeiro e Jorge Cury Pillar Drummond
06 Rádio Globo/RJ Luiz Mendes Benjamim Wright e Geraldo Romualdo da Silva (repórter de campo)
07 Rádio Record/SP Geraldo José de Almeida

08 Rádio Tupi/SP Rebelo Júnior

09 Rádio Pan-Americana/SP Pedro Luiz, Fiori Giglioti, Otavio Muniz

10 Rádio Bandeirantes/SP Edson Leite Mário Morais

Notas: (1) – Antonio Maria, poeta, jornalista e compositor.

Conforme Teixeira Reizer (p. 82-83), a narração dos gols ocorreu da seguinte maneira:

“A transmissão dos gols foi ponto altamente emocional. Pedro Luiz, da Pan-americana, descreveu o gol de Friaça, com as palavras abaixo:

‘Zizinho de primeira passa para Ademir. Vai descendo Ademir. Lança Friaça. Adentra a área. Na corrida, chuta: gol. Gol de Friaça para o Brasil, abrindo a contagem para o Brasil. Um a zero no marcador; o Maracanã quase vai abaixo.’

“O correto locutor, hoje comentarista, Luiz Mendes, narrou, assim, o gol de empate, pela Rádio Globo:

‘Bola em poder de Julio Perez, dentro do grande círculo. Entra sobre ele Danilo. Danilo toma-lhe a bola. Julio Perez insiste e retoma o balão. Investe e chega na intermediária brasileira. Defronta-se com Jair. Passa por ele e entrega a Obdulio Varela. Obdulio estende a Ghiggia na ponta-direita. Ghiggia é cercado por Bigode. Ghiggia dribla Bigode. Chega na linha de fundo. Centra para dentro da área brasileira. Entra Schiaffino e chuta. Gol do Uruguai. Gol do Uruguai, Schiaffino. Está empatada a partida, Schiaffino. 20 minutos e meio. 1 x 1, Brasil e Uruguai.’

“Jorge Cury, que dividia com Antonio Cordeiro  transmissão da Rádio Nacional, líder de audiência no Brasil, narrou o gol  da vitória uruguaia da seguinte maneira:

‘Danilo perde para Julio Perez que entrega imediatamente a Miguez. Este devolve a Julio Perez. Passa por Jair e atravessa o meio de campo. Lança a Ghiggia. Corre Ghiggia. Aproxima-se do gol do Brasil e atira… Ghiggia, segundo gol do Uruguai. Dois a um, ganha o Uruguai.’

3.4.9.4.5 A Seleção Brasileira Vice-Campeã Mundial de 1950

Os jogadores da Seleção Brasileira de 1950 nunca podem ser esquecidos, pois a despeito de ficarem com o vice-campeonato honraram a camisa da Seleção. Perder o título foi um caso fortuito que só o Sobrenatural de Almeida de Nelson Rodrigues pode explicar.

A Seleção Brasileira no jogo decisivo, considerando o sistema tático utilizado na época (2-3-5 ou pirâmide com variação para o W-M e a diagonal) foi escalada da seguinte maneira: Barbosa, Augusto e Juvenal; Bauer, Danilo e Bigode; Friaça, Zizinho, Ademir, Jair e Chico.

Foto acima – vê-se a Seleção Brasileira com os 11 jogadores que enfrentaram o Uruguai na decisão em 16 de julho de 1950, assim escalada:

Em pé (da esquerda para a direita): Barbosa, Augusto e Danilo; Juvenal, Bauer e Bigode.

Agachados (na mesma sequência): Friaça, Zizinho, Ademir, Jair e Chico.

Notas:

(1) Agachados (nos extremos): a) à esquerda – o massagista principal Jonhson ou Jack Jonhson; b)  à direita – o massagista-assistente Mário Américo.

(2) Jonhson trabalhou como massagista da Seleção nas Copas de 1930 a 1950.

(3)  Mário Américo trabalhou como massagista da Seleção em sete  Copas (1950 a 1974).

(4) Esta forma de discriminar os jogadores nas fotos vem dos inventores do futebol (Inglaterra) e da própria Internacional Board, que chegou a estabelecer inclusive qual o sistema tático (2-3-5) que os times deveriam utilizar até as primeiras décadas do século XX. Assim, a discriminação dos jogadores nas fotos deveria obedecer (em Inglês) a seguinte ordem – Standing (em pé) e Knelling (agachados), daí porque nos outros idiomas, inclusive em Português, deve-se observar tal orientação.

3.4.10 AS POSSÍVEIS EXPLICAÇÕES PARA A TRAGÉDIA DO MARACANÃ

Pode-se até dizer que falar é fácil, fazer uma análise circunstanciada ou reflexão especialmente sobre um fato depois que o mesmo ocorreu há bastante tempo. Sim, é verdade. Porém, não se pode olvidar que mesmo feita a posteriori uma análise pode servir para ser confrontada com outras, ser refutada, contestada, retificada ou ratificada, de modo que é melhor se ter um ponto de partida, mesmo que com falhas do que não se ter nada, até porque se se quer melhorar, buscar explicações, discutir, enfim tirar conclusões ou evitar futuros erros, nada melhor do que lançar mão do que já existe escrito sobre o assunto para daí discutir, refletir e tirar conclusões sobre o assunto objeto de estudo. É com esse propósito, portanto, que são feitas as seguintes considerações acerca das possíveis explicações (se é que elas podem existir) para a derrota do Brasil para o Uruguai naquela fatídica decisão em 16 de julho de 1950.

3.4.10.1 – O discurso do Prefeito: general Ângelo Mendes de Morais

Na solenidade que precedeu a decisão no Maracanã, em 16 de julho de 1950, o prefeito do Distrito Federal (Rio de Janeiro), general Ângelo Mendes de Moraes, em discurso proferido aos jogadores falou sobre a responsabilidade cumprida de ter construído o Maracanã e, entre outras cobranças exigiu dos jogadores que ganhassem o título mundial. Abaixo, na íntegra, o teor do referido discurso extraído do livro de Roberto Muylaert que analisa a situação do goleiro Barbosa frente ao 2º gol do Uruguai assinalado por Ghiggia – o gol que silenciou o Maracanã na fatídica decisão em 16 de julho de 195 senão vejamos:

Vós jogadores, que a menos de poucas horas sereis aclamados campeões por milhões de compatriotas.

Vós que não possuis rivais em todo o hemisfério!.

Vós, que superais qualquer outro competidor!

Vós, que eu já saúdo como vencedores!

Cumpri minha promessa construindo este estádio. Agora fazei o vosso dever, ganhando a Copa do Mundo. (Barbosa, …p. 37)

O discurso em referência não pode, por si só, ser colocado como um dos fatores que contribuiu diretamente para que os jogadores perdessem a Copa de 1950, todavia, aliado a outros fatores alinhados adiante, pode sim, em maior ou menor grau ter concorrido para tal resultado. Aliás, o teor do discurso em apreço mostra justamente a ignorância dos políticos sobre o futebol, um dos pouco esportes em que um time mais fraco pode bater um time mais forte ou favorito como aconteceu na própria Copa de 1950, quando os EUA venceram a Inglaterra pelo placar de 1 x 0 numa das zebras memoráveis do futebol mundial.

Além disso, construir o Maracanã era uma exigência da FIFA para a realização do próprio torneiro no Brasil e não uma exigência que tivesse que ser atrelada à obtenção do titulo obtido pela Seleção Brasileira, até porque se ganha um título mundial jogando bem em campo e não por uma decisão burocrática, considerando, ademais, a qualidade dos adversários a ser enfrentados e, neste particular, tinha uma pedra no caminho do Brasil – a Celeste Olímpica.

A impropriedade do discurso se resumiu a esse fato – exigir que os jogadores em face da construção do Maracanã, ganhassem a Copa do Mundo, uma exigência meramente pessoal e que, se concretizada, renderia dividendos políticos a quem o proferiu.

Enfim, bastava que no discurso em questão o prefeito do Distrito Federal, em face do adversário a ser enfrentado (Uruguai) afirmasse que desejava em nome do povo brasileiro que os jogadores fizessem uma boa apresentação e, se possível, ganhassem o título da competição.

Todavia, o discurso, da forma como foi proferido, soou aos ouvidos dos jogadores brasileiros como uma exigência absoluta, que, certamente, recaiu fortemente sobre seus ombros antes mesmo que eles entrassem em campo.

3.4.10.2 – Intranquilidade na concentração (saíram do céu para o inferno)

Se o Brasil não teve a tranquilidade necessária para enfrentar o Uruguai no jogo decisivo da Copa de 1950, deve-se excluir, de antemão, os jogadores brasileiros. Isso porque, depois das espetaculares vitórias (Brasil 7 x 1 Suécia e Brasil 6 x 1 Espanha), os jogadores estavam tranquilos na concentração na Barra da Tijuca, apenas esperando o dia da decisão final (16-07-1950, domingo). O problema é que na véspera da decisão, os cartolas (CBD, comissão técnica, Flávio Costa, inclusive) decidiram tirá-los do local próprio onde deveriam permanecer e os levaram para São Januário, onde não tiveram mais a tranquilidade necessária para se concentrar  e enfrentar uma decisão de Copa do Mundo.

Na verdade, depois que chegaram a São Januário, os jogadores foram vítimas de pessoas que queriam aparecer (penetras), de políticos em plena campanha eleitoral, inclusive para a Presidência da República, enfim, com essa mudança intempestiva, os jogadores, como alguns deles afirmaram depois (Barbosa, Zizinho), saíram do céu e foram colocados no inferno.

Em reforço a tais argumentos, Teixeira Heizer (O Jogo Bruto das Copas do Mundo, p. 67-68), traz o seguinte comentário sobre o fato aqui apontado, especialmente sobre a revolta de Zizinho em ter que suportar, ele e os demais jogadores, tal situação incômoda. Diz ele:

Após a vitória contra a Espanha, a tranqüila concentração da Barra da Tijuca foi desprezada. Flávio Costa preferiu transferi-la para São Januário a fim de colocar os jogadores dentro do clima da decisão. A medida foi aplaudida pelos dirigentes da CBD e demais cartolas. O momento era propício para fazer relações públicas e obter dividendos para o futuro.

— Aquilo virou um inferno, Perdemos a Copa duas vezes. Ali e no Maracanã. (Zizinho)

[…]

A manhã de 16 de julho alcançou os jogadores maldormidos e irritados. Teriam que atender a compromissos políticos. Sucediam-se as caravanas para visitações e ninguém mais conseguia manter os penetras. Primeiro, o candidato a presidente Cristiano Machado discursou, falando sobre o programa de governo do PSD (Partido Social Democrático). Mal saiu, chegaram Ademar de Barros – também aspirante à presidência – e seus assessores. Outra basófia, agora de conceitos ultracorservadores, preceituados pelo PSP (Partido Social Progressista). Felizmente os demais candidatos não apareceram, desestimulados por terceiros. Flávio Costa era pretendente a deputado. Ademir, a vereador. Ganhariam facilmente se o Brasil fosse campeão mundial. ‘Eles tinham direito de ser candidatos, mas em São Januário o mundo não deveria ser político. Ali, as atenções tinham que se voltar para a bola.’ (Zizinho)

O competente meio do Brasil estava irritado. Dormira mal, passara  a noite pensando nos erros da defesa. Jogar com um só zagueiro de área era algo meio louco. E isso acontecia mesmo. ‘O Bauer e o Danilo eram homens de organização de jogadas. Não sabiam marcar direito. Meu amigo Danilo, extremamente clássico. Além do mais, Juvenal era lento e a falta de velocidade o prejudicava no momento da cobertura’, raciocinava Zizinho.

— A arenga continuava. Fomos tirados da mesa do almoço duas vezes. Lembro que um dos candidatos estava em meio de discurso quando falei alto para o Ademir: será que o jogo já acabou? Flávio Costa fez psiu e depois me deu bronca por minha indelicadeza. (grifo do original)

Como se vê, se a intranquilidade dos jogadores pode ser apontada como um dos fatores que contribuíram para a Seleção Brasileira perder a decisão, porém, os jogadores estão eximidos de culpa. A culpa deve recair, sim, sobre os cartolas (CBD, comissão técnica), inclusive o técnico Flávio Costa que permitiu a mudança do local da concentração da Barra da Tijuca para São Januário ou como disseram os jogadores (Barbosa, Zizinho) do céu para o inferno.

3.4.10.3 – Prepotência do Brasil: comemorar o título antes da hora

Levados pelo interesse de políticos que mudaram a concentração da Seleção Brasileira na véspera do jogo decisivo, bem como por parte da própria imprensa que já considerava os jogadores brasileiros antecipadamente campeões do mundo, estes entraram na onda, pois na véspera do jogo deixaram ser fotografados com as faixas de campeões mundiais simplesmente para atender aos interesses de uma empresa de cerveja.

Além disso, jornais cariocas publicaram, antes da decisão, fotos e manchetes dos jogadores brasileiros com as faixas de campeões. Apenas para exemplificar, lista-se abaixo o nome dos Jornais e respectivas manchetes impressas no dia anterior à decisão:

Jornal

Data

Manchete

01 A Gazeta 16/07/1950 Amanhã, Batalha Final! Venceremos o Uruguai!
02 O Mundo (1) 16/07/1950 Estes São os Campeões do Mundo

Nota: (1) O Mundo era um jornal de pouca circulação, dirigido por Geraldo Rocha.

Os jogadores do Uruguai, hospedados no Hotel Payssandu, no centro do Rio de Janeiro, tomaram conhecimento do teor dessas manchetes. O capitão da Celeste Olímpica (Obdulio Varela) mandou comprar vários exemplares desses jornais, espalhou-os em locais adequados no Hotel e ordenou: — Pisen y orinen em el Diário (pisem e urinem no jornal). Foi obedecido e todos os jogadores mijaram nos jornais.

A atitude, pois, de parte da imprensa carioca, mexeu com o brio dos jogadores uruguaios que certamente foram para a decisão com mais garra e decididos a calar o Maracanã, como de fato o fizeram.

Se esse fator (prepotência, comemorar o título antes do jogo decisivo) pode ser considerado, também, um dos elementos que contribuiu para o fracasso do Brasil, ele também não pode ser atribuído aos jogadores. A culpa aqui deveria recair de novo sobre os cartolas (CBD, comissão técnica), inclusive o técnico Flávio Costa que permitiu que os jogadores fossem fotografados antecipadamente com as faixas de campeões e também a boa parte da imprensa, especificamente aos jornais acima discriminados que interessados em obter lucro fácil, fizeram os jogadores passar por esse vexame.

3.4.10.4 – Copa Rio Branco – um aviso que ninguém prestou atenção 

Na iminência da Copa de 1950, simultaneamente à fase de preparação para o Mundial, o Brasil participaria de dois torneios com rivais sul-americanos, a  Copa Rio Branco, contra o Uruguai e a Taça Oswaldo Cruz, contra o Paraguai. Relativamente ao primeiro torneiro, o Brasil fez três partidas contra o Uruguai: a) a 1ª (06/05/1950), o Brasil perdeu por  4 x 3; b) a 2ª (14/05/1950), o Brasil venceu por 3 x 2; e c) a 3ª (18/05/1950), o Brasil venceu por 1 x 0. No Balanço geral (1 derrota e 2 vitórias), o Brasil venceu o Torneio,  mas a primeira partida merece o registro, pois, de certa forma ela teve os ingredientes que se percebidos a tempo poderiam ter ajudado o Brasil a conquistar o título de campeão mundial na Copa do Mundo e 1950. Segundo o jornalista Mário Filho (irmão de Nelson Rodrigues), a estreia do Brasil na Copa Rio Branco foi a derrota da máscara, conforme noticiou no Jornal dos Sports. Parecia um jogo fácil para a Seleção Brasileira, até porque os uruguaios não vinham bem das pernas. Basta dizer que o Uruguai perdera por 2 x 1 para o Brasil de Pelotas (RS), num amistoso realizado em 19/03/1950. A Seleção uruguaia sequer tinha um  técnico oficial, já que estava sendo dirigida por uma comissão técnica interina formada por Romeo Vásquez e Juan López, embora este último, posteriormente, se fixasse como técnico oficial para dirigir a equipe no Mundial que se avizinhava. Além disso, problemas internos no Uruguai vinham prejudicando a preparação da Celeste Olímpica para o Mundial no Brasil, pois desde o final de 1947 a meados de 1948 os jogadores haviam feito uma greve que paralisou durante meses o futebol do país cisplatino. É de se considerar, também, que a Celeste se classificou para a Copa automaticamente, sem precisar disputar as Eliminatórias, assim como a Bolívia e o Paraguai, em face das desistências de Argentina, Equador e Peru. Dado o pontapé inicial, logo aos 2 minutos o Brasil abriu o marcador. No lance, Jair (Jair Rosa Pinto) tabelou com Ademir. Jair chutou, mas Vilches rebateu fraco e Zizinho aproveitou para arrematar forte e abrir o placar. Brasil 1 x 0. Durante cerca de dez minutos o Brasil impôs seu ritmo de jogo, mas do outro lado, tinha o Gran Capitán Obdulio Varela que impulsionou sua equipe para a reação. No gol de empate uruguaio (23’), o goleiro Máspoli cobrou o tiro de meta que chegou ao ataque nos pés do atacante Schiaffino e deste para Míguez, que, sem marcação dentro da área, fulminou o goleiro Barbosa. Brasil 1 x 1 Uruguai. Logo em seguida, o mesmo Míguez arrematou de fora da área e Barbosa tomou um frango daqueles (27’). A torcida boquiaberta, assistia ao Uruguai dominar o jogo. Um minuto depois do gol de empate, Míguez bateu Eli, invadiu a área e acertou a trave, porém, a bola sobrou para Schiaffino, livre, fazer o 3º gol da Cesleste Olímpica. Brasil 1 x 3 Uruguai. De imediato, a Seleção Brasileira acordou e reagiu. Dada  a saída, Ademir investiu furiosamente contra a defesa uruguaia, passou e driblou vários marcadores e assinalou o 2º gol brasileiro (29’). Brasil 2 x 3 Uruguai. O Brasil continuou incisivo e Tesourinha mandou duas bolas na trave. Todavia, logo no início do segundo tempo, Míguez sofreu falta na linha média brasileira. Obdulio cobrou pelo alto, Barbosa saiu para interceptar, todavia, foi mais lento que Schiaffino, que de cabeça mandou para o fundo das redes da meta brasileira. Barbosa falhara no lance. Brasil 2 x 4 Uruguai. A torcida paulista presente ao Pacaembu/SP, revoltada com a exibição da Seleção Brasileira começou a vaiar e a gritar “mais um!”, incentivando o time uruguaio e se estabelecendo, doravante, uma longa tradição nessa atitude da torcida. Na sequência, Tesourinha cobrou um escanteio. O goleiro Máspoli errou na retenção da bola, que escapou de seu controle e caiu num bolo de jogadores. Ademir, esperto, apareceu na confusão e arrematou para o gol. Nisso, o zagueiro  Juan Carlos González  interceptou o chute de Ademir, mas a bola já tinha ultrapassado a linha de gol. Foi o terceiro gol do Brasil, que continuou jogando sob grande pressão do time uruguaio. O técnico Flávio Costa decidiu não mexer na equipe, simulando o Regulamento da Copa, já que no Mundial não seriam permitidas substituições. Um dos técnicos do Uruguai, Juan López, que se afirmaria como o técnico oficial a dirigir a Celeste Olímpica no Mundial de 1950, pensou diferente e fez entrar o ponta-direita Alcides Ghiggia, que acabou com o sossego de Noronha. E fez entrar também Rodríguez Andrade, no lugar de Gambeta, fortalecendo a defesa. Placar final. Brasil 3 x 4 Uruguai. Essa derrota, frente as vitórias do Brasil nos dois jogos seguintes, aliada a conquista do título da Copa Rio Branco, teve pouca repercussão, sendo sequer lembrada antes e durante os jogos do Mundial de 1950. Tal derrota, porém seria bem lembrada, depois da tragédia do Maracanã (o Maracanazo para os uruguaios) quando o Brasil perdeu o titulo da Copa de 1950 ao ser derrotado pelo Uruguai, na final, por 2 x 1. Tem-se apenas que lamentar, pois foi um aviso que ninguém (nem mesmo o técnico Flávio Costa) prestou (ou não quis) prestar atenção.

Nesse jogo, as equipes atuaram com as seguintes escalações:

Brasil (1): Barbosa, Nilton Santos, Mauro, Eli, Rui (cap), Noronha, Tesourinha, Zizinho, Ademir, Jair e Chico

Nota: (1) Dos jogadores acima, cinco deles (Barbosa, Zizinho, Ademir, Jair e Chico), estariam em campo na decisão do título da Copa de 1950.

Uruguai (2): Máspoli, Matias González, Vilches, Juan Carlos González, Obdulio Varela, Rodriguez Andrade (Gambeta, 75’), Britos (Ghiggia, 65’), Júlio Pérez, Míguez, Juan Schiaffino e Vilamide.  

Nota: (2) Dos jogadores acima, nove deles (Máspoli, Matias González, Obdulio Varela, Rodriguez Andrade, Gambeta, Júlio Pérez, Miguez, Juan Schiaffino e Ghiggia), estariam em campo na decisão do título da Copa de 1950 e seriam campeões mundiais.

Reflexão: Qual a conclusão que se pode tirar das demais partidas do torneio e sobretudo desse jogo, considerando que quem dirigiu a Seleção Brasileira na competição foi o técnico Flávio Costa? Sem dúvida pode-se concluir que o técnico e/ou demais membros da comissão técnica brasileira simplemente fizeram vistas grossas para essa partida, pois ali estava quase o time completo que ele iria enfrentar na decisão do título da Copa de 1950, no Maracanã, em 16 de julho de 1950. A propósito, no 1º jogo da Copa Rio Branco, Nilton Santos esteve em campo e Ghiggia não marcou. Será que se Nilton Santos tivesse sido escalado na decisão do Mundial de 1950 ele não poderia ter evitado a tragédia? Mas Nilton Santos ficou na reserva e toda a culpa da derrota caiu em cima do trio: Bigode, Juvenal e Barbosa. Depois de tanto tempo, só nos resta lamentar que o Brasil tenha perdido um título que poderia ter vencido, porém, perdeu por ignorância, ou seja, desconhecer o poder de fogo da Celeste Olímpica, a equipe que mandou no futebolo mundial e sul-americano até a década de 1930, excluído naturalmente o período dominado pela Squadra Azurra (Itália) da década de 1930 em diante, até porque a Seleção do Uruguai não participou dos mundiais de 1934 e 1938. Enfim, ingnorância e prepotência (não dos jogadores que colocaram as faixas de campeões por influência dos Cartolas), fizeram com que o Brasil perdesse um título que tinha tudo para vencer.

Além da reflexão acima, registre-se que, se o Brasil não levou em conta o torneio em referência para estudar melhor o time uruguaio, ver suas qualidades e/ou defeitos no sentido de tirar proveito disso e, no eventual confronto com eles, na final, armar o time brasileiro de modo a neutralizar as jogadas mais perigosas do Uruguai, ao contrário,o time cisplatino fez isso e levou para o campo a experiência tirada dos jogos da referida competição.

Neste particular, traz-se à colação, trecho parcial do livro GOLEIROS: heróis e anti-heróis da camisa 1, da lavra do jornalista Paulo Guilherme, que retrata justamente isso. Senão vejamos:

Chega o ano de 1950. O Estádio do Maracanã  recebe os últimos retoques antes de sua inauguração. O Brasil prepara o templo do futebol prevendo uma apoteose fantástica, a conquista do título mundial na primeira Copa do Mundo pós-guerra. O mundo estaria com os olhos voltados para o país, que buscava uma afirmação para seu sonho de grandeza.

A Seleção Brasileira se preparou como nunca para o Mundial. Os jogadores ficaram concentrados portrês meses em Araxá (MG). Em maio, um mês antes do inicio da Copa, o Brasil fez três jogos contra o Uruguai. O primeiro jogo, em 6 de maio de 1950, no Estádio do Pacaembu, foi um sinal de que o Uruguai não era mais o time medroso da Copa América de 1949. Com dois gols de Schiaffino, um de Julio Perez e outro de Míguez, os uruguaios bateram o Brasil por 4 x 3. Na semana seguinte, o Brasil deu o troco em São Januário: 3 x 2. Três dias depois, com gol de Ademir, o Brasil venceu por 1 x 0 e ficou com o título da Copa Rio Branco.

Para Máspoli (1), aquelas três partidas prévias à Copa do Mundo tiveram influência fundamental na conquista do título mundial. Foi nelas que os uruguaios dissecaram todos os segredos do time de Flávio Costa.

Acredito que se não tivéssemos jogado contra o Brasil pela Copa Rio Branco antes do Mundial não teríamos sido campeões do mundo. Aqueles jogos foram muito importantes para conhecermos bem os jogadores do Brasil e a maneira do time brasileiro atuar. Quando chegou a véspera da final da Copa, pudemos analisar cada jogador do Brasil de acordo com o que já tínhamos visto. (Goleiros, …Testemunhas de Defesa, … p.107).

Nota: (1) Roque Gastón Máspoli, goleiro uruguaio na Copa de 1950, em depoimento ao autor, em 14/07/2003.

O trecho transcrito acima vem reforçar o que já se afirmou anteriormente. Vale dizer, perdeu-se uma grande oportunidade de observar e levar em conta fatores que poderiam, certamente, ter contribuído para que o Brasil, na decisão do Mundial de 1950, vencesse o torneio. Só nos resta, portanto, lamentar.

3.4.10.5 –  Uruguai – Bicampeão Olímpico e 1º Campeão Mundial

Como admitir que o Brasil enfrentasse na decisão final uma Seleção que fora bicampeã dos Jogos Olímpicos de 1924 (Paris) e de 1928 (Amsterdã), vencendo a Suíça e a Argentina, por 3 x 0 e 2 x 1, respectivamente, e, considerando, ademais, que o Uruguai fora, jogando em casa, o primeiro campeão mundial de futebol na 1ª edição da Copa do Mundo (1930). Como admitir, pois, que o Brasil desconhecesse o curriculum dessa Seleção, não uma Seleção qualquer, mas a Celeste Olímpica,  ignorando-a, subestimando-a ou não dando à mesma o valor que ela deveria ter recebido.

Além de toda a história da Celeste Olímpica, que os brasileiros desconheciam ou fizeram de conta ou questão de não conhecer, outro fator deveria ter chamado a atenção da comissão técnica nos jogos efetuados pelo Uruguai na própria Copa de 1950 (Fase Final), pois em dois deles o Uruguai esteve atrás do placar e foi buscar o resultado. No jogo entre Uruguai 2 x 2 Espanha, dia 09 de julho de 1950, o Uruguai fez o 1º gol – Ghiggia (29’ do 1º), a Espanha virou o jogo para 2 x 1 – Basora ( 32’ e 39’ do 1º) e o Uruguai só conseguiu empatar aos 28’ do segundo tempo. Pergunta: quem fez o gol de empate? O Capitão do Uruguai – Obdulio Varela. No outro jogo, entre Uruguai 3 x 2 Suécia, a Suécia saiu na frente – Palmér (4’ do 1º), o Uruguai empatou – Ghiggia (39’do1º), a Suécia passou à frente de novo – Sundqvist (40’ do 1º) e o Uruguai somente conseguiu empatar e virar o jogo no final do 2º tempo – Miguez (32’ e 39’).

Por aí se vê que o Uruguai tinha uma Seleção experiente e que, mesmo atrás do marcador, não perdeu o controle e chegou a virar o jogo em duas ocasiões. Esse fato deveria ter sido levado em conta pela comissão técnica brasileira. Além disso, a Seleção Brasileira nos jogos que fez, em nenhum deles, enfrentou tais situações, pois no único jogo que empatou (Brasil 2 x 2 Suíça) o Brasil esteve na frente duas vezes e deixou a Suíça empatar no final do segundo tempo, mas em nenhum momento precisou virar um jogo. Só no jogo decisivo precisou fazer isso, faltando 11 minutos para o final da partida e, infelizmente não conseguiu, causando a tragédia já conhecida.

Ora, a Seleção Brasileira jogava no Rio de Janeiro, no Distrito Federal, onde estava toda a cultura política, econômica e social do país, era inconcebível, portanto, que esses fatores não tenham sido levados em conta pela imprensa que acompanhava o mundial ou pela CBD e, sobretudo pela Comissão Técnica, entenda-se por Flávio Costa a fim de que se tivessem tomadas as precauções pertinentes no sentido de não ser derrotado pelo Uruguai ou se fosse derrotado, como de fato ocorreu, que se tivesse pelo menos se precavido para neutralizar as qualidades do adversário ou discutido com os jogadores todos esses fatores, até porque não há registo de que houve (na preleção) discussões nesse sentido. Houve depois que os jogadores foram para São Januário discussões de interesse de penetras e políticos que, em vez de ajudar a Seleção Brasileira, na verdade, só fizeram atrapalhar e atrapalhar muito os jogadores, que, certamente, por falta de um líder, não forçaram essa discussão.

Aliás, admitir que Flávio Costa pudesse discutir essas questões com os jogadores seria muita pretensão de quem tivesse tal ideia, pois para os cariocas Flávio Costa era incontestável como treinador da Seleção Brasileira e ninguém mais do que ele entendia de futebol par ser contestado.

Neste particular, vejamos o que disse o zagueiro Juvenal em sua entrevista sobre o assunto (Dossiê 50, de Geneton Moraes Neto, p. 67):

‘Flávio costa chamou Bigode e disse: ‘cuidado com os pênaltis!’ Então, deixou Bigode com medo. Eu perguntei: ‘Bigode, por que é que você não fez uma falta no ponta-direita do Uruguai, fora da área?’ E ele;” fiquei com medo, porque de uma falta pode nascer um gol.’ Nasce mesmo! ‘ Se eu fizesse a falta, poderia nascer um gol. Seu Flávio disse para a gente não dar pancada.

‘A gente nem precisava tirar algum jogador do Uruguai. Não! Bastava o treinador dizer: ‘Quero que ganhem de qualquer maneira!’ Naquela época, era Flávio costa no céu e Deus na Terra. (grifou-se)

Ora, como discutir com um técnico que se considerava o supra sumo do conhecimento do futebol ou como se diz na linguagem popular “o rei da cocada preta”. Era difícil para os jogadores discutir tais questões. Não se tinha essa consciência na época. Tinham eles, os jogadores, simplesmente que cumprir as decisões do técnico.

Assim, a culpa aqui deve recair sobre todos: CBD, comissão técnica, especialmente o treinador Flávio Costa e também em menor proporção aos próprios jogadores, que pelas razões acima alinhadas e por outras, se deixaram levar pelo já ganhou e não se insurgiram de forma veemente contra aquele estado de coisas que, certamente, influiu para a perda do título.

3.4.10.6 – O grande capitão (Obdúlio Varela) comandou a vitória uruguaia

O que se afirmou no tópico precedente vale para explicar a vitória por 2 x 1 do Uruguai sobre o Brasil na decisão em 16 de julho de 1950, na medida em que a Seleção do Uruguai se comportou de forma humilde, procurou conhecer o adversário (Brasil) e contou também em campo com a liderança de Obdulio Varela (o capitão da Seleção uruguaia) que após ver o Brasil fazer o 1º gol através de Friaça, elevou a autoestima de seus jogadores, gritou em campo, inclusive com o árbitro do jogo, chamou a atenção do posicionamento da defesa a fim de que não levassem mais gols, participou e orientou seus companheiros a fazerem as jogadas necessárias para que o Uruguai, depois dos 20 minutos da etapa complementar, empatasse o jogo através de Schiaffino e, logo em seguida, em jogada semelhante, virasse a partida, com o gol de Ghiggia aos 34 min. para desespero, infelizmente, dos jogadores, das 200.000 pessoas que estavam no Maracanã e dos cerca de 52.000.000 de pessoas que formavam a população brasileira à época.

Em tópico anterior fez-se alusão ao fato de que o Brasil, antes da Copa do Mundo, ao participar da Copa Rio Branco enfrentou a Seleção do Uruguai em três ocasiões, vencendo duas e perdendo uma (a primeira parida). O Brasil venceu as duas partidas em São Januário, por 3 x 2 e 1 x 0. Na partida realizada no Pacaembu /SP, o Brasil perdeu por 4 x 3. Detalhe: dos 7 gols feitos pelo Brasil nesses três jogos, 5 foram assinalado por Ademir. Pois bem, desde essa competição, conforme assinalou o jornalista Max Gehringer, os uruguaios sabiam que se quisessem ganhar o título mundial teriam que anular o atacante brasileiro. E foi, justamente, o que fizeram sob a liderança do capitão Obdulio Varela, na decisão fatídica em 16 de julho de 1950, anulando ou neutralizando as jogadas do centroavante brasileiro. Ademir foi o artilheiro da competição, porém, não marcou na decisão.

A propósito, duas passagens do livro de Roberto Muylaert sobre o goleiro brasileiro Moacyr Barbosa e o gol de Ghiggia que silenciou o Brasil, merecem ser transcritas pois mostram justamente a atitude do Gran Capitán da Ceste Olímpica, que certamente contribuíram para elevar o moral da seleção uruguaia  e fazer com que a equipe conquistasse o título de campeã Mundial em pleno Maracanã. Ei-las, abaixo:

A primeira transcrição diz respeito ao início da Copa de 1950, quando inadvertidamente a FIFA e CBD permitiram que o Uruguai ficasse sozinho no Grupo-IV com a fraca Bolívia. Reparem que mesmo no início da competição, Obdulio já chamava a atenção para o jogo contra o Brasil.

Já no começo do campeonato mundial, no primeiro e único jogo do Uruguai, contra a Bolívia, em Belo Horizonte, Obdulio tinha definido o estado de espírito com que o Uruguai jogaria: “Seremos campeões, ou não voltaremos”. E também a tática do jogo contra o Brasil: “Não deixar que armem as jogadas, nem entrar naquele ritmo rápido com que jogam, senão ninguém pode com eles”. (grifou-se)

Quando um dirigente uruguaio foi ao vestiário antes do jogo final para dizer, com nenhuma sutileza, que  a ideia era não perder de muito, Obdulio conduziu-o até a saída e ao voltar dirigiu um juramento coletivo pela vitória. Em seguida mandou o time entrar em campo. (Barbosa,….Obdúlio, o Homem, . p.126)

A segunda refere-se à atitude de Obdulio Varela já no vestiário do Maracanã, antes de adentrar ao campo de jogo e/ou durante a decisão do Mundial:

Ao pisar no gramado do Maracanã, os uruguaios sentiram nas vibrações que vinham das arquibancadas o que seria jogar contra aquela torcida estrepitosa e ensandecida. Mas todos se lembraram de uma séria recomendação feita pelo capitão Obdulio Varela durante as orações no vestiário: “Saiam tranquilos, não olhem para as arquibancadas, a partida se joga embaixo”, uma sábia maneira de evitar o possível pânico dos seus meninos ao vislumbrar, debaixo de um foguetório ensurdecedor, uma torcida nunca vista, a maior jamais reunida no mundo, toda ela contrária, exceto pelos 280 abnegados torcedores uruguaios ali presentes. (grifou-se)

Apesar da valentia com que a equipe do Uruguai enfrentou a entrada no estádio, na hora do hino nacional de seu país Julio Pérez teve uma incontinência urinária, notada por seus companheiros mais próximos: “Eu me mijei, a urina escorria pelas minhas pernas, molhando o calção. Não me envergonho disso”. (grifou-se)

Obdulio não chegou a perceber o detalhe. Em vez de emocionado, estava furioso, naquela hora solene, com a péssima interpretação do hino uruguaio pela banda dos Fuziliros navais. (Barbosa – Proibidos de dar pontapé, p. 38).

A propósito, a determinação em campo do capitão uruguaio no sentido de levar a Celeste Olímpica ao título foi tanta que o referido jogador foi eleito o melhor do mundial.

Para se ter ideia da raça, liderança e determinação desse jogador, vejamos a opinião de Antonio Maria  (locutor, compositor e jornalista), que acompanhou de perto o Mundial de 1950. Afirmou ele:

“O puto do Obdúlio não amarra suas chuteiras com cadarços; com as veias”. (grifou-se)

Essa frase resume tudo o que esse atleta representou para que a Celeste Olímpica fosse campeã. Em desvantagem no placar, o capitão uruguaio fez de tudo para virar o jogo, calar o Maracanã e se sagrar bicampeão mundial de futebol. Na verdade, considerando os dois títulos olímpicos vencidos em 1924 e 1928, o Uruguai se sagraria em 1950, aqui no Brasil, tetracampeão mundial de futebol.

3.4.10.7  O provável tapa de Obdúlio Varela em Bigode

Outra questão que teria contribuído para que a Seleção Brasileira perdesse o título residiria no fato de que o capitão do Uruguai, Obdulio Varela teria dado um tapa no rosto do lateral-esquerdo (na verdade, no médio esquerdo) Bigode, que, acovardado, perdera sua característica marcante (virilidade expressa, sobretudo nas tesouras ou carrinhos que empregava para impedir a ultrapassagem dos atacantes adversários), de modo que, depois disso, os atacantes uruguaios, especialmente o ponta-direita Ghiggia, não encontraria dificuldades para fazer as ultrapassagens pelo flanco direito, ora para cruzar a bola para os atacantes que vinham em velocidade, como no caso do 1º gol do Uruguai, depois de Ghiggia driblar Bigode e municiar Schiaffino que assinalou o gol de empate (20 min. do 2º t), ora para ele próprio, Ghiggia partir em direção ao gol.

No segundo gol uruguaio, em jogada semelhante, Ghiggia dribla Bigode novamente e, em corrida diagonal, em direção ao gol brasileiro, em vez de dar o passe voltando, segue em frente e chuta forte, rasteiro, no canto esquerdo, entre o goleiro Barbosa e a trave (poste vertical). Eram 34 min. do segundo tempo: Brasil 1 x 2 Uruguai. Nos 11 minutos restantes o silêncio imperou no Maracanã e o desespero se abateu sobre os jogadores. Várias tentativas de gol foram inócuas. Para tristeza dos jogadores e da torcida brasileira o Uruguai era bicampeão mundial de futebol. Uma tragédia que jamais será esquecida.

Se, de fato, Obdulio Varela deu um tapa em Bigode, não se sabe ao certo, pois as versões são contraditórias. Todavia, entende-se razoáveis as explicações e citações feitas por Teixeira Heizer em O Jogo Bruto das Copas do Mundo (p. 90), nos seguintes termos:

Mentiras ganharam foro de verdade, boatos soaram  como sentença. Se todos que dizem ter ido ao estádio estiveram de fato lá, naquela tarde de 16 de julho, a sua capacidade teria que ser dez vezes maior. Já foram recolhidas mil histórias que se contrapõem à verdade. Pouca gente se lembra sequer da ordem dos gols, ou a meta em que Ghiggia marcou o gol da vitória. Há quem fale em agressões de Obdúlio em Bigode. Murros ou tapas teriam sido vistos das arquibancadas.

— Tudo mentira. Houve um momento em que Bigode deu um carrinho em Obdúlio. O uruguaio se ergueu e deu dois tapinhas no rosto de Bigode. ‘Calma, muchacho’ – (calma, rapaz), disse Obdúlio, após o gesto comum entre jogadores. Eu estava a um passo da jogada. Vi e ouvi tudo. (Zizinho)

— Obdúlio nos disse que não bateu no rosto de Bigode. Afirmou ter sido um gesto carinhoso. Não houve agressão. Posso asseverar (Schiaffino)

— Se o Obdúlio agredisse o Bigode, ele reagiria. Bigode não era um jogador de levar desaforo para casa. (Flávio Costa)

— Ninguém me bateu. Se tivessem feiro isso eu reagiria. Ainda mais contra o Obdúlio, que vinha sendo um dos donos do jogo. SE nós nos agredíssemos, seríamos expulsos os dois. O Brasil levaria grande vantagem. (Bigode)

A imprensa pintou um quadro que não se coaduna com a verdade, segundo o qual o Uruguai era um time violento e que Obdúlio Varela seria um carniceiro qualquer. As súmulas e atas negam essa característica que se tenta imputar aos platinos. Na verdade, o Brasil cometeu entre 20 e 25 faltas e os uruguaios entre 10 e 15.

As explicações acima podem até ser consideradas plausíveis, entretanto, ficou um cheiro no ar de que alguma coisa acontecera para que Bigode não fizesse suas jogadas características (jogar duro com virilidade, aplicasse tesouras ou carrinhos) e pudesse, assim, ter impedido Ghiggia de municiar Schiaffino no 1º gol e impedir que o próprio Ghiggia assinalasse o 2º gol uruguaio. Enfim, se não foi o eventual tapa de Obdúlio Varela em  Bigode que concorreu para que o defensor brasileiro não fizesse suas jogadas características, este certamente se sentiu menos propenso, constrangido ou até mesmo com medo de fazer tais jogadas quando os políticos e administradores da época em discursos proferidos em solenidades durante a competição pediram aos jogadores que mostrassem que éramos um povo civilizado, inclusive dentro do campo.

A recomendação de que os jogadores, sobretudo os defensores deveriam se comportar com disciplina constou inclusive da preleção de Flávio Costa, antes da partida final, conforme salienta o autor Roberto Muylaert no Livro sobre Barbosa e o gol de Ghiggia que silenciou o Brasil naquela decisão fatídica: Diz o aludido autor:

Antes de entrar em campo, a preleção final do técnico Flávio Costa: os jogadores formam um cículo para ouvir as instruções sobre como deveriam jogar. A conversa gira em torno da disciplina exigida de quem é anfitrião de um torneio tão importante, lembrando que nenhum jogador tinha sido expulso de campo até então, e que era necessário preservar essa situação, que orgulhava todo o país. Recomendação que deve ter influenciado a forrma de atuar de Bigode e Juvenal: ambos entraram em campo bem mansos, poibidos de dar pontapé. (Barbosa,…, Proibidos de dar pontapé,… p. 35). (grifou-se)

Em reforço ao acima aduzido,  tais recomendações foram seguidas pela comissão técnica, reitere-se em orientações expressas dadas aos jogadores por Flávio Costa, conforme teor de parte da entrevista concedida por Juvenal ao jornalista Geneton Moraes Neto (Dossiê 50, p. 66-67):

Houve um erro técnico do nosso treinador, que disse: ‘Disciplina em primeiro lugar!’ Ora, uma Seleção chega à final de uma Copa do Mundo. O comando geral – no caso, o técnico – deve dizer: ‘Quero ganhar de qualquer maneira! Não quero saber! Ganem de qualquer maneira, porque os jornais europeus vão abrir: Brasil campeão do mundo! Não quero saber como é que foi…’ Mas o que é que nosso treinador disse? ‘disciplina! Cuidado com as pancadas!’ Então, o Brasil afundou. O próprio Bigode, um lateral duro, ficou com medo…

‘Flávio costa chamou Bigode e disse: ‘cuidado com os pênaltis!’ Então, deixou Bigode com medo. Eu perguntei: ‘Bigode, por que é que você não fez uma falta no ponta-direita do Uruguai, fora da área?’ E ele;” fiquei com medo, porque de uma falta pode nascer um gol.’ Nasce mesmo! ‘ Se eu fizesse a falta, poderia nascer um gol. Seu Flávio disse para a gente não dar pancada.

‘A gente nem precisava tirar algum jogador do Uruguai. Não! Bastava o treinador dizer: ‘Quero que ganhem de qualquer maneira!’ Naquela época, era Flávio Costa no céu e Deus na Terra. (grifou-se)

‘Não poderíamos fazer as coisas por nossa conta dentro do campo, porque, se houvesse um erro, ele iria dizer que não mandou fazer aquilo. Mas, se ele dissesse que queria ganhar a Copa de qualquer maneira, fim de papo: ganhava. O jogo parava, eu ia sair de beque-central, fazia confusão e acabava o assunto. Mas deixei de dar entradas duras, com medo de Flávio Costa reclamar. Durante o jogo, ele não dizia nada, não fazia gesto nenhum, porque ficava no túnel. Antes, numa preleção no vestiário, é que ele disse que queria disciplina dos jogadores dentro do campo.

É o bastante, portanto, para se chegar à seguinte conclusão: nossa civilidade ou educação, se é que podemos dizer assim, nos tirou do campo da vitória, da glória máxima e nos jogou no campo da humilhação.

3.4.10.8 A Culpa pela derrota de 1950 atribuída aos jogadores negros

Depois do resultado e que a ficha caiu para todos, começou a caçada por culpados. E ela recaiu sobre os três jogadores negros da defesa brasileira; na ordem: Barbosa, por não ter defendido o 2º gol do Uruguai assinalado por Ghiggia; Bigode, que se deixou driblar duas vezes por Ghiggia e, em terceiro lugar o zagueiro Juvenal, por falhar na cobertura de Bigode.

Assim, a culpa pela derrota na Copa de 1950 recaiu sobre os três jogadores (negros) da defesa brasileira, pela ordem de gravidade da culpa, em: Barbosa, Bigode e Juvenal. Ao primeiro, por ter levado o gol; o segundo, por não ter dado o combate correto em Ghiggia, desarmando-o na hora certa; e, o terceiro por não ter feito a cobertura de Bigode na jogada.

Na medida em que se atribui a culpa aos jogadores (negros) acima discriminados, por que não culpar também os jogadores (brancos e/ou negros) do ataque por não terem empatado o jogo (o simples empate sagrava o Brasil campeão do mundo) ou que por terem gastado toda a munição nos dois jogos anteriores (Brasil 7 x 1 Suécia e Brasil 6 x 1 Espanha), faltou munição na Hora “H” quando mais se precisou dela ? Eis a questão que não quer calar!

Ora, se o Brasil perdeu, perderam todos e não apenas um ou alguns jogadores, pois conforme se afirmou anteriormente, os uruguaios tinham a intenção de anular o ataque brasileiro, sobretudo as investidas de Ademir e o fizeram com eficiência. Repita-se: Ademir foi o artilheiro da Copa de 1950, porém, não fez gols quando mais se precisou deles – na decisão.

Não é porque os jogadores (todos eles) já faleceram que agora podemos falar sem dar-lhes o direito de resposta, até porque isso seria impossível, entretanto, essas conclusões valem para qualquer situação ou time, seleção, etc., no tempo e no espaço, que estejam disputando um campeonato (torneio, Copa, etc.).

Elas valem para todas as ocasiões. Basta dizer que, em várias situações times ou seleções que nos jogos decisivos começaram com o placar adverso, reverteram-no e foram campeões. Exemplos: a Alemanha campeã de 1954, na decisão começou perdendo por 2 x 0 para a Hungria e virou o jogo para 3 x 2. No jogo Brasil 3 x 1 Uruguai, na Copa de 1970, o Brasil saiu perdendo de 1 x 0 e virou o jogo. Na própria Copa de 1930, o Uruguai começou perdendo por 2 x 1 no primeiro tempo para a Argentina e virou o jogo na segunda etapa para 4 x 2 e a Celeste Olímpica foi a 1ª campeã  mundial de futebol. Enfim, os exemplos são muitos.

A fim de apurar, averiguar as possíveis razões pelas quais a Seleção Brasileira perdeu aquela decisão, o jornalista Geneton Moraes Neto autor do Livro Dossiê 50: os onze jogadores revelam os segredos da maior tragédia do futebol brasileiro, publicado em 2000, pela Editora Objetiva, procurou tirar de cada jogador as razões (motivos, explicações, justificativas) possíveis e impossíveis para que o Brasil não tivesse ganhado aquele jogo.

Jornalista Geneton Moraes Neto

Neste particular, da entrevista concedida por Ademir (Dossiê 50, de Geneton Moraes Neto, p. 128), traz-se à colação, o seguinte trecho:

Culpam sempre dois jogadores – infelizmente. Os dois ficaram eternamente com a culpa. Se um jogador deve ficar com a culpa, verdadeiro não ficou. É a primeira vez que estou falando assim. Se tem de culpar um jogador, o jogador que deveria ser culpado é Juvenal. Quando Ghiggia driblou o Bigode, Juvenal tinha que dar combate ao próprio Ghiggia, enquanto Danilo fazia a cobertura para marcar Miguez, o center-foward. Aconteceu justamente o contrário. Juvenal não foi. Ghiggia foi chegando, foi chegando, foi chegando. Quando viu que faltavam dois metros, chutou entre a trave e Barbosa. Quando o Uruguai fez o primeiro gol, Ghiggia, naquela mesma posição, deu a bola pra trás. Barbosa pensou, então, que, no lance do segundo gol, Ghiggia iria repetira jogada. Como Barbosa quis pegar o passe, Ghiggia jogou a bola onde Barbosa não estava. Se houve culpado, foi o Juvenal – que faltou na cobertura. Naquela época havia a marcação de homem. O sujeito dizia assim: ‘Joguei bem porque marquei fulano e ele não fez gol!’ O que é que adianta se ele marcou esse um e o outro fez cinco gols? Era o caso do Juvenal explicar…Bigode sofre até hoje.

O próprio Juvenal em sua entrevista concedida a Geneton Moraes Neto (Dossiê 50, p. 66), afirmou o seguinte:

Consumada a tragédia, Juvenal passou quatorze dias em casa. Não queria ter notícias do mundo exterior.

De quem foi a culpa, afinal? Apontado por outros jogadores como culpado, porque não deu a cobertura a Bigode no pique de Ghiggia rumo ao gol, Juvenal se defende:

— Não faltou cobertura. Ghiggia estava sem ãngulo para fazer o gol. Se eu saísse correndo logo, daria a Ghiggia a chance de atrasara bola para o centroavante que, descoberto, faria o gol de qualquer maneira. Eu estava colado com Miguez, o centroavante. Pensei:’ Ghiggia vai atrasar, porque não tem ângulo para chutar.’ Mas ele chutou.

Juvenal faz outro reparo à escalação da Seleção Brasileira.

— Nilton Santos não poderia ter ficado na reserva, porque ele foi a enciclopédia do futebol brasileiro. Bigode é que jogou.

[…]

Vejamos agora o que disse Barbosa em sua entrevista ao citado jornalista (Dossiê 50, p. 49-50):

Disserem que o Obdúlio tinha dado um tapa em Bigode. É conversa, é mentira, é invenção. Uma vez me disseram que quem inventou foi Mário Filho (jornalista esportivo, irmão de Nélson Rodrigues). Aliás, contestei o que Mário Filho escreveu: que trememos porque éramos pretos [Mário Filho apenas contesta que a culpa foi jogada nos jogadores negros; não nos acusa.]

[…]

Talvez tenha existido racismo no fato de culparem a mim e a Bigode. Mas não acredito que tenha existido: se existisse racismo, eu não teria voltado à Seleção Brasileira, como titular, como voltei, no Sul-americano de 53. Só não fui à Copa do Mundo de 1954 porque estava com a perna quebrada.

É como João Saldanha dizia: se não existe crioulo na Seleção, não vai. Se não existe crioulo no samba, não existe samba.

E, sobre os gols sofridos, Barbosa comenta (Dossiê 50, p. 52):

Talvez tenha havido falha no nosso time, sim, mas falha de conjunto – não individual. Não se pode dizer que o culpado foi A, B ou C. Éramos 11 lá dentro de campo. Não éramos nem Barbosa, nem Bigode nem Juvenal. O excesso de otimismo talvez tenha contribuído, sim, para que houvesse falhas de conjunto. […]

O último trecho da entrevista concedida por Barbosa resume tudo – a de que se houve culpa, esta deve ser atribuída a todos e não culpar alguns jogadores como se fez, até porque se houve falha num esporte coletivo como o futebol, ela deve ser atribuída ao conjunto de jogadores (time, equipe, seleção, etc.) e não simplesmente a um, dois ou três jogadores, como se fez no caso da derrota do Brasil para o Uruguai.

Vale a pena, também, trazer à colação, trecho parcial do livro de Paulo Guilherme, no qual o referido jornalista comenta a situação de Barbosa ao tomar o 2º gol do Uruguai  e seu calvário que perdurou até sua morte, acusado por um crime, segundo palavras do prório goleiro, que nunca cometeu:

[…] Não exite lógica no futebol.Barbosa aprendeu a lição. “O Ghiggia pensou errado e deu certo. E eu pensei certo e deu errado”.

Barbosa não pôde recorrer ao videotape. Ao contrário, a imagem que marcou sua vida acabou servindo de prova de um crime a ele atribuído. Um país que desde os tempos de Tiradentes habitou-se (sic) (1) a se eximir todas as culpas elegendo um bode expiatório, como seu um único cidadão fosse capaz de conduzir uma Inconfidência ou ganhar uma Copa do Mundo, não perdoou o goleiro da Seleção. Barbosa foi transformado no mártir às avessas, no Judas Iscariotes do futebol brasileiro, no traidor da pátria, sinônimo de mau agouro. Foi julgado à revelia e considerado culpado, culpado, mil vezes culpado. “Aquela foi a única maneira que encontrei de entrar para a história sem nunca mais sair dela. Vou morrer e os caras vão ficar me cobrando isso. E ainda dizem que brasileiro tem memória curta”, declarou Barbosa (2). (grifou-se)

Notas: (1) Entende-se que o correto seria dizer: … habituou-se a se eximir de todas as culpas elegendo um bode expiatório,… . (2) Depoimento de Barbosa, ao Programa Bola da Vez, da ESPN Brasil, em 08/04/2000.

A propósito, o jornalista e escritor Mário Filho (irmão do jornalista Nelson Rodrigues), quando escreveu e publicou pela 1ª vez, em 1947, o Livro O Negro no Futebol Brasileiro, não tinha ainda ocorrido, naturalmente, a Tragédia do Maracanã. Todavia, por ocasião de sua 2ª edição, em 1964, Mário Filho em nota à citada edição, ao falar sobre a decisão fatídica de 16 de julho de 1950 e, especialmente sobre o recrudescimento do racismo e o fato de terem culpado pela derrota os três jogadores em referência, assim se pronunciou:

Basta lembrar que a derrota do Brasil em 50, no campeonato mundial de futebol, provocou um recrudescimento do racismo. Culpou-se o preto pelo desastre de 16 de julho. Assim, aparentemente, o Negro no Futebol Brasileiro, por uma análise superficial, teria aceito uma visão otimista a respeito de uma integração racial que não se realizaria ainda no futebol, sem dúvida o campo mais vasto que se abriria para a ascensão social do preto.

A prova estaria naqueles bodes expiatórios, escolhidos a dedo, e por coincidência todos os pretos: Barbosa, Juvenal e Bigode. Os brancos do escrete brasileiro não foram acusados de nada.

É verdade que o brasileiro se chamou, macerando-se naquele momento, de sub-raça. Éramos uma raça de mestiços, uma sub-raça incapaz de agüentar o rojão. Mas o brasileiro, inconscientemente, idealizou um ídolo à imagem e semelhança de Obdúlio Varela, El Gran Capitan, por sinal um mulato uruguaio. Se o Brasil se tornasse campeão do mundo, como todos esperávamos em 50, o ídolo nacional seria, naturalmente como sempre fora, um mulato ou um preto.

[…]

Quando o brasileiro acusou Barbosa, Juvenal e Bigode, acusou-se a si mesmo. O futebol não seria paixão do povo se o povo não se identificasse com um time, o seu time, com uma bandeira e uma camisa. Quem torce em futebol está ligado, irremediavelmente, ao seu time, para o bem ou para o mal, para a felicidade ou para a desgraça. (O Negro no Futebol Brasileiro, 2 ed. p.16-17).

Aliás, a culpa poderia ser atribuída a apenas um jogador se esse jogador tivesse sido, como se diz no Direito, praticado ações, dentro do campo, caracterizadas como negligência, imprudência ou imperícia. Todavia, no presente caso, não ocorreram tais circunstâncias, até porque temos que considerar a qualidade técnica do ataque uruguaio (Ghiggia, Schiaffino, Miguez, etc.), de modo que se não houve uma falha individual que poderia ser imputada a um só jogador de defesa (exs: um pênalti infantil cometido dentro da área ou um frango do goleiro numa bola defensável), a culpa pela derrota, reitere-se, deve ficar, se for o caso, sobre os ombros dos 11 jogadores e também nas costas do técnico Flávio Costa, que, como vimos, não tomou as cautelas necessárias e/ou suficientes para que o Brasil não perdesse o jogo decisivo.

(Seleção Brasileira Vice-Campeã da Copa de 1950)

Em pé: Barbosa, Augusto e Juvenal; Bauer, Danilo e Bigode.

Agachados: Friaça, Zizinho, Ademir, Jair e Chico. À direita, o massagista Mário Américo.

Os 11 titulares da Seleção de 1950 três décadas depois, quando da entrevista ao jornalista Geneton Moraes Neto.

Com essas fotos, prestamos nossa pequena e sincera homenagem aos grandes craques que já se foram. Apesar de não terem sido campeões mundiais, horaram a camisa da Seleção Brasileira. Só não foram campeões mundiais por uma dessas explicações que só os Deuses do Futebol podem dar ou como diria Nelson Rodrigues, justificável somente pelo Sobrenatural de Almeida, o ente fictício e intangível que explicaria a tragédia no Maracanã na fatídica derrota do Brasil para o Uruguai na Copa de 1950.

3.4.11  DESTAQUES DA SELEÇÃO BRASILEIRA

O destaque aqui será dado ao técnico Flávio Costa e aos jogadores que direta ou indiretamente ficaram marcados pela derrota do Brasil para o Uruguai naquela decisão fatídica.

3.4.11.1 Flávio Costa (Flávio Rodrigues Costa).

Cargo: técnico (treinador) da Seleção Brasileira. Nasceu no Rio de Janeiro, em 14 de setembro de 1906, portanto, em 1950, tinha 43 anos. História: Entrou para a história como um dos culpados (os outros foram os jogadores Barbosa, Bigode e Juvenal) pela derrota do Brasil na Copa de 1950. Foi acusado de ter mudado a concentração do Brasil da Barra da Tijuca para São Januário, fazendo com que os jogadores saíssem do céu o fossem para o inferno (falta de tranquilidade) bem como por ter pedido (na preleção antes da decisão) que os jogadores de defesa, especialmente Bigode para que não fizessem falta perto da área, deixando o defensor brasileiro com medo, não marcando como deveria o jogador uruguaio  Ghiggia no lance que deu a vitória ao Uruguai na decisão fatídica em 16 de julho de 1950. Como jogador (médio-esquerdo) atuou pelo Flamengo/RJ, de 1925 a 1934. Em 1935, com 29 anos iniciou sua careira de treinador no próprio Flamengo. No fim de 1936 saiu para ir treinar a Portuguesa carioca e mais tarde, dirigiu também o Santos/SP. Em 1939, voltou ao Flamengo/RJ, onde conquistou o Campeonato Carioca de 1939 e o tricampeonato carioca de 1942, 1943 e 1944. Em 1945 transferiu-se para o Vasco e lá criou a “diagonal”, sistema de jogo variante do sistema tático W-M inglês. Como técnico da Seleção Brasileira, de 1944 a 1952, dirigiu o escrete nacional em 56 jogos, conquistando 36 vitórias. O melhor título de Flávio Costa foi o do Campeonato Sul-Americano de 1949, disputado no Rio de Janeiro. Depois do fracasso de 1950, continuou como treinador, entretanto, sem o prestígio unânime de antes, tendo doravante conquistado apenas um título relevante – o de campeão carioca de 1963, pelo Flamengo. Em 1976, aos 70 anos, Flávio Costa se aposentou do futebol, como supervisor do Volta Redonda. Faleceu aos 93 anos, no Rio de Janeiro, em 22 de dezembro de 1999.

3.4.11.2 Barbosa (Moacir Barbosa). Posição: goleiro. Times: Ypiranga/SP (1941 a 1944), Vasco (1945 a 1955), Santa Cruz (1955/56), Bonsucesso/RJ (1957), Vasco (1958/62) e Campo Grande/RJ (1962).

 

 

Barbosa (Goleiro da Seleção Brasileira de 1950)

Títulos: Campeão Carioca (1945, 1947, 1949/50, 1952 e 1958) e do Torneio dos campeões Sul-Americanos (1948) pelo Vasco; sul-americano (1949) pela Seleção Brasileira. História: Entrou para a história como um dos culpados (os outros foram Bigode e Juvenal) pela derrota do Brasil na Copa de 1950. Foi acusado de ter falhado no gol de Ghiggia que deu a vitória ao Uruguai naquela decisão fatídica em 16 de julho de 1950. Apesar disso, foi um grande goleiro a ponto de ter sido escolhido pelos torcedores do Vasco como o melhor do clube de todos os tempos. Em 1948, na final da Taça dos Campeões (torneio semelhante à Copa Libertadores da América), em jogo contra o River Plate, defendeu um pênalti do craque argentino Labruna e garantiu o troféu ao Vasco. Em 22 jogos pela Seleção Brasileira atuou 22 vezes e sofreu 31 gols (média de 0,71 gols por partida). Barbosa faleceu em 07 de abril de 2000, na Santa Casa de Misericórdia em São Paulo, aos 79 anos.

3.4.11.3 Bigode (João Ferreira).

Posição: lateral-esquerdo (1). Times: Atlético Mineiro (1940 a 1943), Fluminense (1943 a 1949), Flamengo (1950 a 1952) e Fluminense (1952 a 1956). Títulos: Campeão mineiro pelo Atlético (1941 e 1942), carioca pelo Fluminense (1946); sul-americano (1949) pela Seleção Brasileira. História: Entrou para a história como um dos culpados (os outros foram Barbosa e Juvenal) pela derrota do Brasil na Copa de 1950. Foi acusado de ter falhado na marcação de Ghiggia, ponta-direita da Seleção do  Uruguai que fez o 2º gol na decisão fatídica em 16 de julho de 1950. Jogador viril, bom marcador, porém ficou estigmatizado pelo suposto tapa que teria recebido no rosto do capitão uruguaio Obdulio Varela. Embora essa versão tenha sido desmentida pelo próprio Bigode e por outros jogadores (Zizinho, Juvenal, Barbosa), e pelo técnico Flávio Costa, Bigode ficou marcado por esse evento. Fez 11 jogos pela Seleção Brasileira. Bigode faleceu em 31 de julho de 2003, em Belo Horizonte, aos 81 anos.

Nota: (1) A Seleção Brasileira jogou no sistema 2-3-5 (pirâmide), variando para o W-M e a diagonal. Considerando o sistema tático original, Bigode, na verdade, jogava na linha média (meio de campo) da Seleção, era o médio-esquerdo e não o lateral-esquerdo.

3.4.11.4 Juvenal (Juvenal Amarijo). Posição: zagueiro-central. Times: seu primeiro clube foi o Brasil de Pelotas/RS. Passou também pelo Farroupilha e pelo Cruzeiro/RS, antes de seguir para o Flamengo em 1948.

Juvenal

(zagueiro-central)

História: Entrou para a história como um dos culpados (os outros foram Barbosa e Bigode) pela derrota do Brasil na Copa de 1950. Foi acusado de ter falhado na marcação (cobertura) de Bigode no gol de Ghiggia, ponta-direita da Seleção do Uruguai que fez o 2º gol na decisão fatídica em 16 de julho de 1950. Depois de Copa, Juvenal transferiu-se para o Palmeiras, onde foi campeão paulista (1950). Jogou também pelo Bahia, onde foi campeão por duas temporadas (1954 e 1956) e pendurou as chuteiras no Ypiranga de Salvador, em 1958. Fixou-se na capital baiana exercendo a profissão de despachante de cartório e bilheteiro do estádio da Fonte Nova. Só atuou na Seleção Brasileira no ano da Copa (1950) e fez 10 partidas. Depois da fatídica derrota do Brasil para o Uruguai não mais foi convocado. Juvenal faleceu em 30 de outubro de 2009, aos 85 anos.

3.4.11.5 Ademir (Ademir Marques de Menezes). Posição: atacante (centroavante). Times: Sport/PE (1939 a 1942), Vasco (1942 a 1945 e 1948 a 1956) e Fluminense (1946 a 1948).

Ademir

(Artilheiro da Copa de 1950, com 09 gols)

Títulos: Campeão carioca pelo Vasco (1945, 1949/50, 1952 e 1956) e pelo Fluminense (1946); e do torneio de Clubes Sul-Americanos (1948) pelo Vasco. História. Começou a carreira no Sport Club do Recife. Foi bicampeão juvenil e tricampeão profissional (1939, 1940 e 1941). Sua família queria que o mesmo se formasse em Medicina, porém, em 1942, Ademir abandonou a faculdade e se transferiu para o Vasco/RJ, onde permaneceu por 14 anos, com uma rápida passagem pelo Fluminense (1946/48). Aliás, sua ida para o clube das Laranjeiras deu-se em função de o técnico Gentil Cardoso ter afirmado para os dirigentes do Fluminense: “Dêem-me Ademir e lhes darei o título”. A diretoria do tricolor carioca acreditou, contratou Ademir e o Fluminense foi o Campeão Carioca de 1946. No Rio de Janeiro, formou-se em Odontologia, todavia, nunca exerceu a profissão. Pelo período que serviu à Seleção Brasileira (1946 a 1953), Ademir atuou em 39 jogos e assinalou 32 gols. Após encerrar a carreira atuou como comentarista e jornalista esportivo. Ademir foi o artilheiro da Copa de 1950 com 09 gols, entretanto não marcou na final quando o Brasil foi derrotado pelo Uruguai por 2 x 1. Ademir nasceu em Recife/PE, em 08/11/1922 e faleceu em 11 de maio de 1996, aos 74 anos.

3.4.12  DOSSIÊ 50: GENETON MORAES NETO

Geneton Moraes Neto decidiu escrever o Livro Dossiê 50: os onze jogadores revelam os segredos da maior tragédia do futebol brasileiro, publicado em 2000, pela Editora Objetiva. No livro em apreço, o jornalista procurou extrair de cada jogador as razões (motivos, explicações, justificativas) possíveis e impossíveis para que o Brasil não tivesse obtido a vitória sobre o Uruguai naquela fatídica decisão.

Um dos motivos pelos quais Geneton Moraes Neto decidiu escrevê-lo foi o fato de o goleiro Barbosa, convidado a dar uma entrevista para o Jornal da Globo sobre a decisão da Copa de 1950, dentro do Maracanã, Barbosa se recusou a fazê-lo dentro do campo, próximo à trave em que tomou os gols ou próximo ao local do campo onde Ghiggia fez as jogadas que resultaram nos gols tomados por ele. Disse Barbosa; — “Não, lá dentro não”.

Eis os motivos pelos quais Geneton Moraes Neto decidiu escrever o livro em tela. Para dar a dimensão dos motivos que o levaram a escrever a obra em apreço, passo a destacar o que o próprio jornalista escreveu na orelha do citado Livro. Ei-la, na íntegra, reproduzida abaixo:

“Não, disse Barbosa. “Lá dentro não.” Assim, com uma resposta seca, dita num tom que não dava margem a contestação, o goleiro da Seleção Brasileira de 1950 recusou o convite que eu lhe fizera: que tal se ele posasse para o nosso cinegrafista, lá dentro, no gramado do Maracanã?

“Não, lá dentro não.” A entrevista, feita para um telejornal de fim de noite, o Jornal da Globo, terminaria gravada numa sala acanhada do parque aquático do Maracanã, àquela hora povoado por crianças que nem sonhavam que aquele homem um dia foi um dos jogadores mais populares da Seleção brasileira de futebol.

Barbosa era capaz de contar, diante de um microfone, segredos sobre a Copa de 50, mas, por favor, “lá dentro, não”.  Teve de carregar sobre os ombros, até a morte, o peso da maldição do gol de Ghiggia. Tantas vezes condenado por um crime que não cometeu, o maior  anti-herói de 50 morreu aos 79 anos de idade, no fim da noite de sexta-feira, num quarto da santa casa de Misericórdia, em São Paulo.

A recusa de Barbosa em pisar a grama do Maracanã tantos anos depois da tragédia de 50 me impressionou. Aquela frase, “não, lá dentro não”, resume um trauma que parece resistir á passagem dos dias, meses, anos, décadas, desde julho de 1950.

Quando saí do Maracanã depois da gravação da entrevista, no já remoto ano de 1986, eu tinha decidido, intimamente, fazer a investigação que se transforma, agora, nesse Dossiê. Que maldição seria aquela?

Dossiê tenta contar a história de 50 na visão de quem suou a camisa dentro de campo, até o último minuto, em busca da impossível vitória.

“Não, lá dentro não”, por favor, não naquele vestiário, não naquela arquibancada, não naquele gramado. Porque foi ali que Ghiggia pegou a bola na intermediária para a arrancada fatal rumo à grande área brasileira. 16 de julho de 1950. Uruguai 2, Brasil 1.

Quem viu – e quem não viu – não se esquece.

GENETON MORAES NETO

As razões dadas por Geneton Moraes Neto para escrever o Dossiê  50 falam por si mesmas. São, por si sós, bastantes. Ponto final.

3.4.13  O DESABAFO DO TÉCNICO E DOS JOGADORES BRASILEIROS

Não dar para reproduzir neste espaço o que cada um dos 11 titulares que estiveram em campo naquela fatídica decisão afirmou nas respectivas entrevistas concedidas a Geneton Moraes Neto, até porque teríamos que reproduzir o livro inteiro, o que não seria razoável. Todavia, retrata-se abaixo o pensamento (fala, frases, desabafo), de cada um dos jogadores, que resumem justamente o que cada um deles sentiu com aquela derrota que os marcou para o resto de suas vidas.

1) BARBOSA (goleiro)

“No Brasil, a pena maior por um crime é de 30 anos. Há 43 pago por um crime que não cometi.”

“Gigghia, o Papa e o Frank Sinatra calaram o Maracanã. Eu também calei”

2) AUGUSTO (1) (defensor: zagueiro direito)

“Eu seria o primeiro brasileiro a levantar a taça. Mas tudo é sonho.”

Nota: (1) Augusto foi o capitão da Seleção Brasileira na Copa de 1950

3) DANILO (meio de campo: centromédio, médio central)

“Parecia o presidente da República descendo de carro, vaiado. Mas era eu chegando em casa depois da derrota.”

4) JUVENAL (defensor: zagueiro esquerdo)

“Não é possível que o Brasil não tenha feito o gol de empate.”

5) BAUER (meio de campo: médio direito)

“Vim para ser campeão. Voltei para São Paulo no chão do trem.”

6) BIGODE (meio de campo: médio esquerdo)

“O que fizeram comigo foi uma covardia, uma injustiça. Não levei tapa do capitão do Uruguai.”

7) FRIAÇA (atacante: ponta-direita)

“Fiz 1 x 0 na final da Copa. Ali nós já éramos deuses.”

8) ZIZINHO (atacante: meia, meia-direita)

“Meu sonho era assim: a gente ainda iria jogar contra o Uruguai. Aquilo que aconteceu era mentira.”

9) ADEMIR (atacante: centroavante)

“Um menino queria me ver no hospital. Passei a noite pensando: eu sou um santo? Eu sou Deus?

10) JAIR (atacante: meia, meia-esquerda)

“Você sai de campo, atravessa o túnel, chega ao vestiário, tira a roupa e começa a chorar.”

11) CHICO (atacante: ponta-esquerda)

“Tive um pressentimento estranho. Quando o Brasil entrou em campo a derrota já estava escrita”.

12) FLÁVIO COSTA (Técnico da Seleção Brasileira)

“Nem o General Solano López teve de explicar tanto a derrota para o Brasil na Guerra do Paraguai.”

Nota: Para discriminar as posições dos jogadores levou-se em conta que àquela época o sistema tático utilizado era o 2-3-5 (Pirâmide ou Cone) com 2 defensores (zagueiros), 3 jogadores no meio de campo e 5 atacantes. Isso não desmente a afirmação anterior de que o Brasil tenha variado durante a Copa  o sistema tático para o W-M ou para a Diagonal, esquema tático que Flávio Costa costumava lançar mão no Vasco da Gama.

3.4.14 – CURIOSIDADES SOBRE A COPA DE 1950

3.4.14.1 – Uniforme branco – a Copa de 1950 foi a última em que o Brasil jogou de uniforme branco. Considerando-se que o referido uniforme era o símbolo do azar, a partir da Copa de 1954 (Suíça), a Seleção Brasileira passou a usar o uniforme amarelo;

3.4.14.2 – Pênaltis – durante a Copa de 1950 os juízes assinalaram apenas 3 pênaltis, todos convertidos;

3.4.14.3 – Cartões (Fair Play) – nenhum jogador foi expulso nas 22 partidas realizadas na Copa de 1950;

3.4.14.4 – Capacidade oficial do Maracanã – oficialmente a capacidade do Maracanã foi divulgada para comportar 155.000 pessoas, porém, os dados não oficiais divulgados pela imprensa na época são de que no jogo decisivo estavam no estádio mais de 200.000 pessoas;

3.4.14.5 – Carbajal – o goleiro mexicano Carbajal (Antonio Carbajal) estreou em Copas do Mundo, na Copa de 1950, a 1ª de cinco participações (1950, 1954, 1958,1962 e 1966), um recorde, porém, com resultados sofríveis, com 26 gols sofridos e apenas uma vitória, contra a Tchecoslováquia na Copa do Chile (1962).

3.4.15 A SELEÇÃO MUNDIAL DA COPA DE 1950

Baseado em estudo de grupo técnico da FIFA, a Seleção Mundial da Copa de 1950 é escalada da seguinte maneira:

Goleiro: Maspoli (URU)

Defensores: Nilsson (SUE), Parra (ESP)

Linha Média: Bauer (BRA), Varela (URU) e Andrade (URU)

Atacantes: Zizinho (BRA), Ghiggia (URU), Schiaffino (URU), Jair (BRA) e Ademir (BRA)

O Melhor da Copa: Obdulio Varela (URU)

Obdulio Varela

(El Gran Capitán da Celeste Olímpica, eleito o melhor da Copa de 1950)

 

“O puto do Obdúlio não amarrava suas chuteiras com cadarços; com as veias” (Antonio Maria, lucutor, compositor e jornalista).

3.4.16 RESUMO DA COPA DE 1950

Campeão: Uruguai

Vice: Brasil

3º lugar: Suécia

4º lugar: Espanha

Seleções: 13

Jogos: 22

Gols: 88

Média de Gols: Gols/(nº Jogos) = (88/22) = 4,00

Público: 1.043.500

Média de público por jogo: 47.431

Melhor ataque: Brasil (22 gols)

Pior ataque: Bolívia (0 gol)

Melhor defesa: Inglaterra (2 gols)

Pior defesa: Suécia (17 gols)

Artilheiro da Copa: Ademir (Brasil), com 09 gols

 

Ademir (Ademir Marques de Menezes)

(Artilheiro da Copa de 1950, com 09 gols)

 

3.4.17 COLOCAÇÃO FINAL DAS SELEÇÕES NA COPA DE 1950

CLASSIFICAÇÃO

SELEÇÃO/PAÍS/NOME

01

Campeão/ã

Uruguai

02

Vice-campeã

Brasil

03

3º Lugar

Suécia

04

4º Lugar

Espanha

05

5º Lugar

Iugoslávia

06

6º Lugar

Suíça

07

7º Lugar

Itália

08

8º Lugar

Inglaterra

09

9º Lugar

Chile

10

10º Lugar

EUA

11

11º Lugar

Paraguai

12

12º Lugar

México

13

13º Lugar

Bolívia

Nota: A Copa de 1950 teve o mesmo nº de Seleções participantes (13).

3.4.18 CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE A COPA DE 1950

O Brasil passara no teste para organizar uma Copa do Mundo. No futebol, o resultado naturalmente não foi o que os brasileiros esperavam, pois perdemos o título quando se tinha tudo para sermos, pela primeira vez, campeões mundiais de futebol, naquela que foi a maior tragédia de futebol de todos os tempos. Tivemos, assim, que suportar a humilhação de ver a Celeste Olímpica, levantar a Taça Jules Rimet, em pleno Maracanã, no fatídico dia 16 de julho de 1950. Esse foi o legado – a derrota, a tragédia do Maracanã. Por outro lado, não se pode olvidar que outro legado também ficou como lição de toda essa tragédia. Que outro legado ou lição poderia ser tirada de tudo isso? A de que se o Brasil um dia pretendia ser campeão mundial de futebol teria que se organizar melhor, dentro e fora do campo. Dentro do campo,  estudando melhor os adversários, verificando qual o sistema tático que eles usavam, quais as características de cada jogador, dar atenção ao curriculum da seleção a ser enfrentada, enfim tomar várias cautelas no sentido de evitar uma nova tragédia como a que aconteceu na decisão da Copa de 1950. Fora de campo, criar as condições para que os jogadores tenham a tranquilidade necessária para desenvolver um bom futebol, não os expondo a penetras e ingerência política como as que ocorreram na véspera do Mundial em 1950. A lição ainda não seria aprendida na devida forma quando a Seleção Brasileira   foi disputar a Copa de 1954 (Suíça), pois os jogadores não tiveram o equilíbrio emocional necessário para enfrentar a poderosa Seleção da Hungria. Teríamos que esperar mais oito anos até 1958 (Suécia), quando reunidas todas essas condições ou aprendidas todas as lições decorrentes das derrotas anteriores ganharíamos pela primeira vez o título mundial.

3.4.19 BIBLIOGRAFIA

1.         Murray, Bill. Uma história do futebol. Tradução Carlos Zslak. 1ª ed. São Paulo, Hedra, 2000.

2.         Placar Especial – A Saga da Jules Rimet: a história das copas de 1930 a 1970, por Max Gehringer. Fascículo 3/1938 (França). Editora Abril, São Paulo, 2006.

3.         Todos os jogos do Brasil/Ivan Soter…[et al.]- São Paulo: Ed. Abril, 2006. (*)

4.         Gehringer, Max. Almanaque dos mundiais por Max Gehringer: os mais curiosos casos e histórias de 1930 a 2006 – São Paulo: Ed Globo, 2010.

5.         Almanaque Abril/2012, Ed. Abril, ano 38, São Paulo, 2012.

6.         Dossiê Placar História das Copas1930 a 2006: 1930 –1934 – 1938-1950 – Uruguai, Itália, França e Brasil/Abril Coleções. – São Paulo: Abril, 2010. 48 p.; 12 x 18 cm. + DVD. – (Coleção Copa do Mundo Fifa 1930-2006; v. 4).

7.         Vicentino, Cláudio. História para o ensino médio: história geral e do Brasil: volume único/Cláudio Vicentino, Gianpaolo Dorigo. – São Paulo: Scipione, 2001.- (Série Parâmetros).

8.         Enciclopédia do Futebol Brasileiro, supervisão editorial Marcelo Duarte, edição Danilo Valentini e Alex Borba (arte), v. 2 – Arte Editorial, Rio de Janeiro,  2001.

9. Galeano, Eduardo. Futebol ao sol e à sombra. Tradução de Eric Nepomuceno e Maria do Carmo Brito, 3 ed. Porto Alegre, L&PM, 2004.

10. Heizer, Teixeira. O Jogo Bruto das Copas do Mundo. Rio de Janeiro. Ed. Mauad, 1997. Edição atualizada, 2001.

11.Muylaert, Roberto. Barbosa: um gol silencia o Brasil. 2ª ed. São Paulo, Bússola, 2013.

12. Neto, Geneton Moraes. Dossiê 50: os onze jogadores revelam os segredos da maior tragédia do futebol brasileiro. Ed. Objetiva. Rio de Janeiro, 2000.

13. Filho, Mário. O Negro no futebol brasileiro. 4ª ed. Rio de Janeiro: Mauad, 2003.

14. Rodrigues, Nelson. O poeta tricolor: cem anos de Fluminense. São Paulo, Cia das Letras, 2002.

15. Ghilerme, Paulo. Goleiros: heróis e anti-heróis da camisa 1. São Paulo: Alameda, 2006.

(*) Os outros autores desta obra são: André Fontenelle, Mario Levi Schwartz, Dennis Woods e Valmir Storti.

 

 

Deixe um comentário